|
Texto Anterior | Índice
NO AR
"Não é possível"
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Foi constrangedor. O presidente falou -e a Globo
reproduziu à tarde:
- Se tiver acordo, será apenas
em dezembro. Não é agora. Até
porque eu preciso chegar para
ver quais são as propostas técnicas. Não é possível ter acordo
com o presidente da República
em Moçambique.
Vem o início da noite e a tão
manjada entrevista coletiva da
equipe econômica, definitivamente acrescida da equipe do
FMI, anuncia o acordo.
A primeira pergunta que o ministro da Fazenda ouviu foi
uma transcrição da declaração
de Lula. E aí?
Não, respondeu Antonio Palocci ao vivo nos canais de notícias, o acordo está apenas sendo
proposto, o Fundo ainda vai decidir se aceita depois.
Mas foi proposto, para seguir
com Lula, sem o presidente "ver
quais são as propostas técnicas".
Com "o presidente da República
em Moçambique".
Palocci acrescentou que falou
com Lula. A enviada do FMI
acrescentou que falou com o vice-presidente José Alencar, com
o ministro José Dirceu, com
Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central.
Provavelmente até enviaram
um e-mail ou fax para Lula, lá
em Moçambique, com as "propostas técnicas".
Mas não ficou nada bem. Foi
como se estivessem decidindo
sem Lula saber direito. Como se
alguns não-eleitos estivessem no
poder, não o eleito.
O constrangimento não se restringiu à frase de Lula. Palocci
achou por bem sublinhar o respeito do FMI "à autonomia da
equipe econômica".
Meirelles achou por bem sublinhar que o acordo permite
alongar o pagamento dos juros,
para que o Brasil "possa sair dos
acordos com o Fundo de uma
forma confortável".
Definitivamente, o acordo
com o FMI não é "confortável"
para o governo Lula.
Frase do tucano Arthur Virgílio, porta-voz da oposição, reclamando da "ditadura" que Lula
deixou para trás, ao sair em turnê pela África:
- Lula viaja, Dirceu governa
e Palocci manda.
É a sensação.
Virgílio é a oposição porque
FHC fala pouco e é genérico, Geraldo Alckmin tem problemas
em São Paulo e Aécio Neves só
quer saber de Minas -e porque
José Serra sumiu.
Ontem o ex-presidenciável até
falou, segundo a CBN. Mas, enquanto o país estava às voltas
com o FMI, Serra apontou para
a necessidade de elevar a cotação do dólar. É como se estivesse
em Moçambique.
Texto Anterior: Ceará: Vereador sofre atentado a tiros após denúncias Índice
|