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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O RELATÓRIO
Segundo relator, parlamentar do PFL pediu que ele retirasse da lista de indiciados duas pessoas que exploravam franquia dos Correios
Serraglio cedeu a pressão para mudar texto
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator da CPI dos Correios,
deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), admitiu ontem que
fez mudanças de última hora em
seu texto por pressão política. Ele
atendeu ao deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) ao retirar o pedido de investigação pela Procuradoria de duas pessoas acusadas
de irregularidades nos Correios.
Depois do relatório final ter sido
lido, Serraglio excluiu os nomes
de Armando Ferreira da Cunha e
de João Leite Neto, que exploravam a franquia Tamboré, dos
Correios, em São Paulo. As franquias são concedidas sem licitação e a suspeita da CPI é que as lojas maiores, que mantêm como
clientes grandes corporações, como bancos, são comandadas por
parlamentares através de laranjas.
Lorenzoni confirmou o pedido,
mas alegou que não tinha interesse próprio no caso. "Tinha um
problema de ideologização. Há
uma posição contrária às franquias e eu sempre tive uma posição a favor da iniciativa privada
em áreas em que o governo teoricamente tem o monopólio".
Serraglio justificou a modificação dizendo que o sub-relator de
contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), direcionou a
investigação para a Tamboré,
quando também haveria problemas em outras franquias. "Houve
uma visão em cima da Tamboré,
uma atenção maior, talvez por razão política", disse Serraglio. Ele
alegou ainda que o caso está descrito no relatório e que só teria retirado os nomes da conclusão.
A assessoria de imprensa de
Cardozo afirmou que ele pediu a
quebra de sigilo bancário da Tamboré e da Anchieta, as duas maiores franquias, porque era onde
havia suspeitas de irregularidades. O STF (Supremo Tribunal
Federal) negou três vezes a abertura dos dados da Anchieta.
O relatório entregue por Cardozo a Serraglio revelou que dois policiais civis de São Paulo sacaram
cerca de R$ 6,6 milhões em dinheiro e os entregaram ao dono
da agência Tamboré, o ex-deputado estadual João Leite Neto.
A agência é a maior franquia
dos Correios no país, com faturamento anual de R$ 144 milhões e
uma comissão, para a empresa, de
R$ 12 milhões. Para Cardozo, esses saques eram uma tentativa de
ocultar para onde vai o dinheiro,
o que seria uma rotina nos contratos dos Correios. "Eram recursos para pagar diaristas", disse José Afonso Braga, assessor de Leite.
Serraglio se defendeu dizendo
que o PT também excluiu, em seu
relatório paralelo, as irregularidades encontradas na Prece, o fundo
de pensão da Cedae. Isso foi feito
para conseguir o voto do deputado Carlos Willian (PSC-MG), aliado do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB). "Eles
excluíram da proposta deles o
fundo que mostrou mais comprometimento. Eles podiam começar explicando isso para a população".
(FERNANDA KRAKOVICS)
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