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Técnicos criticam modificações no relatório da CPI
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório final da CPI dos
Correios, aprovado anteontem, recebeu elogios de parlamentares da oposição por afirmar a existência do "mensalão" e pedir indiciamento de
dois homens de confiança do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (José Dirceu e Luiz Gushiken), mas foi criticado por técnicos da investigação por ter
poupado ao menos 11 nomes
relevantes na apuração- a começar pelo de Lula.
Funcionários públicos, políticos e empresários foram excluídos da lista final de pedidos
de indiciamento que agora deve seguir para Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal.
Para os técnicos, a maioria
das ausências é incoerente em
relação às conclusões do relatório. Dois casos citados são os
do banqueiro Daniel Dantas,
dono do grupo Opportunity, e
do presidente da siderúrgica
Usiminas, Rinaldo Campos
Soares. Na parte sobre as fontes
que abasteceram o "valerioduto", o relatório diz que as duas
empresas, mais a Cosipa, ligada
à Usiminas, colaboraram com
pelo menos R$ 3,1 milhões -
5,5% do total do "valerioduto".
Apesar dessa conclusão, a
CPI não pediu o indiciamento
dos responsáveis pelas empresas à época. Dantas teve apoio
de parlamentares do PFL. Os
petistas atuaram fortemente
para livrar os ex-presidentes do
Banco do Brasil, Cassio Casseb,
e da Caixa Econômica Federal,
Jorge Mattoso, e conseguiram.
O deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR) chegou a pedir o
indiciamento de Casseb por
"condescendência criminosa".
Mas até essa sugestão foi retirada, anteontem. "O Banco do
Brasil procurou-nos, fez contatos, para reclamar [do primeiro
relatório]", disse Serraglio à
Folha, anteontem.
Nesse caso, técnicos apontam
nova incoerência. O relatório
diz que o fundo Visanet, abastecido pelo BB com pagamentos adiantados e sem justificativa, ajudou a abastecer o "valerioduto". Mas o responsável
pelo banco à época, Casseb,
acabou não acusado. Além dos
adiantamentos à Visanet, na
gestão de Casseb o BB direcionou recursos de publicidade às
empresas do publicitário Marcos Valério em detrimento de
outras duas agências que dividiam o contrato com o banco.
O pedido de indiciamento
contra Mattoso, da Caixa, nem
chegou a ser cogitado por Serraglio, embora um estudo técnico do TCU (Tribunal de Contas da União) tenha apontado
que a Caixa beneficiou o banco
BMG no processo de aquisição
da compra da carteira de crédito consignado. O negócio propiciou ao banco mineiro -que
a CPI acusa ter feito empréstimos de fachada para o "valerioduto"- um lucro imediato
de pelo menos R$ 119 milhões.
Mattoso deixou o cargo na
semana passada após revelar
participação na quebra ilegal
de sigilo bancário do caseiro
Francenildo dos Santos Costa,
testemunha da CPI dos Bingos.
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