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SOMBRA NO PLANALTO
Renan Calheiros se transformou em interlocutor de Dirceu e foi decisivo na estratégia de jogar duro para barrar investigação
Ex-líder de Collor comandou operação abafa
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A inexperiência e a desarticulação do governo e da bancada do
PT para gerenciar crises acabaram produzindo um novo líder
informal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Senado: o experiente e articulado senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Líder do PMDB, ele extrapolou
essa função durante as negociações para evitar a CPI dos bingos,
especialmente na semana passada. Tem sido ativo participante
das reuniões políticas do Planalto,
interlocutor assíduo do ministro
José Dirceu (Casa Civil) e decisivo
para a estratégia de "jogar duro".
Foi Renan, por exemplo, quem
radicalizou numa reunião da cúpula política governista, às 8h30
de quinta-feira, no Palácio do Planalto, quando chegou-se a admitir a instalação da CPI -que tem
tudo para se voltar contra Dirceu,
por ter sido chefe direto de Waldomiro Diniz, flagrado em 2002
pedindo propina.
O líder formal do governo no
Senado, Aloizio Mercadante (SP),
admitiu na reunião que, se oposição e governistas conseguissem o
número mínimo (27) de assinaturas para a CPI, que ela fosse simplesmente instalada: "Deixa instalar, depois a gente controla", defendeu o líder do governo.
Renan deu um pulo, lembrando
a máxima do deputado Ulysses
Guimarães (1916-1992): "CPI, a
gente sabe como começa, mas
não como termina".
E disse que só havia uma alternativa para o governo: evitar ou
evitar a CPI. Saiu daí a estratégia
de não jogar todas as fichas na retirada das assinaturas do PT (quatro petistas de fato as mantiveram) nem no presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Apesar de aliado do governo, Sarney é imprevisível e anda desconfiado. Ele poderia lavar as mãos e
garantir a investigação.
Assim, ficou acertado que os líderes dos quatro partidos aliados
assinariam uma nota, encabeçada
por Renan, dizendo que não indicariam os integrantes de suas
bancadas para compor a comissão. Sem integrantes, não há CPI.
Assim foi feito.
Pragmatismo e experiência foram as palavras-chave do desempenho de Renan Calheiros, 48,
que começou a carreira política
como militante do então proscrito PC do B e que depois jogou a
esquerda alagoana na campanha
de Fernando Collor de Melo (de
família oriunda da Arena e do
PDS e então no PMDB) para o governo de Alagoas.
Collor ganhou o governo e depois a Presidência da República
com Renan ao seu lado, como expressivo líder do PRN, partido de
vida efêmera, criado com o único
intuito de dar uma sigla ao candidato Collor.
Mas quando o próprio governo
Collor ficou sob investigação de
uma CPI, Renan já estava do outro lado. Perfilou-se na oposição,
conquistou espaço na transição
com Itamar Franco e virou ministro da Justiça na gestão Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
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