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SOB SUSPEITA
Escola, em Joinville, teria sido usada para mandar dinheiro ao exterior; governador é suspeito de estar envolvido
Procuradoria investiga desvio no Bolshoi
FREDERICO VASCONCELOS
ENVIADO ESPECIAL A JOINVILLE (SC)
A Procuradoria Geral da República apura, em Brasília, a eventual responsabilidade do governador de Santa Catarina, Luiz
Henrique da Silveira (PMDB),
diante das suspeitas de que a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil,
que ele criou em 2001 quando era
prefeito de Joinville, serviu de cortina para encobrir o desvio de dinheiro público para o exterior.
Com instalações e recursos do
município, a escola forma alunos,
a maioria bolsistas, orientados
por professores russos que transmitem a metodologia e a técnica
do Teatro Bolshoi de Moscou.
Trata-se de projeto cultural e social elogiado por políticos e intelectuais petistas e tucanos, uma
referência internacional, sendo a
única escola do famoso balé em
outro país. "Para ver o Bolshoi eu
não preciso mais ir para a Rússia",
disse o presidente Lula, ao visitar
a escola, em março de 2003.
Essa imagem foi abalada por
uma investigação conjunta do
Ministério Público Estadual e Federal, iniciada no ano passado,
quando os holofotes saíram do
palco para iluminar os bastidores.
Vieram à tona irregularidades
atribuídas aos principais idealizadores do projeto e amigos do governador: o empresário Antônio
João Ribeiro Prestes, engenheiro
mecânico, um dos filhos do líder
comunista Luís Carlos Prestes, e
sua mulher, Joseney Braska Negrão, supervisora geral da escola.
A Folha teve acesso na Justiça
Federal, em Joinville, aos autos da
ação penal. Prestes, Joseney e outras sete pessoas foram denunciadas sob a acusação de peculato,
desvio e formação de quadrilha.
A documentação sugere uma
ação entre amigos, com intermediação de "empresas de papel"
em paraísos fiscais, malversação
de patrocínios oficiais, gastos sem
controle e contratos fictícios arquitetados para justificar serviços
inexistentes.
Foram também denunciados
Sylvio Sniecikovski (ex-secretário
de Cultura e presidente do instituto que administra a escola), Sérgio
Ayres Filho (diretor administrativo), Luiz Carlos Meinert (diretor
financeiro), Yuri Alexandre Ribeiro, Nei Barreto Quintino, Edson Bush Machado e Carlos
Adauto Virmond Vieira.
Como o governador Luiz Henrique, patrono-fundador da escola, tem foro privilegiado, cópia
dos autos subiu para a Procuradoria Geral da República. O caso
foi distribuído à subprocuradora-geral Célia Regina Delgado.
Por meio de "contratos de agenciamento", quatro empresas de
João Prestes, de seu irmão Yuri
Alexandre Ribeiro e de outro sócio, receberam R$ 712 mil da escola supervisionada por Joseney, como intermediação do patrocínio
dos Correios no total de R$ 10,5
milhões. Uma estranha cláusula
desses contratos prevê que as taxas de comissão seriam discutidas
"caso a caso", depois da prestação
dos serviços.
Esse "agenciamento" foi negado pelo atual presidente dos Correios, João Henrique de Almeida
Souza. Prestes tentou obter de
Hassan Gebrin, ex-presidente,
um atestado de que prestara a intermediação. Chegou a sugerir os
termos dessa declaração escrita.
Gebrin, contudo, não concordou.
A empresa de Prestes também recebeu por "agenciamento" de patrocínio do Banco do Brasil.
Embora a Justiça tenha revogado recomendação do Ministério
Público para suspensão imediata
do apoio financeiro dos Correios,
patrocinador oficial, Joinville teme pelo futuro da escola, mantida
com receitas próprias, patrocínio
de empresas privadas e mecenato
federal (Lei Rouanet) e estadual.
Em 2004, as receitas totalizaram
R$ 5,7 milhões. Pelos cálculos do
MPF, o custo per capita dos alunos é de R$ 28 mil por ano.
A escola possui 250 alunos, dos
quais 94% são bolsistas. Eles recebem estudo, alimentação, uniformes, figurinos e assistência médica. O complexo escolar, numa
área de 6.000 m2, é formado por
salas para aulas de balé, estúdios
de música, dois laboratórios cênicos e cantina. Projeto para a nova
sede, em área de 31 mil m2, de autoria de Oscar Niemeyer, custou
R$ 920 mil. A obra exigirá investimentos de cerca de R$ 40 milhões.
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