|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DANÇA DOS MINISTROS
Governo busca conter especulações, mas negociação continua
Lula centraliza a reforma e tenta acalmar os ministros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo resolveu tentar esfriar o ritmo de especulações sobre a reforma ministerial que fará,
marcando para a semana que
vem reunião para a oferta de cargos ao PMDB. Além disso, Luiz
Inácio Lula da Silva telefonou para ministros cotados para perder
a vaga a fim de acalmá-los, entre
eles Olívio Dutra (Cidades), e divulgou nota criticando o noticiário sobre o tema. Enquanto isso,
conduz pessoalmente as negociações nos bastidores.
O ministro José Dirceu e a cúpula do PMDB vão se reunir na segunda, quando o chefe da Casa
Civil deverá formalizar a oferta do
presidente ao partido. Lula deve
viajar no mesmo dia ao México,
de onde volta na quarta-feira.
Dirceu fez o convite para a reunião ontem ao presidente do
PMDB, Michel Temer (SP), no
auge das pressões e contrapressões dos que querem entrar e, sobretudo, dos que querem permanecer no governo. Lula tem dificuldades para substituir antigos
companheiros do PT e criticou,
por meio de nota, as especulações.
Anteontem, em reunião com
seus principais auxiliares, o presidente os avisou de que cuidaria
diretamente do assunto. "Vou
cuidar disso a partir de amanhã
[ontem]", disse o presidente, segundo relato de ministros.
O dia de ontem teve algumas reviravoltas. Exemplo: em vez de
uma reforma tópica, para atender
apenas ao PMDB, o governo já
pensa em mudar amplamente.
Logo, em vez de fazer a reforma
em duas etapas, agora e em abril,
ela pode ocorrer de uma vez só.
Mas a virada mais surpreendente se deu em relação à posição de
dois ministros, cujas substituições eram dadas como prováveis:
Miro Teixeira (Comunicações) e
Olívio Dutra (Cidades). Ambos
têm chances de permanecer no
governo, sendo que Olívio no
próprio Ministério das Cidades.
Miro é do PDT, partido que passou a fazer oposição a Lula e ontem mesmo se reunia no Rio para
exigir que seus filiados saiam do
governo até o dia 31 deste mês. O
ministro, porém, tem ligação direta com o presidente, com quem
teve longa conversa anteontem.
Ano eleitoral
Uma convergência de fatores
pode levar à manutenção de Olívio: ele é um dos ministros mais
próximos de Lula, o PT não abre
mão de ficar com Cidades num
ano de eleições municipais e a
reação desencadeada nos bastidores pela esquerda do partido.
À Folha, Olívio disse que recebeu ontem um telefonema de Lula no qual o presidente disse que a
reforma não está definida e que o
trabalho deve ser mantido. "Mudança não é questão de um, dois
ou três ministros. É uma questão
de governo, que é trabalhada pelo
presidente da República."
Para o governo e o PT não seria
interessante contrariar a esquerda
da sigla, que no final do ano passado sofreu um duro golpe com a
expulsão dos radicais, entre eles a
senadora Heloísa Helena (AL).
A eleição deste ano é uma das
razões alegadas por governadores
e prefeitos do PT para manter Cidades com o partido. A pasta gerencia verbas e obras que atendem diretamente aos municípios,
como as de saneamento básico.
A possibilidade de uma mexida
mais ampla que a prevista desencadeou uma série de especulações. Alguns nomes mantiveram-se em queda na bolsa de apostas,
caso de Roberto Amaral (Ciência
e Tecnologia), Anderson Adauto
(Transportes) e Benedita da Silva
(Assistência Social). E outros passaram a frequentar a lista.
Neste caso está o ministro Ricardo Berzoini (Previdência Social). Inicialmente forte devido à
condução da aprovação da reforma previdenciária no Congresso,
no PT atribui-se a ele o desgaste
de popularidade sofrido por Lula
quando o ministério decidiu recadastrar os aposentados e provocou filas nos postos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Berzoini poderia ser remanejado.
Guido Mantega (Planejamento)
passou a integrar a lista porque
sua eventual substituição não
causaria problemas políticos.
Conversa sossegada
No convite formulado a Temer,
Dirceu chamou o PMDB para
"conversar bastante" e "sossegadamente". Não adiantou o que vai
dizer, mas a Temer e ao líder no
Senado, Renan Calheiros (AL),
com quem também conversou, ficou claro que dirá concretamente
qual espaço Lula dispõe para ter o
PMDB no governo. Além de Calheiros e Temer, participarão da
reunião o líder na Câmara, Eunício Oliveira (CE), e o presidente
do Senado, José Sarney (AP).
As opções do PMDB são o próprio Eunício e oito senadores que
aceitaram o convite -o nome
mais cotado ainda é o de Garibaldi Alves (RN), que compõe internamente o PMDB e pode se transformar num interlocutor com o
líder do PFL, José Agripino (RN).
O nome do senador Sérgio Cabral (RJ) cresceu nos últimos dias:
sua indicação pode favorecer uma
aliança PT-PMDB no Rio. Hélio
Costa também corre por fora.
Colaborou a Reportagem Local
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Plenário da Câmara passa por reformas Índice
|