São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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Coronel diz que corpos foram queimados

VICTOR RAMOS
DA AGÊNCIA FOLHA

Pedro Corrêa Cabral, 62, coronel da reserva da Aeronáutica que serviu aos militares no combate aos guerrilheiros do Araguaia, diz que corpos de cerca de 40 membros da guerrilha foram queimados pelas Forças Armadas.
Segundo ele, houve "execução" de prisioneiros e de moradores da região ligados aos guerrilheiros.
Corrêa, autor do livro "Xambioá - Guerrilha no Araguaia" (1993), foi um dos primeiros militares a revelar o que presenciaram na época. "Eu vi coisas absurdas ali, atos de covardia", diz.
Ele conta que houve uma operação montada pelas Forças Armadas para eliminar as evidências do conflito. De acordo com Corrêa, depois que a guerrilha foi derrotada, as Forças Armadas reuniram informação sobre a localização dos corpos de guerrilheiros e os desenterraram. Em seguida, os corpos foram levados para a serra das Andorinhas, região próxima a Xambioá (487 km de Palmas), onde foram queimados.
O coronel diz já ter retornado ao local, mas que não conseguiu achar o ponto exato onde os cerca de 40 corpos foram queimados.
Evidências de "execução" de guerrilheiros também foram presenciadas por Corrêa, no período em que serviu à Aeronáutica na guerrilha do Araguaia. "Vi uma guerrilheira que estava grávida, presa em Marabá [498 km de Belém]. Um dia ela saiu numa patrulha com o Curió [Sebastião Curió Rodrigues de Moura, ex-agente de informações do Exército] e, quando a patrulha voltou, cadê? Não veio, foi executada", afirmou.
Sobre a relação dos habitantes de Xambioá com a guerrilha, diz ter havido dois momentos. Antes da chegada do Exército, em 1972, os guerrilheiros conseguiram conquistar a simpatia dos moradores da cidade, oferecendo remédios e fazendo outros trabalhos de assistência social.
Depois, com a presença dos militares, os habitantes começaram a mudar de atitude.


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