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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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NO AR

"Não é possível"

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Foi constrangedor. O presidente falou -e a Globo reproduziu à tarde:
- Se tiver acordo, será apenas em dezembro. Não é agora. Até porque eu preciso chegar para ver quais são as propostas técnicas. Não é possível ter acordo com o presidente da República em Moçambique.
Vem o início da noite e a tão manjada entrevista coletiva da equipe econômica, definitivamente acrescida da equipe do FMI, anuncia o acordo.
A primeira pergunta que o ministro da Fazenda ouviu foi uma transcrição da declaração de Lula. E aí?
Não, respondeu Antonio Palocci ao vivo nos canais de notícias, o acordo está apenas sendo proposto, o Fundo ainda vai decidir se aceita depois.
Mas foi proposto, para seguir com Lula, sem o presidente "ver quais são as propostas técnicas". Com "o presidente da República em Moçambique".
Palocci acrescentou que falou com Lula. A enviada do FMI acrescentou que falou com o vice-presidente José Alencar, com o ministro José Dirceu, com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Provavelmente até enviaram um e-mail ou fax para Lula, lá em Moçambique, com as "propostas técnicas".
Mas não ficou nada bem. Foi como se estivessem decidindo sem Lula saber direito. Como se alguns não-eleitos estivessem no poder, não o eleito.
 
O constrangimento não se restringiu à frase de Lula. Palocci achou por bem sublinhar o respeito do FMI "à autonomia da equipe econômica".
Meirelles achou por bem sublinhar que o acordo permite alongar o pagamento dos juros, para que o Brasil "possa sair dos acordos com o Fundo de uma forma confortável".
Definitivamente, o acordo com o FMI não é "confortável" para o governo Lula.
 
Frase do tucano Arthur Virgílio, porta-voz da oposição, reclamando da "ditadura" que Lula deixou para trás, ao sair em turnê pela África:
- Lula viaja, Dirceu governa e Palocci manda.
É a sensação.
 
Virgílio é a oposição porque FHC fala pouco e é genérico, Geraldo Alckmin tem problemas em São Paulo e Aécio Neves só quer saber de Minas -e porque José Serra sumiu.
Ontem o ex-presidenciável até falou, segundo a CBN. Mas, enquanto o país estava às voltas com o FMI, Serra apontou para a necessidade de elevar a cotação do dólar. É como se estivesse em Moçambique.


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