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JUDICIÁRIO
Márcio Thomaz Bastos diz que Congresso está com "boa vontade" para aprovar mudanças até meados do ano que vem
Reforma processual sai em 2006, diz ministro
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, acredita que o
Congresso aprovará até meados
de 2006 os projetos para simplificação do processo civil, penal e
trabalhista, para agilizar o Poder
Judiciário e dar maior segurança
nos negócios e na economia.
Trata-se da "reforma infraconstitucional", que concretizará a reforma do Judiciário, iniciada em
2004. "Há boa vontade do Congresso Nacional", disse Thomaz
Bastos, em palestra na Faculdade
de Economia, Administração e
Contabilidade da USP (FEA) sobre os "Impactos Econômicos da
Reforma do Judiciário". Ele afirma não temer esvaziamento do
Conselho Nacional de Justiça,
com a resistência dos tribunais.
"Uma reforma microeconômica para desenvolver o ambiente
de negócios no país exige o aprimoramento do sistema Judicial",
diz Thomaz Bastos, citando que,
para 91% dos empresários brasileiros, o Judiciário é ruim ou péssimo no que tange à agilidade.
O ministro analisou os custos da
morosidade da Justiça. O tempo
médio de tramitação de uma ação
até o Supremo Tribunal Federal é
de 70 meses. "É uma verdadeira
corrida de obstáculos, uma gincana", diz. Se o cidadão lesado desejar recorrer à Justiça para obter a
cobrança de um valor de R$ 50
mil, poderá sofrer uma perda de
70%. Como o valor da sentença
não sofre a mesma valorização do
rendimento do mercado, é vantajoso para o devedor estender os
processos, pois o sistema atual
permite interpor até 47 recursos.
Para Thomaz Bastos, "com essa
ineficiência e com o excesso de litígios, o Judiciário brasileiro não é
um poder barato". Sua manutenção exige dispêndio de 3,66% do
Orçamento, o custo mais alto entre 35 países analisados pelo Banco Mundial (0,87% no Chile e
0,38% no Japão, por exemplo).
"Há uma inquietação no Judiciário, principalmente entre juízes de primeira instância", diz
Thomaz Bastos. Eles atuam como
se fossem "meros despachantes",
pois boa parte dos processos vai
para instância superior.
Os projetos que terão efeitos na
fase de execução civil (quando o
patrimônio do devedor é transferido para o do credor) poderão
inibir os recursos protelatórios
(48% dos processos de execução
não vão além do pedido inicial: o
credor não dá continuidade ou a
Justiça não encontra o devedor).
Entre as mudanças, prevê-se a
junção do processo de conhecimento (quando o juiz diz quem
tem razão) com o de execução. Isso poderá agilizar a tramitação.
Nos casos em que o juiz já decidiu causas idênticas, ele poderá
julgar sem notificar o réu. Há projeto para citação única do devedor, no início da execução, e outro
fixando a exigência de pagamento
da dívida no início da execução.
Quando a sentença de um juiz
de primeiro grau estiver de acordo com o entendimento do Supremo e dos tribunais superiores,
haverá impedimento de recursos.
Com o fim do efeito suspensivo
das apelações, pretende-se inibir a
chamada "indústria das liminares", que paralisa os processos.
Thomaz Bastos prega "um choque de gestão num poder fechado
em si mesmo, um sistema de castas, aristocratizado: são muitas
Justiças, cada uma trabalhando
isoladamente, como se fosse uma
ilha". Ele diz não temer a resistência dos tribunais. "Nós temos,
dentro das instâncias superiores
do Poder Judiciário, muitos adeptos que compreendem o papel do
CNJ. Estamos tentando fazer a reforma constitucional, a infraconstitucional e a de gestão, juntos
com o Poder Judiciário e não contra o Judiciário", afirma.
O economista Ilan Godfajn, da
PUC-Rio, acha que a reforma do
sistema judiciário deverá melhorar o ambiente de negócios no
Brasil: "É essencial, para tornar o
crédito menos escasso e menos
caro". Ele cita a relação entre a taxa de juros e a capacidade de recuperar bens na Justiça. O crédito
para compra de veículos, com a
garantia do bem, tem taxas bem
menores do que o crédito pessoal.
Para o brasilianista Albert
Fishlow, da Universidade de Columbia, a reforma poderá estimular crescimento maior da economia, mas isso dependerá de outros fatores fundamentais, como
o aumento de investimentos e da
poupança doméstica, além da definição do novo papel do Estado,
com medidas que alcancem o Legislativo e o Executivo.
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