São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Governo busca conter especulações, mas negociação continua

Lula centraliza a reforma e tenta acalmar os ministros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo resolveu tentar esfriar o ritmo de especulações sobre a reforma ministerial que fará, marcando para a semana que vem reunião para a oferta de cargos ao PMDB. Além disso, Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para ministros cotados para perder a vaga a fim de acalmá-los, entre eles Olívio Dutra (Cidades), e divulgou nota criticando o noticiário sobre o tema. Enquanto isso, conduz pessoalmente as negociações nos bastidores.
O ministro José Dirceu e a cúpula do PMDB vão se reunir na segunda, quando o chefe da Casa Civil deverá formalizar a oferta do presidente ao partido. Lula deve viajar no mesmo dia ao México, de onde volta na quarta-feira.
Dirceu fez o convite para a reunião ontem ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP), no auge das pressões e contrapressões dos que querem entrar e, sobretudo, dos que querem permanecer no governo. Lula tem dificuldades para substituir antigos companheiros do PT e criticou, por meio de nota, as especulações.
Anteontem, em reunião com seus principais auxiliares, o presidente os avisou de que cuidaria diretamente do assunto. "Vou cuidar disso a partir de amanhã [ontem]", disse o presidente, segundo relato de ministros.
O dia de ontem teve algumas reviravoltas. Exemplo: em vez de uma reforma tópica, para atender apenas ao PMDB, o governo já pensa em mudar amplamente. Logo, em vez de fazer a reforma em duas etapas, agora e em abril, ela pode ocorrer de uma vez só.
Mas a virada mais surpreendente se deu em relação à posição de dois ministros, cujas substituições eram dadas como prováveis: Miro Teixeira (Comunicações) e Olívio Dutra (Cidades). Ambos têm chances de permanecer no governo, sendo que Olívio no próprio Ministério das Cidades.
Miro é do PDT, partido que passou a fazer oposição a Lula e ontem mesmo se reunia no Rio para exigir que seus filiados saiam do governo até o dia 31 deste mês. O ministro, porém, tem ligação direta com o presidente, com quem teve longa conversa anteontem.

Ano eleitoral
Uma convergência de fatores pode levar à manutenção de Olívio: ele é um dos ministros mais próximos de Lula, o PT não abre mão de ficar com Cidades num ano de eleições municipais e a reação desencadeada nos bastidores pela esquerda do partido.
À Folha, Olívio disse que recebeu ontem um telefonema de Lula no qual o presidente disse que a reforma não está definida e que o trabalho deve ser mantido. "Mudança não é questão de um, dois ou três ministros. É uma questão de governo, que é trabalhada pelo presidente da República."
Para o governo e o PT não seria interessante contrariar a esquerda da sigla, que no final do ano passado sofreu um duro golpe com a expulsão dos radicais, entre eles a senadora Heloísa Helena (AL).
A eleição deste ano é uma das razões alegadas por governadores e prefeitos do PT para manter Cidades com o partido. A pasta gerencia verbas e obras que atendem diretamente aos municípios, como as de saneamento básico.
A possibilidade de uma mexida mais ampla que a prevista desencadeou uma série de especulações. Alguns nomes mantiveram-se em queda na bolsa de apostas, caso de Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), Anderson Adauto (Transportes) e Benedita da Silva (Assistência Social). E outros passaram a frequentar a lista.
Neste caso está o ministro Ricardo Berzoini (Previdência Social). Inicialmente forte devido à condução da aprovação da reforma previdenciária no Congresso, no PT atribui-se a ele o desgaste de popularidade sofrido por Lula quando o ministério decidiu recadastrar os aposentados e provocou filas nos postos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Berzoini poderia ser remanejado. Guido Mantega (Planejamento) passou a integrar a lista porque sua eventual substituição não causaria problemas políticos.

Conversa sossegada
No convite formulado a Temer, Dirceu chamou o PMDB para "conversar bastante" e "sossegadamente". Não adiantou o que vai dizer, mas a Temer e ao líder no Senado, Renan Calheiros (AL), com quem também conversou, ficou claro que dirá concretamente qual espaço Lula dispõe para ter o PMDB no governo. Além de Calheiros e Temer, participarão da reunião o líder na Câmara, Eunício Oliveira (CE), e o presidente do Senado, José Sarney (AP).
As opções do PMDB são o próprio Eunício e oito senadores que aceitaram o convite -o nome mais cotado ainda é o de Garibaldi Alves (RN), que compõe internamente o PMDB e pode se transformar num interlocutor com o líder do PFL, José Agripino (RN).
O nome do senador Sérgio Cabral (RJ) cresceu nos últimos dias: sua indicação pode favorecer uma aliança PT-PMDB no Rio. Hélio Costa também corre por fora.


Colaborou a Reportagem Local

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