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JANIO DE FREITAS
Entre drama e tragédia
Favelas não são sinônimos de criminalidade. Mas o crime sem colarinho tem relação direta com a favelização
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O COMPROMISSO PÚBLICO de
enfrentar para vencer a
criminalidade organizada
em seus Estados, assumido pelos
quatro governadores do Sudeste,
é o mais difícil dentre os proclamados por todos os que iniciam novos
governos pelo país afora, mesmo
incluindo na lista as promessas mais
mirabolantes.
Transpor os obstáculos para as
ações eficazes contra o estado de
violência é mais difícil do que repor
a criminalidade em níveis, digamos,
compreensíveis.
O primeiro dos obstáculos está no
próprio motivo que permitiu, no
correr de sucessivos mandatos de
prefeitos e governadores, a multiplicação e o gigantismo de concentrações "urbanas" desprezadas, em todos os sentidos, pelo Estado e seus
deveres.
A motivação inabalável para essa
postura anti-social (senão criminosa) dos poderes públicos, apesar das
conseqüências óbvias, cabe em duas
palavras: interesse eleitoral.
Manifesto em duas vias: possíveis
votos nas novas concentrações e,
muito mais determinante, evitar
manifestações eleitoralmente corrosivas, sempre intermediadas pela
mídia, contra ações restritivas à formação e ao aumento incessante das
aglomerações desgovernadas.
Favelas não são, por si mesmas, sinônimos de criminalidade. Muito
mais que seculares, por longo tempo
conviveram nas cidades brasileiras
com a imagem, apenas, de mão-de-obra abundante e barata para classes indiferentes à desgraça alheia.
Mas a criminalidade sem colarinho tem relação direta com a favelização descomunal. As favelas densas são, para a bandidagem organizada em torno de armas e crimes, o
que a floresta é para a guerrilha.
Com uma vantagem incomparável:
além da densidade de construções e
esconderijos, a melhor proteção não
é feita por troncos de árvores, mas
por troncos humanos, desarmados,
desprevenidos, inocentes no crime e
na batalha que ocorra entre policiais
e bandidos.
Daí provém o segundo obstáculo
para a disposição de quebrar a criminalidade. O grau de violência da
bandidagem sobe sem limite. Seu
armamento é farto e atualizado.
Combinação de violência e recursos
que significa a impossibilidade de
extingui-los com os métodos convencionais de ação policial. É uma
realidade dramática que sugere tragédias, em caso dos enfrentamentos
capazes de levar a restauração da segurança pública a níveis aceitáveis.
Por menos que se duvide das intenções de Sérgio Cabral, José Serra,
Aécio Neves e do capixaba Paulo
Hartung, é difícil imaginá-los dispostos a mais do que métodos convencionais contra a criminalidade
sem colarinho e, adversário que lhes
seria muito mais difícil e conseqüente, contra os movimentos de
opinião que tanto são contra a criminalidade quanto se mostram contrários à polícia de combate. Hoje,
parte dessa opinião já chega a recusar aos policiais, postos diante da
metralha bandida, que se protejam
com um carro-forte, o tal Caveirão,
como se fossem candidatos a mártires por nada.
Há muito a discutir sobre esse tema. Só não é aconselhável que alguém se dê ao trabalho de refletir sobre o que cabe em tudo isso aos jornais, TV, rádios e revistas - aos jornalistas, em resumo. O risco de desalento total é muito grande.
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