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REGIME MILITAR
Em depoimento, ex-soldado diz que antes de ir para combate tropa aprendia técnicas de tortura em Marabá
Ex-militar confirma que guerrilheiros foram executados
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAMBIOÁ (TO)
Depoimento prestado anteontem pelo ex-soldado do Exército
Raimundo Pereira serve para
confirmar a versão de familiares
de guerrilheiros do Araguaia segundo a qual alguns integrantes
do movimento foram assassinados mesmo estando rendidos por
membros das Forças Aramadas, e
não foram mortos em combate,
como sustenta o Exército.
A afirmação é do procurador da
República no Pará Felício Pontes,
que investiga o caso desde 2001 e
tomou o depoimento de Pereira.
Os dois estavam na sexta-feira
em Xambioá (TO, 487 km de Palmas) para acompanhar o início
dos trabalhos de uma equipe de
peritos enviada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos para
localizar corpos de integrantes da
guerrilha que podem estar enterrados numa área do município
onde funcionou uma base do
Exército.
A guerrilha foi um movimento
armado de integrantes do PC do B
que atuou na divisa dos Estados
de Tocantins (na época, Goiás),
do Pará e do Maranhão de 72 a 75.
No último final de semana, a revista "Época" divulgou declarações de quatro ex-militares que
indicaram os locais em Xambioá
onde podem estar as ossadas de
quatro guerrilheiros.
Pereira é um desses ex-militares. Em seu depoimento, ele disse
que um soldado que estava na base militar de Xambioá viu um
guerrilheiro, identificado por ele
como Daniel, preso na base escrever uma carta para a mãe por saber que ia morrer. O corpo de Daniel pode estar no local onde o
grupo faz as escavações.
Ainda segundo o ex-militar,
também está no local o corpo de
Osvaldo Orlando Costa, conhecido como Osvaldão, um dos principais líderes da guerrilha.
Osvaldão, segundo Pereira, foi
enterrado por soldados entre a sede da base e um posto usado como enfermaria pelos militares.
Em 2001, a pedido de familiares
de guerrilheiros mortos, três inquéritos civis foram instalados
em São Paulo, Brasília e Pará para
buscar detalhes sobre a localização dos corpos dos guerrilheiros.
Curso de tortura
A Agência Folha teve acesso à
transcrição do depoimento de Pereira. Nele, o ex-militar afirma
que antes de ir para a base de
Xambioá os militares aprendiam
técnicas de tortura no quartel de
Marabá (PA).
Alguns soldados levavam surras
de cipó e eram colocados deitados, nus, na lama. Pelo depoimento, a atitude era para mostrar
aos militares os horrores que enfrentariam na selva durante o
combate à guerrilha.
Após as declarações de Pereira,
Pontes disse que deve haver na
próxima semana uma reunião entre procuradores do Pará e o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, para avaliar o depoimento e o resultado das escavações que acontecem em Xambioá.
Os jornalistas JOSÉ EDUARDO RONDON e
ALAN MARQUES viajaram em avião da
FAB, a convite da Secretaria Nacional de
Direitos Humanos, no trecho Brasília-Marabá (PA)
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