São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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Técnicos criticam modificações no relatório da CPI

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório final da CPI dos Correios, aprovado anteontem, recebeu elogios de parlamentares da oposição por afirmar a existência do "mensalão" e pedir indiciamento de dois homens de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (José Dirceu e Luiz Gushiken), mas foi criticado por técnicos da investigação por ter poupado ao menos 11 nomes relevantes na apuração- a começar pelo de Lula.
Funcionários públicos, políticos e empresários foram excluídos da lista final de pedidos de indiciamento que agora deve seguir para Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal.
Para os técnicos, a maioria das ausências é incoerente em relação às conclusões do relatório. Dois casos citados são os do banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, e do presidente da siderúrgica Usiminas, Rinaldo Campos Soares. Na parte sobre as fontes que abasteceram o "valerioduto", o relatório diz que as duas empresas, mais a Cosipa, ligada à Usiminas, colaboraram com pelo menos R$ 3,1 milhões - 5,5% do total do "valerioduto".
Apesar dessa conclusão, a CPI não pediu o indiciamento dos responsáveis pelas empresas à época. Dantas teve apoio de parlamentares do PFL. Os petistas atuaram fortemente para livrar os ex-presidentes do Banco do Brasil, Cassio Casseb, e da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, e conseguiram.
O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou a pedir o indiciamento de Casseb por "condescendência criminosa". Mas até essa sugestão foi retirada, anteontem. "O Banco do Brasil procurou-nos, fez contatos, para reclamar [do primeiro relatório]", disse Serraglio à Folha, anteontem.
Nesse caso, técnicos apontam nova incoerência. O relatório diz que o fundo Visanet, abastecido pelo BB com pagamentos adiantados e sem justificativa, ajudou a abastecer o "valerioduto". Mas o responsável pelo banco à época, Casseb, acabou não acusado. Além dos adiantamentos à Visanet, na gestão de Casseb o BB direcionou recursos de publicidade às empresas do publicitário Marcos Valério em detrimento de outras duas agências que dividiam o contrato com o banco.
O pedido de indiciamento contra Mattoso, da Caixa, nem chegou a ser cogitado por Serraglio, embora um estudo técnico do TCU (Tribunal de Contas da União) tenha apontado que a Caixa beneficiou o banco BMG no processo de aquisição da compra da carteira de crédito consignado. O negócio propiciou ao banco mineiro -que a CPI acusa ter feito empréstimos de fachada para o "valerioduto"- um lucro imediato de pelo menos R$ 119 milhões.
Mattoso deixou o cargo na semana passada após revelar participação na quebra ilegal de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, testemunha da CPI dos Bingos.


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