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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ ALIANÇA DE PODERES
Magistrados enxergam "casuísmo" em texto que permite a Carlos Velloso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ficar no cargo
Projeto evita mudança no TSE em 2006
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fruto de "acordão" entre governo e oposição, tramita discretamente e de forma rápida no Congresso projeto que poderá ampliar as boas relações do governo
Lula com os tribunais superiores
em 2006, ano eleitoral, ou até
2010, na hipótese de reeleição.
Para atender a pleito do STF
(Supremo Tribunal Federal), o
Senado alterou uma Proposta de
Emenda à Constituição do senador Pedro Simon (PMDB-RS) e
aprovou o projeto de ampliação
imediata da idade de aposentadoria compulsória nos tribunais superiores: de 70 para 75 anos.
Numa exceção considerada "casuísta" por entidades de magistrados e do Ministério Público, esses juízes -ao contrário dos demais servidores públicos- não
aguardariam a regulamentação
da norma por lei complementar.
"Não foi esse o projeto que eu
propus", diz Simon, que não votou por sua aprovação nos dois
turnos. Desconfia-se que a proposta do senador gaúcho foi usada -num amplo entendimento
suprapartidário- para garantir a
permanência de ministros mais
simpáticos ao governo Lula.
A proposta já foi aprovada na
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, por
unanimidade e sem a realização
de debates. Se o projeto passar na
Câmara neste ano, o ministro
Carlos Velloso, presidente do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) não
precisará deixar o cargo em janeiro, quando completará 70 anos.
Segundo avaliações que circulam no Judiciário, a continuidade
de Velloso, mineiro de perfil conciliador, impediria que as eleições
de 2006 fossem presididas pelo
ministro Marco Aurélio, carioca
de estilo imprevisível (o ministro
Gilmar Mendes deverá optar pela
vice-presidência do STF).
"Eu estou ignorando essa discussão", diz Velloso, por meio de
sua assessoria. Se a proposta passar, ele permanecerá à frente do
TSE. Mas diz que estuda convite
para lecionar nos Estados Unidos.
Rodrigo Collaço, presidente da
AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), diz que a hipótese levantada é "desrespeito ao ministro Velloso, pois nada indica
que será complacente com quem
quer que seja, e ao ministro Marco Aurélio, que já demonstrou ter
condições de exercer qualquer
função na magistratura".
"Mas causa perplexidade haver
algum segmento político querendo escolher juízes ou com medo
do Judiciário", afirma Collaço.
A defesa do projeto no Congresso coube ao presidente do STF,
ministro Nelson Jobim, criticado
na base do Judiciário pela atividade política e pretensões eleitorais
que não confirma nem desmente.
Jobim negou que a medida vá
"engessar" a carreira do Judiciário ou impedir a "oxigenação"
dos tribunais superiores (juízes
com expectativa de promoção
aguardarão cinco anos para a
abertura de vagas). Jobim vê "modernidade" no projeto e diz que o
mais importante é "o interesse do
serviço público".
"A Associação dos Juízes para a
Democracia sempre se opôs ao
aumento da idade da aposentadoria compulsória, porque isso significa manter por mais anos a
mesma concentração de poder",
diz Marcelo Semer, presidente da
entidade. Para Semer, essa discussão "sempre esteve eivada por interesses políticos e partidários".
Ao notar que o projeto beneficiaria apenas os ministros do Supremo, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Edson
Vidigal, fez um périplo no Congresso e conseguiu estender os
efeitos aos outros tribunais superiores. Aprovado o projeto, Vidigal poderá permanecer no STJ
durante 37 anos, desde a posse.
O projeto dormia no Senado
desde 2003. O governo não teria
permitido sua tramitação antes de
Lula nomear quatro ministros do
STF: Cezar Peluso, Carlos Britto,
Joaquim Barbosa e Eros Grau.
O senador Simon pretendia
contemplar apenas casos especiais, inspirado no exemplo do ex-ministro da Justiça Paulo Brossard, que, "no auge da sua capacidade", não pôde ser presidente do
STF porque completara 70 anos.
A proposta foi relatada pelo senador José Jorge (PFL-PE) e acolheu
emendas dos pefelistas Antonio
Carlos Magalhães (BA) e Demóstenes Torres (GO). Para José Jorge, os ministros do STF, "pela natureza especialíssima de suas funções", não estão sujeitos ao tratamento dos servidores públicos.
Dúvidas sobre os motivos para
apressar a votação da PEC foram
levantadas em debate no Senado,
em maio. O senador Hélio Costa,
atual ministro das Comunicações,
perguntou a Jobim quantas vagas
seriam abertas no STF até 2010.
Sem nominar os ministros, Jobim
disse que haverá duas aposentadorias compulsórias em 2006
(Velloso e Sepúlveda Pertence) e
uma em 2010 (Eros Grau).
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