|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
A hora de Lula
Todo governo vive pelo
menos uma encruzilhada
-afirmação cuja obviedade histórica dispensa a citação de
exemplos. Mas poucos as enfrentam, por falta de determinação
ou por nem identificar seu momento decisivo, entre um e outro
futuro possível.
A presidência de Lula está na
sua hora crucial. A crise monitorada pela imprensa e pelas CPIs
atingiu-o, no prestígio e na capacidade de reação, e atingiu o governo, que teve de perder partes
relevantes como José Dirceu e
Luiz Gushiken. Além do seu próprio desgaste, Lula ficou desarmado dos seus roteiristas.
A desarticulação do universo
político do governo, iniciada ainda antes das denúncias que desvendaram suas entranhas, é absoluta. Atingido o esquema palaciano e imobilizado o próprio Lula pela perplexidade diante da
avalanche, ao dispositivo político
caberiam as ações táticas para
preservar algum equilíbrio entre
a Presidência e o governo, de um
lado, e os fatos e as forças que o
antagonizam. O dispositivo esfrangalhou-se no Congresso e,
fora, o que certamente poderia
constituí-lo -CUT, MST e outros
movimentos- foi posto e mantido em estado catatônico pelo ultraconservadorismo da política
econômica.
O encantamento com essa política econômica, nos segmentos
detentores de influência na opinião pública e em setores de poder, sofre rachaduras crescentes,
provocadas por sucessivos indicadores econômicos inquietantes,
sem prenúncio confiável, mais do
que palavroso, de que se invertam
na medida necessária. Pronunciamentos fortes são apenas um
sinal das preocupações que se disseminam no empresariado.
Se o ministro da Fazenda e o
presidente do Banco Central não
dão respostas convincentes a tais
temores e dúvidas, limitados ao
mesmismo otimista das tergiversações, a credibilidade de Antonio Palocci desinflou ainda mais
com o seu envolvimento em denúncias nas CPIs, às quais até
agora suas considerações mostraram apenas cautela. Daí nem se
pode prever o que possa resultar,
porque há investigações não divulgadas.
Os fatores negativos fecham o
círculo. Lula não demonstra ter
resposta para nenhum deles, muito menos para o todo. Mantém-se
nos seus discursos de autolouvações e promessas que os fatos, nos
três anos de governo, tornaram
ineficazes. Há sinais de que está
inquieto, irritado, inseguro das
suas e das perspectivas do governo. Mas nada disso indica a percepção de estar em um daqueles
momentos cruciais, que decidem
o destino de um presidente ou de
um governo. A depender só das
decisões que ele, e só ele, tome em
um sentido ou em outro. Ou deixe
de tomar.
Perceba ou não, é nesta hora
crucial que Lula está.
Texto Anterior: Alencar isenta Coteminas e diz que explicação cabe ao PT Próximo Texto: Contabilidade paralela: Para Thomaz Bastos, depósito é "anormal" Índice
|