São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Renan Calheiros se transformou em interlocutor de Dirceu e foi decisivo na estratégia de jogar duro para barrar investigação

Ex-líder de Collor comandou operação abafa

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inexperiência e a desarticulação do governo e da bancada do PT para gerenciar crises acabaram produzindo um novo líder informal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Senado: o experiente e articulado senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Líder do PMDB, ele extrapolou essa função durante as negociações para evitar a CPI dos bingos, especialmente na semana passada. Tem sido ativo participante das reuniões políticas do Planalto, interlocutor assíduo do ministro José Dirceu (Casa Civil) e decisivo para a estratégia de "jogar duro".
Foi Renan, por exemplo, quem radicalizou numa reunião da cúpula política governista, às 8h30 de quinta-feira, no Palácio do Planalto, quando chegou-se a admitir a instalação da CPI -que tem tudo para se voltar contra Dirceu, por ter sido chefe direto de Waldomiro Diniz, flagrado em 2002 pedindo propina.
O líder formal do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), admitiu na reunião que, se oposição e governistas conseguissem o número mínimo (27) de assinaturas para a CPI, que ela fosse simplesmente instalada: "Deixa instalar, depois a gente controla", defendeu o líder do governo.
Renan deu um pulo, lembrando a máxima do deputado Ulysses Guimarães (1916-1992): "CPI, a gente sabe como começa, mas não como termina".
E disse que só havia uma alternativa para o governo: evitar ou evitar a CPI. Saiu daí a estratégia de não jogar todas as fichas na retirada das assinaturas do PT (quatro petistas de fato as mantiveram) nem no presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Apesar de aliado do governo, Sarney é imprevisível e anda desconfiado. Ele poderia lavar as mãos e garantir a investigação.
Assim, ficou acertado que os líderes dos quatro partidos aliados assinariam uma nota, encabeçada por Renan, dizendo que não indicariam os integrantes de suas bancadas para compor a comissão. Sem integrantes, não há CPI. Assim foi feito.
Pragmatismo e experiência foram as palavras-chave do desempenho de Renan Calheiros, 48, que começou a carreira política como militante do então proscrito PC do B e que depois jogou a esquerda alagoana na campanha de Fernando Collor de Melo (de família oriunda da Arena e do PDS e então no PMDB) para o governo de Alagoas.
Collor ganhou o governo e depois a Presidência da República com Renan ao seu lado, como expressivo líder do PRN, partido de vida efêmera, criado com o único intuito de dar uma sigla ao candidato Collor.
Mas quando o próprio governo Collor ficou sob investigação de uma CPI, Renan já estava do outro lado. Perfilou-se na oposição, conquistou espaço na transição com Itamar Franco e virou ministro da Justiça na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).



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