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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTABILIDADE PARALELA
Objetivo é investigar depósito de R$ 1 mi; CPI também vai pedir quebra de sigilo da operação
PF vai ao STF para acessar contas de PT e Coteminas
ANDRÉA MICHAEL
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal pedirá ao STF
(Supremo Tribunal Federal) autorização para acessar a contabilidade do PT e da Coteminas, para
investigar o depósito de R$ 1 milhão feito pelo partido à empresa,
do vice-presidente José Alencar,
no dia 17 de maio deste ano.
A CPI dos Correios também
pretende quebrar o sigilo da operação bancária. Para integrantes
da comissão, o dinheiro saiu do
caixa dois do partido.
Segundo o relator da CPI dos
Correios, Osmar Serraglio
(PMDB-PR), a revelação sobre o
depósito fará com que a comissão
"amplie a investigação".
Conforme a Folha publicou no
último domingo, em 10 de agosto
passado o Bradesco informou ao
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras) a operação de crédito, feita em dinheiro e
que tinha como responsável um
dos CNPJs (Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica) usados pelo PT.
O partido tem uma dívida de
cerca de R$ 12 milhões com a Coteminas, que forneceu 2,75 milhões de camisetas para utilização
na campanha eleitoral de 2004.
No que diz respeito à contabilidade do partido, o acesso da PF
será amplo. Quanto à empresa,
será inicialmente restrito à operação e a outras que eventualmente
tenham sido registradas pelo Coaf
ou sejam reveladas em depoimento por Josué Gomes da Silva,
filho de Alencar e presidente da
Coteminas, a quem a PF deve intimar para prestar depoimento.
A polícia encaminhou ontem ao
Coaf ofício no qual pede cópia do
relatório que registra a operação.
CPI dos Correios
O deputado Eduardo Paes
(PSDB-RJ), relator-adjunto da comissão, pediu ao Coaf o envio de
relatórios em que o PT aparece,
para identificar possíveis operações bancárias irregulares.
O relator da CPI dos Correios
disse ontem que cobrará do Coaf
explicações sobre o fato de a comissão não ter sido informada sobre o depósito. A CPI soube da
operação pela imprensa. O Coaf
informou à comissão que o Bradesco comunicou a operação ao
conselho no dia 5 de agosto.
Cinco dias depois de ter recebido a informação, o Coaf decidiu
remeter relatório ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Dois meses depois,
em outubro, o procurador enviou
o documento à Procuradoria da
República em Minas Gerais.
A assessoria da Procuradoria
Geral da República informou que
há um procedimento em andamento naquele Estado relacionado ao assunto, mas não revelou
nenhum dado adicional, sob alegação de que corre "sob sigilo".
Segundo a assessoria, o procurador-geral resolveu enviar o documento a Minas Gerais, e não à
CPI, porque o Coaf havia indagado se o depósito à Coteminas representava infração penal.
"Isso [o depósito para a Coteminas] parece um caixa três. Não está na contabilidade oficial do PT,
não está na do Marcos Valério [de
Souza], nem há registro nas contas do partido", disse o sub-relator de movimentação financeira,
Gustavo Fruet (PSDB-PR).
O líder do governo na Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou minimizar o episódio. "Em
primeiro lugar, tem que investigar para depois avaliar os fatos.
Pelo que sei, o próprio Coaf não
tem informações sobre a movimentação. A atual direção do PT
disse que não tem nada registrado", disse o petista. Principal integrante do PT na CPI, a senadora
Ideli Salvatti (SC), não quis comentar a denúncia.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vai sugerir à CPI que encaminhe representação à Justiça Eleitoral pedindo investigação.
"Além do "valerioduto", o PT provavelmente utilizou outras fontes
de financiamento", afirmou.
Fruet vai sugerir que, além de
encaminhar o parecer final para o
Ministério Público e a Polícia Federal, a CPI também remeta o documento para a Justiça Eleitoral.
Correligionário de Alencar, o
senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) defendeu ontem a Coteminas
na tribuna da Casa. "A empresa
precisa receber e, para quem deve
há tanto tempo, R$ 1 milhão é
mais do que bem-vindo. Na época
não se sabia do caixa dois do PT."
Colaboraram LEONARDO SOUZA, RUBENS VALENTE e ADRIANO CEOLIN, da
Sucursal de Brasília
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