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JUSTIÇA
Desembargadores que presidem tribunais estaduais aproveitam reuniões bimestrais para fazer passeios turísticos
Juízes conciliam ida a congressos com lazer
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os presidentes dos Tribunais de
Justiça estaduais vêm desenvolvendo o hábito de associar encontro de trabalho a lazer. Eles se reúnem a cada dois meses para debater temas de interesse corporativo, como a própria aposentadoria
e o controle externo do Judiciário,
e aproveitam a oportunidade para um passeio turístico.
Em 2004, eles viajaram para
Manaus na época da festa de Parintins, para Belém no fim de semana do Círio de Nazaré e para
Aracaju com um passeio ao cânion do rio São Francisco incluído na programação. No último
fim de semana, foram a Cuiabá e
depois a Poconé, porta de entrada
do Pantanal.
Na quinta-feira da semana retrasada, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, participou da
abertura do 68º Encontro do Colégio de Presidentes dos Tribunais
de Justiça do Brasil. Também esteve na reunião de Manaus em junho de 2004. A sua assessoria disse que ele não aderiu ao programa
de turismo nos dois momentos.
O presidente da comissão executiva do Colégio de Presidentes
de Tribunais de Justiça, desembargador de Minas Gerais José
Fernandes Filho, confirmou à Folha que em geral existe uma agenda turística paralela e que as despesas com passagem aérea e diárias ficam por conta do órgão de
cada Estado.
"Se ele está a serviço do Tribunal de Justiça, é claro que o tribunal é que paga a passagem e a diária dele", afirmou. "Algumas vezes, eles vão acompanhados da
mulher, outras não." Ele disse que
nem todos fazem turismo.
Segundo Fernandes Filho, o tribunal onde se realiza o encontro
banca os gastos com a sua organização. Ao ser indagado sobre
quem paga o passeio turístico, ele
apenas disse: "Normalmente há
um patrocinador". Depois afirmou que esse ônus também é do
tribunal que recebe os visitantes.
Em geral, o encontro é aberto na
quinta à noite, com discursos seguidos por um coquetel. Tradicionalmente o governador do Estado-sede participa da cerimônia
ou oferece a eles um jantar. Na
sexta e no sábado de manhã, os
desembargadores discutem a
pauta do evento aprovam uma
carta. Depois a agenda é livre.
Fernandes Filho disse que foi
apenas "coincidência" a realização das reuniões de Manaus e Belém nas datas do festival folclórico
de Parintins, em junho de 2004, e
da festa religiosa do Círio de Nazaré, em outubro.
Ele defendeu a importância dos
dois eventos. "Parintins é uma data importante. Se coincide, quem
quiser ir a Parintins, vai. O tribunal que recebe providencia a viagem." Sobre o Círio de Nazaré,
afirmou: "Essa é uma festa importantíssima para a cidade, como
Parintins é uma festa importante
para o Amazonas".
Os temas predominantes foram
relacionados à reforma do Judiciário, de dezembro de 2004. Na
"Carta de Manaus", por exemplo,
eles protestaram contra dois pontos dessa reforma.
Eles criticaram o Conselho Nacional de Justiça, o órgão de controle externo que está para ser
criado, dizendo que ele deveria
ser composto apenas por juízes, e
a possibilidade de transferência
para a Justiça Federal das investigações de graves crimes contra direitos humanos.
Fernandes Filho disse que os temas são geralmente matérias em
votação no Congresso ou no STF
e que, muitas vezes, os desembargadores fazem reuniões extraordinárias em Brasília.
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