São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O RELATÓRIO

Segundo relator, parlamentar do PFL pediu que ele retirasse da lista de indiciados duas pessoas que exploravam franquia dos Correios

Serraglio cedeu a pressão para mudar texto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu ontem que fez mudanças de última hora em seu texto por pressão política. Ele atendeu ao deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) ao retirar o pedido de investigação pela Procuradoria de duas pessoas acusadas de irregularidades nos Correios.
Depois do relatório final ter sido lido, Serraglio excluiu os nomes de Armando Ferreira da Cunha e de João Leite Neto, que exploravam a franquia Tamboré, dos Correios, em São Paulo. As franquias são concedidas sem licitação e a suspeita da CPI é que as lojas maiores, que mantêm como clientes grandes corporações, como bancos, são comandadas por parlamentares através de laranjas.
Lorenzoni confirmou o pedido, mas alegou que não tinha interesse próprio no caso. "Tinha um problema de ideologização. Há uma posição contrária às franquias e eu sempre tive uma posição a favor da iniciativa privada em áreas em que o governo teoricamente tem o monopólio".
Serraglio justificou a modificação dizendo que o sub-relator de contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), direcionou a investigação para a Tamboré, quando também haveria problemas em outras franquias. "Houve uma visão em cima da Tamboré, uma atenção maior, talvez por razão política", disse Serraglio. Ele alegou ainda que o caso está descrito no relatório e que só teria retirado os nomes da conclusão.
A assessoria de imprensa de Cardozo afirmou que ele pediu a quebra de sigilo bancário da Tamboré e da Anchieta, as duas maiores franquias, porque era onde havia suspeitas de irregularidades. O STF (Supremo Tribunal Federal) negou três vezes a abertura dos dados da Anchieta.
O relatório entregue por Cardozo a Serraglio revelou que dois policiais civis de São Paulo sacaram cerca de R$ 6,6 milhões em dinheiro e os entregaram ao dono da agência Tamboré, o ex-deputado estadual João Leite Neto.
A agência é a maior franquia dos Correios no país, com faturamento anual de R$ 144 milhões e uma comissão, para a empresa, de R$ 12 milhões. Para Cardozo, esses saques eram uma tentativa de ocultar para onde vai o dinheiro, o que seria uma rotina nos contratos dos Correios. "Eram recursos para pagar diaristas", disse José Afonso Braga, assessor de Leite.
Serraglio se defendeu dizendo que o PT também excluiu, em seu relatório paralelo, as irregularidades encontradas na Prece, o fundo de pensão da Cedae. Isso foi feito para conseguir o voto do deputado Carlos Willian (PSC-MG), aliado do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB). "Eles excluíram da proposta deles o fundo que mostrou mais comprometimento. Eles podiam começar explicando isso para a população". (FERNANDA KRAKOVICS)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Técnicos criticam modificações no relatório da CPI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.