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JANIO DE FREITAS
Muito além do escândalo
Até onde irá a amoralidade no Senado e como acabará a deterioração institucional, não sei de quem saiba
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O PROBLEMA cresce: o Senado
transforma-se, com rapidez
espantosa, de instituição do
equilíbrio político e legislativo em
humilhação nacional. Ultrapassou o
nível de escândalo.
Quando a Câmara entrou em processo semelhante, provocado pelo
estouro do mensalão e pelas vigarices de Severino Cavalcanti, estancou-o com a CPI e com a pronta expulsão do presidente denunciado.
Não se recuperou do desgaste, mas
são visíveis vários esforços, da Mesa
Diretora e de certas bancadas, para
revertê-lo em alguma medida. O Senado vai na direção oposta: além de
repelir todas as oportunidades de
estancar sua degradação, move-se,
com feliz indiferença, no sentido de
tornar-se um poder desprezível.
Dispensável.
Até onde irá o Senado e como acabará o processo de degenerescência
institucional, decorrente da septicemia de uma das partes do sistema legislativo e político, não há indício algum. E muito menos há alguma
idéia de solução para o problema, a
não ser a já animada tese da fusão de
Câmara e Senado -no caso, providência associada ao lugar-comum
do sofá retirado. Se ninguém supõe
encontrar a solução nos quartéis,
não chega a aliviar, porque também
nos partidos e nas eleições o que se
tem identificado não é a possibilidade de solução para um Congresso
desmoralizado. É parte grande da
própria origem da degeneração
crescente.
Renan Calheiros é o de menos no
que o Senado vive e exibe. É uma peça como qualquer outra da quase totalidade de senadores. O que leva o
Senado às sarjetas é o conjunto desses outros cujas características, pessoais e políticas, os levam a quase canonizar Renan Calheiros. Como fariam a outro com quem se identificassem na mesma concepção amoral de vida pública, de Congresso,
Senado, governo, partido e enriquecimento, voto parlamentar e corrupção, e muito mais por aí.
É esse ambiente que explica o descaso de Renan Calheiros, relaxado e
sorridente, por ao menos aparentar
alguma ansiedade. Ele e todos ali sabiam onde estavam. Sua renúncia à
presidência é dada como parte do
acordo para facilitar a absolvição.
Foi, isso sim, uma tentativa de salvar
a face indignada e envergonhada dos
que tomavam ou depois tomariam
conhecimento da absolvição e dos
modos de aplicá-la. Mas o que estava
em questão, fora e dentro do Senado, não era a presidência, era a decência. E, quanto a isso, a renúncia
nada poderia mudar a respeito de
Renan Calheiros e da desmoralização do Senado.
A escolha do novo presidente já
enveredou pelos caminhos de sujeição do Legislativo ao Executivo,
com as atitudes e declarações do
candidato Garibaldi Alves, do majoritário PMDB, em ofertas de servilismo ao governo e a Lula. O espetáculo da CPMF, por seu lado, chega
no Senado ao extremo da corrupção
política, que não precisa de melhor
síntese do que a pequena frase do
ministro José Múcio Monteiro, ao
explicar seu pedido a Lula para que,
em vez de viagem ao exterior, entre
em pessoa nos negócios com senadores: "Há coisas que só com o presidente...". Aí está o tamanho a que
chegam a chantagem e a corrupção
política entre os senadores.
Até onde irá a amoralidade dominante no Senado e como acabará a
conseqüente deterioração institucional, não sei de quem saiba.
Falha
O artigo de terça-feira incluiu,
nos exemplares iniciais da impressão, o percentual 0,007 em lugar de
0,7, relativo à diferença de votos
contra e a favor, em comparação
com o total de eleitores cadastrados para o referendo na Venezuela.
O atraso da correção foi de minha
responsabilidade, obviamente involuntário.
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