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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" / ANÁLISE
Para especialistas, "eu não sabia" funciona para envolvidos em crise
CRISTINA FIBE
DA REDAÇÃO
A tática de afirmar que "não sabiam" dos fatos envolvendo o episódio do "mensalão" provavelmente foi planejada com ajuda jurídica e potencialmente pode ajudar os implicados no escândalo,
segundo avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.
Desde que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) deu sua
primeira entrevista, há 153 dias,
relatando à Folha o pagamento de
uma mesada mensal a parlamentares da base aliada em troca de
apoio ao governo, a reação da
maior parte dos envolvidos foi
alegar não saber de nada. Por várias vezes, provas e depoimentos
derrubaram tais argumentos.
Esse expediente, segundo analistas, sempre foi usado no país
por parlamentares envolvidos em
escândalos. Continua em voga
porque se provou bem-sucedido.
"Até agora funcionou. Não que
o eleitor não tenha memória. A
imprensa é um banco de dados a
que recorremos para lembrar. A
reação do eleitor quando reelege
alguém envolvido em um caso de
falta de ética ou decoro é que ele
está dizendo: "eu acredito nesse
parlamentar". E eles voltam", diz a
pesquisadora do Núcleo de Estudos em Artes, Mídia e Política da
PUC-SP Vera Chaia.
O problema é que "essa cortina
de negação impede a apuração
das denúncias", afirma o filósofo
Roberto Romano, professor titular de ética e filosofia política na
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
Chaia acha que o parlamentar
sabe medir a resposta do eleitorado -e convencê-lo. "Claro que
há desgaste." Uma das táticas usadas para driblá-lo, diz, é tentar a
eleição para outro cargo.
"Dizer que não sabia te isenta.
Isso é uma loucura: se você não
sabe, não te isenta. Se um subalterno é responsável, é mais grave
se você não sabe. Mas, se diz isso,
ganha certa simpatia, se faz de
inocente. Evidente que é pensado
e instruído por advogados", afirma o psicanalista Ari Rehfeld, supervisor da clínica de psicologia e
professor da PUC-SP.
Para o psicanalista Niraldo de
Oliveira Santos, supervisor de ensino da Divisão de Psicologia do
Instituto Central do Hospital das
Clínicas, a reação é calculada juridicamente e desenhada no "ingresso na vida pública".
Romano cita "Massa e Poder",
de Elias Canetti (1960), para explicar a luta dos políticos para dar a
volta por cima. "O poderoso é o
sobrevivente. O famoso coleciona
aplausos, o rico, dinheiro. O poderoso coleciona vidas, junta pessoas. Com o uso do poder, ele vai
empurrando para a morte essas
pessoas. No fim do processo, o
poder é sobreviver o máximo que
um ser humano pode sobreviver.
Lula, cego e mudo, jogou o partido no caminho da morte. Se o PT
desaparece e ele continua, ótimo,
do ponto de vista político."
Para Romano, no caso das negativas por parte de parlamentares petistas, há um elemento agravante: "O PT tinha um quadro
branco, e qualquer mancha tem
um efeito tremendo. [...] O senso
comum percebe que é impossível
que existisse um partido em que
tenha ocorrido tanto erro sem
que ninguém soubesse".
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