São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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JANIO DE FREITAS

O poder do grupo

Tão ou mais importante que a constatação do sinuoso percurso de verbas Banco do Brasil-Visanet-Valério-PT-embolsadores, o recente relatório da Controladoria Geral da União sobre licitações nos Correios vai muito além do seu tema. As comprovações que relata trazem de volta ao centro da crise a já esquecida Secretaria de Comunicação e o seu ex-ministro Luiz Gushiken, com o inevitável comprometimento da Presidência da República na origem e no abastecimento do sistema movido por Valério e Delúbio.
O assunto não é inédito aqui, nem ficou só no que foi publicado. Por trás do noticiário e dos comentários de cada dia, há todo um universo de fatos, próprios da vida jornalística, que não chegam ao leitor. Exemplo desse lado do avesso foram as iniciativas de Luiz Gushiken para contestar, em contato comigo, as observações aqui feitas sobre a licitação de que a SMPB foi vencedora nos Correios. Uma, preliminar, de que a licitação foi irregular. A outra, de que a Secom interferiu no resultado da licitação, ao alterar exigências técnicas que impediam a empresa de Marcos Valério. Secos mas educados, os contatos diretos e indiretos de Gushiken foram devidamente registrados. Inconvincentes, no entanto.
A auditoria agora relatada pela Controladoria Geral da União confirmou as irregularidades da licitação e, como parte delas, a interferência da Secom que beneficiou a SMPB de Valério. A CGU compensa a incompetência desmoralizante do plenário da CPI dos Correios no interrogatório de Luiz Gushiken.
O relatório da CGU ocupa-se dos Correios. Mas ainda há, pendentes de auditoria, as relações da arbitrária Secom com várias outras estatais e, claro, com o Banco do Brasil-Visanet. E não são menos merecedoras de auditoria as verbas "de propaganda" da Presidência da República.
A comprovação auditada de que a Secom favoreceu a SMPB em licitação oficial, que não poderia ganhar, é uma evidência objetiva -e procedente do próprio governo- de que Marcos Valério e Delúbio Soares não montaram esquema algum. Nenhum dos dois teria autoridade para alterar regulamentos licitatórios e orientar altas verbas. O que houve foi uma estratégia de grupo -e a esquecida Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi um dos seus instrumentos.


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