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Mulheres são maioria nas pastas sociais
Presença feminina em secretarias de capitais não chega a 20%, apesar de corresponder a 60% em áreas como educação e assistência
Para pesquisadora, cargos são identificados como uma extensão da atividade do lar; SP é a segunda pior em equilíbrio entre os gêneros
SOFIA FERNANDES
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A presença feminina no primeiro escalão das capitais brasileiras é, além de minguada,
concentrada nas áreas sociais.
Um levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres (SEPM) nos
recém-nomeados secretariados de 26 capitais mostra que
59,9% das mulheres titulares
atuam em áreas como educação e assistência social.
Para a secretaria, essas pastas são relacionadas ao cuidado
e à extensão da casa e da conduta doméstica. Nas secretarias ligadas a temas econômicos e de
gestão contam com 25,3% das
mulheres titulares.
A consultora do ONG Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) Eneida Dutra diz que ainda não foi desconstruído o mito de que as
mulheres são naturalmente
adequadas para o espaço privado -a casa e a família. A Cfemea realiza estudos sobre o direito das mulheres.
"Não podemos tratar isso como uma coincidência, como se
as mulheres não se interessassem por outras áreas. Ainda há
barreiras de desconfiança em
relação à capacidade das mulheres de liderar e de lidar com
situações de pressão", avalia.
A pesquisa fez um retrato da
sub-representação feminina
nas secretarias e constatou que
apenas 19,9% desses cargos de
confiança são ocupados por
mulheres. "Não há dúvida de
que o poder é uma cena masculina, as mulheres são preteridas
na política e em algumas áreas
específicas. Isso acaba incidindo no teor das políticas públicas", diz Sônia Malheiros Miguel, subsecretária de Articulação Institucional da Secretaria.
A região Norte tem o maior
percentual de participação feminina, com 31%. Duas capitais
da região, Belém (PA) e Boa
Vista (RR), têm paridade na
ocupação de suas pastas. O Sul
ficou com o último lugar.
Florianópolis, segundo a pesquisa, era a única capital sem
mulheres no primeiro escalão.
Na última segunda-feira, a primeira-dama Rosemere Berger
assumiu o cargo de secretária
de Desenvolvimento.
São Paulo ficou com o posto
de segunda pior capital no quesito equilíbrio de gêneros em
seu secretariado. Apenas a vice-prefeita, Alda Marco Antônio, secretária de Assistência
Social, compõe o escalão feminina, segundo a pesquisa. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que a Ouvidoria
também tem status de secretaria e tem o comando de uma
mulher, Maria Inês Fornazaro.
O quadro é ainda mais acentuado se analisadas as subprefeituras. Das 31, apenas a da Lapa (zona Oeste) é ocupada por
uma mulher, a ex-vereadora
Soninha Francine. A Câmara
Municipal tem cinco mulheres
(8,9%) e a Assembleia Legislativa, nove (9,6%), segundo levantamento da Folha.
Soninha afirma que a falta de
mulheres é consequência da dificuldade de entrada de novos
atores na política. "A renovação geracional é um inferno",
diz ela, que concorreu à prefeitura de São Paulo em 2008.
No âmbito federal, a presença feminina também é acanhada. Dos 81 senadores, 11 são
mulheres (13,6%). Na Câmara
dos Deputados, elas são 45 para
um total de 513 congressistas
(8,78%). O Brasil tem 503 prefeitas (9%), três governadoras
(11,1%) e 106 deputadas estaduais (11,7%).
A deputada federal Luiza
Erundina (PT-SP) argumenta
ser necessária a adoção de políticas efetivas de incentivo à entrada feminina na política. A
deputada tem um projeto para
reservar 30% do fundo partidário à programas dedicados à
mulher na política, e outro projeto que visa reservar 30% do
tempo de rádio e TV de cada
partido para dar visibilidade às
candidatas.
Para a cientista política Lúcia Avelar, professora da UnB
(Universidade de Brasília), a
participação das mulheres está
se modificando, mas muito lentamente. "Está longe o dia em
que os homens vão aceitar as
mulheres atuando na política
em pé de igualdade."
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