|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MS tem 27 crianças desnutridas
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ANTÔNIO JOÃO (MS)
Vinte e sete crianças indígenas
menores de cinco anos estão com
desnutrição grave, segundo agentes da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), no acampamento
de 74 barracos de lona montado
pelos índios guaranis-caiuás que
foram retirados pela Polícia Federal de três fazendas em Antônio
João (MS) em 15 de dezembro.
Uma criança de um ano e cinco
meses morreu de desidratação no
dia 19 passado e outra nasceu
morta no dia da desocupação.
Além da desnutrição e da desidratação que atingem as crianças,
há risco de conflito com fazendeiros. O acampamento, às margens
de uma estrada estadual sem asfalto, fica a alguns metros da porteira da fazenda Morro Alto, onde
foi morto com um tiro no peito e
outro no pé, no dia 24, o índio
Dorvalino Rocha, 39. Os disparos
partiram do segurança da fazenda
João Carlos Gimenes Brites.
Uma decisão do presidente do
Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, levou à desocupação
nas fazendas, cuja área de 9.300
hectares havia sido homologada
como terra indígena pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
março. A PF usou 150 homens para retirar cerca de 700 índios guaranis-caiuás do local.
Ao menos 370 deles montaram
um acampamento com barracos
de lona preta, madeira e palha.
Nesse local vivem 81 crianças menores de cinco anos, segundo os
agentes comunitários da Funasa,
os índios Sebastião Pedro, 37, e
Dácio Gonzaga, 20.
Pedro diz dar assistência a 49
crianças, das quais 19 "estão com
desnutrição severa". Gonzaga
cuida de 32 e tem oito desnutridas
em estado grave. Eles afirmam
que a mudança das fazendas para
o acampamento agravou o estado
de saúde das crianças.
Eduarda Vilalba, de um ano e
cinco meses, morreu devido a desidratação, vômito e diarréia. "No
dia do despejo, o pessoal estava
fazendo os barracos e a criança ficou sem comer. Ficou muito tempo no sol, na estrada", diz Pedro.
"A família também não recebia
cesta básica do governo porque
não tem documentos", acrescenta
a professora indígena Léia Aquino, 38. "Ela [a criança] assustou
muito com o avião e começou a
vomitar. Chegou ao hospital e
morreu", relata a mãe de Eduarda, Fátima Vilalba, 30, referindo-se ao helicóptero que a PF usou na
ação para desocupar as fazendas.
Cristiane da Silva, de um ano e
seis meses, pesava 8,7 kg no dia 19
de dezembro. Segundo Pedro, na
quinta-feira passada ela estava
com 7 kg. Conforme o pai, André
da Silva, 29, a menina está sofrendo com vômito e diarréia.
"Essa aí [aponta para a filha, no
colo da mãe] não parava. Andava
e brincava o tempo todo, agora
está triste", afirma Silva.
"Quando acabei de fazer uma
casinha com uma baita sombra,
tiraram a gente de lá", acrescenta
o índio. Ele diz ter perdido mais
de um hectare de milho.
Outra criança perdeu quase
dois quilos, segundo a mãe Célsia
Flores. Lurdes tem um ano, mas
parece bebê de poucas semanas
de vida. Pesa 7,5 kg. Na tarde de
quinta-feira, ela tomava mamadeira com leite doado pelo governo de Mato Grosso do Sul. As cestas básicas para famílias de cinco
pessoas duram pouco mais de
uma semana, diz Léia Aquino.
Os índios conseguiram puxar
água do distrito de Campestre, a
50 m do acampamento, mas o que
sai da torneira é quente demais
para beber durante à tarde.
Texto Anterior: Questão indígena: Brasil abandonou índios, diz Anistia Próximo Texto: Outro lado: "Nunca existiu aldeia aqui", diz dono de fazenda Índice
|