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Lula e Serra fazem acordo que garante verbas para o metrô
Acerto evita batalha judicial sobre venda da folha salarial do Estado a banco privado; em troca, União libera R$ 270 milhões
Pacto permite que União continue a cobrar de outros entes da federação 13% da receita da "venda" da folha; SP paga, mas recebe a verba
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal destinará
R$ 270 milhões ao Estado de
São Paulo para investimentos
no metrô. Mas, na prática, o dinheiro só saiu dos cofres de São
Paulo, fez um passeio por Brasília e está voltando ao Estado.
Segundo a Folha apurou, a
operação é produto de um
acordo entre o governo federal
e o Estado de São Paulo para
evitar que protagonizassem
uma batalha na Justiça. Graças
ao acerto, ao se prevenir contra
uma eventual derrota, a União
preserva a chance de cobrar
dos demais entes da federação
13% da receita obtida com a
"venda" de sua folha salarial a
bancos privados.
Hoje, já existe uma disputa
judicial entre o governo federal
e as prefeituras de São Paulo e
do Rio de Janeiro sobre a classificação dessa receita. O Tesouro Nacional quer que o dinheiro seja incluído na base de
cálculo usada para cobrança da
dívida dos municípios com a
União. Mas, amparadas por liminares, as prefeituras têm resistido ao pagamento.
Como o governo de São Paulo também vendeu a exclusividade da conta de seus servidores a R$ 2,084 bilhões, a União
cobrou 13% da receita (R$ 270
milhões). O Estado contestou.
Mas, para evitar uma derrota
na Justiça -o que o impediria
de cobrar dos demais entes da
federação-, o governo Lula fechou um acordo com o governo
Serra pelo qual o Estado de São
Paulo pagaria os 13% à União,
mas esses R$ 270 milhões seriam restituídos na forma de
investimentos para o metrô.
Beneficiado, São Paulo abriu
mão da ação na Justiça, poupando-se também da ameaça
de uma derrota. Com mais uma
vantagem: a ampliação do limite para empréstimos.
Pela lei, a capacidade de endividamento de um Estado é
equivalente a 120% de sua receita corrente líquida: quanto
maior a arrecadação, maior a
autorização para empréstimos.
Como os R$ 2,084 bilhões foram contabilizados assim, São
Paulo teve permissão para captar mais dinheiro.
A União, por sua vez, se livra
do risco de uma decisão judicial que funcionasse como precedente para outros casos.
O acordo foi fechado em
maio. Firmado entre a CBTU
(Companhia Brasileira de
Trens Urbanos) e o Metrô, o
convênio, prevendo R$ 351 milhões para a Linha Verde -sendo R$ 81 milhões dos cofres do
Estado- foi publicado em 31
de dezembro no Diário Oficial.
Todo mês, os Estados e os
municípios que tiveram sua dívida federalizada têm que pagar uma prestação à União. Esse desconto -de 13%- incide
sobre a receita corrente real de
Estados e municípios.
Em dezembro de 2005,
quando vendeu o direito de administração de sua folha de pagamento a R$ 530,5 milhões, a
Prefeitura de São Paulo contabilizou a operação como a alienação de um bem -ou receita
de capital- isenta de cobrança
da dívida.
Em junho de 2006, a Secretaria do Tesouro divulgou, porém, um balanço no qual o município teria de pagar R$ 53 milhões à União. A prefeitura recorreu à Justiça Federal.
"Essa não é uma queda-de-braço. Temos uma divergência
técnica. Tanto a prefeitura
quanto o governo querem estar
seguros sobre isso", minimizou
o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).
Em São Paulo, os bancos pagaram pelo direito de administrar três contas: a folha de servidores, a de pagamento a fornecedores e a centralização da
arrecadação da prefeitura.
Ao vender a um banco a exclusividade de depósito do salário de seus servidores, a prefeitura do Rio de Janeiro arrecadou R$ 370 milhões. "O governo tem tentado incluir como as receitas que integram a
base de cálculo do serviço da
dívida. Mas a Justiça tem inibido a voracidade federal", disse
o prefeito Cesar Maia (DEM).
Em futuras ações judiciais, o
fato de o governo de São Paulo
ter pagado pode ser usado pela
União como um reconhecimento de que a venda é passível de cobrança pela União.
Para o secretário de Planejamento de São Paulo, Manuelito
Pereira Magalhães, são situações diferentes. No caso do Estado de São Paulo, os R$ 2,084
bilhões serão pagos em parcelas, dando a idéia de uma receita constante. Já a prefeitura recebeu de uma única vez.
Além do Rio e de São Paulo,
Salvador, Curitiba e Porto Alegre são cidades que venderam o
direito de administração de sua
folha de pagamento. Curitiba e
Porto Alegre afirmam que não
têm dívida federalizada.
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