São Paulo, terça-feira, 06 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTABILIDADE PARALELA

Objetivo é investigar depósito de R$ 1 mi; CPI também vai pedir quebra de sigilo da operação

PF vai ao STF para acessar contas de PT e Coteminas

ANDRÉA MICHAEL
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal pedirá ao STF (Supremo Tribunal Federal) autorização para acessar a contabilidade do PT e da Coteminas, para investigar o depósito de R$ 1 milhão feito pelo partido à empresa, do vice-presidente José Alencar, no dia 17 de maio deste ano.
A CPI dos Correios também pretende quebrar o sigilo da operação bancária. Para integrantes da comissão, o dinheiro saiu do caixa dois do partido.
Segundo o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), a revelação sobre o depósito fará com que a comissão "amplie a investigação".
Conforme a Folha publicou no último domingo, em 10 de agosto passado o Bradesco informou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a operação de crédito, feita em dinheiro e que tinha como responsável um dos CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) usados pelo PT.
O partido tem uma dívida de cerca de R$ 12 milhões com a Coteminas, que forneceu 2,75 milhões de camisetas para utilização na campanha eleitoral de 2004.
No que diz respeito à contabilidade do partido, o acesso da PF será amplo. Quanto à empresa, será inicialmente restrito à operação e a outras que eventualmente tenham sido registradas pelo Coaf ou sejam reveladas em depoimento por Josué Gomes da Silva, filho de Alencar e presidente da Coteminas, a quem a PF deve intimar para prestar depoimento.
A polícia encaminhou ontem ao Coaf ofício no qual pede cópia do relatório que registra a operação.

CPI dos Correios
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), relator-adjunto da comissão, pediu ao Coaf o envio de relatórios em que o PT aparece, para identificar possíveis operações bancárias irregulares.
O relator da CPI dos Correios disse ontem que cobrará do Coaf explicações sobre o fato de a comissão não ter sido informada sobre o depósito. A CPI soube da operação pela imprensa. O Coaf informou à comissão que o Bradesco comunicou a operação ao conselho no dia 5 de agosto.
Cinco dias depois de ter recebido a informação, o Coaf decidiu remeter relatório ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Dois meses depois, em outubro, o procurador enviou o documento à Procuradoria da República em Minas Gerais.
A assessoria da Procuradoria Geral da República informou que há um procedimento em andamento naquele Estado relacionado ao assunto, mas não revelou nenhum dado adicional, sob alegação de que corre "sob sigilo".
Segundo a assessoria, o procurador-geral resolveu enviar o documento a Minas Gerais, e não à CPI, porque o Coaf havia indagado se o depósito à Coteminas representava infração penal.
"Isso [o depósito para a Coteminas] parece um caixa três. Não está na contabilidade oficial do PT, não está na do Marcos Valério [de Souza], nem há registro nas contas do partido", disse o sub-relator de movimentação financeira, Gustavo Fruet (PSDB-PR).
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou minimizar o episódio. "Em primeiro lugar, tem que investigar para depois avaliar os fatos. Pelo que sei, o próprio Coaf não tem informações sobre a movimentação. A atual direção do PT disse que não tem nada registrado", disse o petista. Principal integrante do PT na CPI, a senadora Ideli Salvatti (SC), não quis comentar a denúncia.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vai sugerir à CPI que encaminhe representação à Justiça Eleitoral pedindo investigação. "Além do "valerioduto", o PT provavelmente utilizou outras fontes de financiamento", afirmou.
Fruet vai sugerir que, além de encaminhar o parecer final para o Ministério Público e a Polícia Federal, a CPI também remeta o documento para a Justiça Eleitoral.
Correligionário de Alencar, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) defendeu ontem a Coteminas na tribuna da Casa. "A empresa precisa receber e, para quem deve há tanto tempo, R$ 1 milhão é mais do que bem-vindo. Na época não se sabia do caixa dois do PT."


Colaboraram LEONARDO SOUZA, RUBENS VALENTE e ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília


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