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VÔO DA ÁGUIA
Sem acordo, texto final contempla posição do
Mercosul e da Venezuela, de um lado, e a dos Estados Unidos do outro
Documento expõe
divisão sobre a Alca
e fracasso da cúpula
CLÁUDIA DIANNI
MAELI PRADO
ENVIADAS ESPECIAIS A MAR DEL PLATA
A declaração final da 4ª Cúpula
das Américas, encerrada ontem
em Mar del Plata, na Argentina,
expõe a divisão do continente
com relação à Alca (Área de Livre
Comércio das Américas).
Como nenhuma das partes cedeu, nem o Mercosul, nem os Estados Unidos, o documento incluiu as duas posições divergentes. Mais de sete horas depois de a
maioria dos 33 presidentes já terem deixado o balneário, o chanceler argentino Rafael Bielsa
anunciou que todos os pontos da
cúpula foram consensuados, menos a Alca.
Segundo ele, se a Alca não for
formada nos moldes exigidos por
Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, a negociação estará morta.
"Se um processo de integração
econômica carece de eqüidade,
acesso a mercados e fim dos subsídios distorcivos, então efetivamente está morto", disse, ao responder a uma pergunta sobre a
diferença entre a posição do Mercosul e do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que vem afirmando que a Alca está morta.
Em uma demonstração de coesão pouco comum, os países do
Mercosul fincaram o pé e mantiveram a posição de resistência ao
modelo de integração defendido
pelos Estados Unidos.
Divisão
As posições do documento final
são as seguintes: os Estados Unidos, o Canadá e o México defendem a continuação das negociações para a formação da Alca como vinha ocorrendo até a paralisação das reuniões, em fevereiro
de 2004. A posição do Mercosul e
da Venezuela é a de que não há
condições atualmente para seguir
negociando, segundo disse Bielsa.
O chanceler afirmou que haverá
ainda uma terceira posição no documento, sugerida pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de
se criar um comitê de altos negociadores para continuar discutindo as divergências até que as posições sejam afinadas.
"A Alca não é um dogma ou
uma coisa religiosa que não pode
ser mencionada", disse Bielsa,
que considerou a cúpula um êxito, apesar das divergências.
Segundo ele, o documento final
terá mais de 60 sugestões para que
os países gerem emprego e combatam a pobreza, além de um plano de ação com metas.
Também foram acordados cinco anexos incitando soluções democráticas no Haiti, na Nicarágua, na Bolívia e na Colômbia, e
ao êxito das negociações multilaterais de comércio da Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio). "Se houver
avanços em Doha, vai facilitar a
negociação da Alca", afirmou.
Com as discussões focadas nas
diferentes posições políticas sobre
a Alca durante os dois dias de cúpula, pouco se falou na mídia sobre os 18 milhões de desempregados da América Latina e sobre
propostas para aumentar a baixa
participação dos pequenos negócios no comércio internacional ou
para reduzir a informalidade como forma de gerar postos de trabalho, conforme o plano inicial da
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva havia afirmado, em improvisada entrevista em Mar del Plata, que, quando foi convidado para a reunião da Cúpula das Américas, "havia três temas para discutirmos: emprego, emprego,
emprego. Não estava escrito em
lugar nenhum que o tema seria a
Alca".
Os países do Mercosul querem
avanços na discussão de subsídios
agrícolas na OMC antes de voltarem a discutir a Alca, o que entre
outros temas travou a discussão
da área de livre comércio em fevereiro de 2004. "Qualquer coisa
que nós fizermos agora, antes da
OMC, estaremos atropelando os
fatos e criando empecilhos para a
própria reunião da OMC", afirmou o presidente.
"Essa história de livre comércio
é muito importante se nós respeitarmos assimetrias entre os países, se nós levarmos em conta que
precisamos ajudar e ser generosos
com os países mais pobres."
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