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JANIO DE FREITAS
Os desafinados
A nota emitida pela comissão
executiva do PT, ao final de
sua reunião para reafirmar "o
capital ético e político" do partido, é deliberadamente mentirosa. O clamor suscitado pelo caso
Waldomiro Diniz é devido, ao
que afirmam as conclusões expostas em nota da executiva, a
uma campanha "orquestrada
por setores da oposição e da mídia".
Para evidenciar a falsidade da
alegada orquestração entre oposicionistas e mídia, é suficiente
lembrar a desproporção entre os
espaços e tempos concedidos dia
a dia, nos jornais e na tv, a representantes do PT e da oposição
para considerações em torno do
caso Waldomiro. Há mais, porém.
O governismo predominante
na mídia transferiu-se do governo Fernando Henrique para o
governo Lula. Dois fatores vêm
em socorro dos que desejem defender a mídia: o governo Lula
não é mais do que a continuação
piorada do governo Fernando
Henrique, que tanto encantava a
mídia; e a maior parte da mídia
aguarda a ajuda financeira cuja
fórmula o governo está concluindo. Querer que esses fatores, além
de talvez explicativos, não transpareçam atitude movida por interesse e, portanto, incompatível
com a propalada ética da mídia,
aí já seria demais.
Uma pergunta, a propósito: se
a mídia faz "campanha sistemática" (...) "visando a enfraquecer
o governo", por que o governo
vem se ocupando tanto com a
ajuda financeira pretendida pela
maioria da mídia? É porque, à
maneira sambista da mulher de
malandro, gosta de apanhar; é
para comprar silêncio e apoio,
em prática de corrupção explícita; ou há terceira razão, como,
por exemplo, relações governo/
mídia que, ressalvada uma exceção aqui outra ali, têm sido muito satisfatórias de parte a parte?
Em vez de orquestração da mídia com oposicionistas, o que levou às proporções do caso Waldomiro foi a desorquestração do
PT, conduzido com a combinação de autoritarismo e inépcia. O
próprio Lula teve em mãos a possibilidade de bloquear a progressão do caso, tão logo surgiu, e
não a utilizou, ou nem a percebeu.
Na sexta-feira em que "Época"
reproduziu trechos do vídeo com
Waldomiro Diniz e Carlos Cachoeira, José Dirceu articulou a
imediata divulgação do antídoto
ao envolvimento do governo (e,
claro, dele mesmo). Era o documento conclusivo da comissão
interministerial constituída, no
gabinete de Dirceu, para estudar
a solução a ser dada pelo governo
aos bingos. Divulgar a solução
estabelecida -estatizar os bingos- enfraqueceria logo a contaminação do governo, cuja comissão decidira contrariamente
a qualquer interesse negociado
por Waldomiro Diniz.
José Dirceu batalhou naquela
sexta-feira pela divulgação do
documento. Lula não cedeu à
idéia, ao que parece, convicto de
que a revelação do vídeo não
prosperaria, por se tratar de fato
anterior ao seu governo e encerrável com a destituição de Diniz
e inquérito policial. A partir dessa primeira gafe, foi uma sucessão de trapalhadas ainda inconcluída.
Enquanto era esperado no Hotel Glória para a festa de aniversário do PT, no Rio, naquela sexta-feira José Dirceu almoçava no
"Globo". Já chegara às bancas a
revista com a denúncia que atingia o seu gabinete. Revista de
propriedade do grupo "Globo".
Na ótica paranóide da direção
petista, só a revelação da revista
deve ser considerada, o almoço
cordial, não.
Com a direção partidária que
tem, o governo Lula não precisa
de oposição. Nem a mídia precisa
orquestrar coisa alguma.
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