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PT NO DIVÃ
Cenário de realização de "superprévia" para escolher candidato ao governo de SP assusta a direção do partido
Volta de Marta preocupa a cúpula petista
FÁBIO ZANINI
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy retorna nesta semana
de uma viagem à Europa e à Índia
para iniciar sua pré-campanha ao
governo do Estado de São Paulo,
dando sua contribuição para um
cenário que causa calafrios no Palácio do Planalto e na cúpula do
PT: a realização de uma "superprévia" no ano que vem.
Já são pré-candidatos declarados o líder do Governo no Senado, Aloizio Mercadante, e o ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha, que estão percorrendo o
Estado. Marta ainda não assumiu
abertamente, mas é "candidatíssima", na definição de auxiliares.
Após o trauma da derrota na
eleição para a presidência da Câmara, a repetição de um cenário
de divisão acendeu o sinal vermelho no PT e no governo, temerosos de que a luta interna atrapalhe
os planos de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Avalia-se que a prévia ocorrerá a
menos que Lula jogue pesado para obter um acordo.
"O melhor seria evitar a prévia.
Vou trabalhar intensamente para
um acordo", diz o presidente do
PT, José Genoino.
"Espero que os três tenham juízo e façam um acordo", ecoa o
presidente estadual do partido,
Paulo Frateschi.
Com a saída de João Paulo Cunha da presidência da Câmara e a
volta de Marta Suplicy, a corrida
pela indicação, hoje camuflada
em contatos de bastidores, aquecerá a partir deste mês. Aliados já
disseram que os três estão dispostos a disputar prévia, caso isso seja
necessário.
Titânicos
O que assusta o PT é uma prévia
entre três figuras "titânicas" do
partido, na definição de um dirigente. "Uma coisa é disputar contra um candidato da esquerda
partidária, para marcar posição,
outra é uma disputa entre três
candidatos do mesmo campo político", diz Frateschi.
A tese é que, sendo os três candidatos parecidos politicamente,
terão de se diferenciar de maneira
artificial. E aí reside o perigo de
um racha. Os dirigentes petistas
evitam parecer que estão de salto
alto, mas sabem que as condições
para a conquista do governo nunca foram melhores. Acreditam
que há uma "fadiga de material"
após 12 anos de governo do PSDB
e depositam esperanças na falta
de um adversário tucano forte.
Mas na memória do partido está a disputa entre Tarso Genro e
Olívio Dutra, hoje, respectivamente, ministros da Educação e
das Cidades, para a candidatura
ao governo do Rio Grande do Sul
em 2002. Os dois acabaram rachando o PT, que perdeu o pleito
para o PMDB do atual governador, Germano Rigotto.
O cenário de uma eleição interna com nomes importantes do
partido, dando uma demonstração de divisão interna, é considerado potencialmente desastroso
para a reeleição de Lula, podendo
fragilizar seu palanque no principal colégio eleitoral do país.
A chance de um acordo se daria
no caso de um apelo de Lula, com
compensações para os que saírem
derrotados. Cogita-se que João
Paulo poderia ganhar um ministério ou a liderança do Governo
na Câmara, mas ele não está disposto a aceitar isso como prêmio
de consolação. "Não estou pedindo ministério para desistir", tem
dito o deputado em conversas reservadas.
Já Mercadante aposta que haverá unidade -em torno, naturalmente, de seu nome. "Lula deve
ser ouvido, porque sua reeleição
está relacionada a esse processo.
O PT está maduro para ganhar o
governo do Estado, mas, para isso, é preciso unidade", afirma.
Um exemplo do que deverá ser
a briga em São Paulo é a eleição
para o diretório estadual do partido, que hoje é alinhado ao nacional. O grupo de Marta ameaça
lançar chapa própria.
Calendário
Hoje, considera-se que Mercadante tem um leve favoritismo,
até porque se lançou primeiro.
Tem como trunfos o apoio de Lula e o patrimônio de cerca de 10
milhões de votos conquistados
em sua eleição, em 2002. O senador percorreu o Estado durante o
recesso de janeiro, privilegiando
cidades em que o prefeito é do PT.
Mas, no PT, avalia-se que João
Paulo cresceu muito no partido
nos últimos dois anos e é popular
com a militância, pelo estilo "conciliador". No final do ano passado, reuniu 3.000 pessoas em uma
plenária em São Paulo.
Para completar, existe o fator
Marta, que hoje tem uma relação
estremecida com o presidente.
O diálogo entre os dois ficou
ruim logo após Marta ter sido
derrotada na disputa pela reeleição em São Paulo, quando ela disse que perdeu o pleito em razão
da política econômica do governo
federal. Lula acha que Marta não
foi leal, já que o governo teria dado os recursos demandados pela
ex-prefeita, além de ele próprio
ter participado da campanha.
Mas os correligionários de Marta respondem que, apesar da derrota, a prefeita terminou o governo com uma boa avaliação, conforme pesquisas, o que a gabarita
para o Palácio dos Bandeirantes.
A imagem política da ex-prefeita é considerada forte pelo PT, o
que será trabalhado a partir de
agora em uma série de eventos e
palestras pelo Estado, sob a égide
de seu recém-criado instituto.
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