São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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VÔO DA ÁGUIA

Sem acordo, texto final contempla posição do Mercosul e da Venezuela, de um lado, e a dos Estados Unidos do outro

Documento expõe divisão sobre a Alca e fracasso da cúpula

CLÁUDIA DIANNI
MAELI PRADO

ENVIADAS ESPECIAIS A MAR DEL PLATA

A declaração final da 4ª Cúpula das Américas, encerrada ontem em Mar del Plata, na Argentina, expõe a divisão do continente com relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Como nenhuma das partes cedeu, nem o Mercosul, nem os Estados Unidos, o documento incluiu as duas posições divergentes. Mais de sete horas depois de a maioria dos 33 presidentes já terem deixado o balneário, o chanceler argentino Rafael Bielsa anunciou que todos os pontos da cúpula foram consensuados, menos a Alca.
Segundo ele, se a Alca não for formada nos moldes exigidos por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, a negociação estará morta.
"Se um processo de integração econômica carece de eqüidade, acesso a mercados e fim dos subsídios distorcivos, então efetivamente está morto", disse, ao responder a uma pergunta sobre a diferença entre a posição do Mercosul e do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que vem afirmando que a Alca está morta.
Em uma demonstração de coesão pouco comum, os países do Mercosul fincaram o pé e mantiveram a posição de resistência ao modelo de integração defendido pelos Estados Unidos.

Divisão
As posições do documento final são as seguintes: os Estados Unidos, o Canadá e o México defendem a continuação das negociações para a formação da Alca como vinha ocorrendo até a paralisação das reuniões, em fevereiro de 2004. A posição do Mercosul e da Venezuela é a de que não há condições atualmente para seguir negociando, segundo disse Bielsa.
O chanceler afirmou que haverá ainda uma terceira posição no documento, sugerida pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de se criar um comitê de altos negociadores para continuar discutindo as divergências até que as posições sejam afinadas.
"A Alca não é um dogma ou uma coisa religiosa que não pode ser mencionada", disse Bielsa, que considerou a cúpula um êxito, apesar das divergências.
Segundo ele, o documento final terá mais de 60 sugestões para que os países gerem emprego e combatam a pobreza, além de um plano de ação com metas.
Também foram acordados cinco anexos incitando soluções democráticas no Haiti, na Nicarágua, na Bolívia e na Colômbia, e ao êxito das negociações multilaterais de comércio da Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio). "Se houver avanços em Doha, vai facilitar a negociação da Alca", afirmou.
Com as discussões focadas nas diferentes posições políticas sobre a Alca durante os dois dias de cúpula, pouco se falou na mídia sobre os 18 milhões de desempregados da América Latina e sobre propostas para aumentar a baixa participação dos pequenos negócios no comércio internacional ou para reduzir a informalidade como forma de gerar postos de trabalho, conforme o plano inicial da OEA (Organização dos Estados Americanos).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia afirmado, em improvisada entrevista em Mar del Plata, que, quando foi convidado para a reunião da Cúpula das Américas, "havia três temas para discutirmos: emprego, emprego, emprego. Não estava escrito em lugar nenhum que o tema seria a Alca".
Os países do Mercosul querem avanços na discussão de subsídios agrícolas na OMC antes de voltarem a discutir a Alca, o que entre outros temas travou a discussão da área de livre comércio em fevereiro de 2004. "Qualquer coisa que nós fizermos agora, antes da OMC, estaremos atropelando os fatos e criando empecilhos para a própria reunião da OMC", afirmou o presidente.
"Essa história de livre comércio é muito importante se nós respeitarmos assimetrias entre os países, se nós levarmos em conta que precisamos ajudar e ser generosos com os países mais pobres."


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