São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005 |
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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO Presidentes da Previ, Petros e Funcef descartam ligação com escândalo do "mensalão" Fundos de pensão negam sofrer ingerência política
LEONARDO SOUZA Wagner Pinheiro: "A quebra do
sigilo amplo [bancário, fiscal e telefônico dos fundos de pensão a
pedido das CPIs], com base em
insinuações, me leva a entender
que não foi por razão técnica. O
motivo mais óbvio para todos é o
interesse político. A Petros nada
tem a temer e está à disposição da
CPI para o esclarecimento de todos os fatos que os parlamentares
julgarem pertinentes. A gente fica
surpreso quando se quebra o sigilo amplo de instituições baseados
em suposições genéricas". Sérgio Rosa: "Nossa visão é que
não existiu, até agora, nenhum fato determinado [que justificasse a
investigação dos três grandes fundos]. Nós apresentamos todas as
informações que nos foram solicitadas. De forma muito pesada, foram veiculadas suspeitas de que
haveria prejuízos em operações
com corretoras. Demonstramos
que essas operações foram absolutamente normais. Tudo que podíamos fazer para esclarecer, para
colaborar da melhor maneira
possível, nós fizemos. Guilherme Lacerda: "[A motivação] é política. Num primeiro
momento, eu admito que houvesse uma suspeita em relação aos
fundos de pensão. No entanto,
depois de todas as informações
dadas, todos os esclarecimentos
sendo feitos e, ainda assim, [as
CPIs] continuarem no mesmo
padrão, eu não vejo outra razão
que não política. Muitos levantaram as suspeitas de que o aconteceu no passado continuaria acontecendo até agora. Nós temos indícios fortes de que foram feitos
maus negócios no passado, o que
não se repetiu na nossa gestão". Pinheiro: "Não é verdade que a
gente viesse tendo uma gestão
adequada dos nossos recursos.
Dou dois exemplos, o primeiro no
campo operacional. O gestor [Opportunity] criou o consórcio Voa,
que são três aeronaves. Apesar de
a Brasil Telecom ter 67% do consórcio, os executivos da empresa
nunca usaram essas aeronaves. A
empresa gasta milhões por ano
com a manutenção desse consórcio, no qual o Opportunity tem
apenas 3% e faz uso dessas aeronaves do jeito que bem entende. Rosa: "Primeiro, não existia essa
percepção de alta rentabilidade
da gestão [Opportunity]. Nunca
recebemos dividendos das empresas nem a valorização delas foi
tão expressiva assim quanto eles
dizem. Além disso, nosso posicionamento foi olhar o nosso investimento, que estava desprotegido e
visivelmente sem valor de venda". Lacerda: "Não há um indicador
que diga que a gestão foi boa, não
há nada que prove isso. Os investidores [entre os quais, as fundações] entraram com a segurança
de que iriam atuar e não atuaram,
com a garantia de que poderiam
sair conjuntamente e não saíram.
Ao longo do processo, ocorreram
várias decisões de investimento
em que os investidores não foram
consultados. Por que é bom? Pode
ter sido bom para o gestor, para o
investidor não foi bom. Pinheiro: "Na nossa gestão, não
recebemos quaisquer pedidos,
solicitações e muito menos imposições para que fizéssemos investimentos em qualquer setor". Rosa: "O governo sempre entendeu essa separação do papel dos
fundos de pensão, que precisam
ter uma autonomia de gestão [...].
Estivemos com o ex-ministro Miro Teixeira duas vezes para esclarecê-lo e tranqüilizá-lo de que o
objetivo sempre foi proteger o investimento e seguir as regras de
legislação. Em nenhum momento
solicitamos intervenção". Lacerda: "De 2003 para cá, não
houve [interferência do governo].
Estamos criando, organizando
fundos de investimento para setores específicos, como infra-estrutura, energia. Procuramos o governo para debater esses temas". Pinheiro: "Passamos a administração de investimentos em renda
variável [Bolsa de Valores] para o
banco Opportunity em 1998, o
que nos deu prejuízos que até hoje
não conseguimos recuperar". Rosa: "Tivemos, no passado, investimentos que deram prejuízo.
Alguns deles foram feitos sem
uma análise técnica mais consistente, mas não podemos identificar nenhum terceiro que tenha se
beneficiado disso. Havia fragilidade nos estudos técnicos, mas não
podemos dizer que isso foi em benefício de qualquer outra pessoa
física ou jurídica. No caso do Magic Park [no interior de São Paulo], investimos cerca de R$ 40 milhões. A perda foi quase total. Lacerda: "Estou lendo "Anjos e
Demônios" [do escritor Dan
Brown]. Nós herdamos aqui uma
"cova do demônio" em termos de
esqueletos. É muito esqueleto. Somos um dos fundos que mais têm
esqueletos. Temos mais de 30
operações com processos na
CVM [Comissão de Valores Mobiliários], na Polícia Federal, no
Ministério Público". |
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