|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO TUCANATO
Ex-ministro diz ao site Primeira Leitura que levou o caso a FHC e que o tucano é seu candidato
Mendonça livra Serra e acusa Steinbruch
DA REDAÇÃO
Em entrevista ao site Primeira
Leitura, de sua propriedade, o ex-ministro das Comunicações Luiz
Carlos Mendonça de Barros confirma que ouviu do empresário
Benjamin Steinbruch, no segundo semestre de 1998, que ele estaria sendo pressionado a pagar
uma propina no valor de R$ 15
milhões à Previ, que, assim como
o empresário, era parte integrante
do consórcio vencedor do leilão
da Companhia Vale do Rio Doce,
realizado em maio de 1997.
Mendonça de Barros diz que levou o assunto uma semana depois ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Durante um despacho com o
presidente, na semana seguinte
ao encontro com Steinbruch, relatei sua visita e o teor da conversa. Como é de meu feitio, ao levar
essa informação ao presidente,
disse-lhe o que pensava do acontecido. Realcei o inusitado da acusação, principalmente porque já
havia se passado mais de dois
anos do suposto acontecimento",
afirmou o ex-ministro.
Ao ser questionado sobre o fato
de FHC afirmar que não se lembra de ter falado com ele sobre o
assunto, Mendonça responde:
"Não o censuro. É até possível que
não lembre. Mas o fato é que eu
falei. Certamente, porque todos
sabíamos que o processo tinha se
desenvolvido com lisura, nenhum de nós deu maior importância ao episódio".
Na entrevista, Mendonça de
Barros insinua que Benjamin
Steinbruch mencionou o pedido
de propina que teria sido feito pelo ex-diretor do Banco do Brasil
Ricardo Sérgio de Oliveira como
uma forma de chantagear o governo.
Segundo ele, Steinbruch esteve
em seu apartamento em São Paulo, no segundo semestre de 1998.
Nesse dia, afirmou o ex-ministro,
ele pediu ajuda ao governo para
"restabelecer a harmonia do grupo de controle da empresa".
Mendonça de Barros afirmou
que era um "assunto privado, que
não cabia ao governo interferir na
sua dinâmica". Em seguida, segundo o ex-ministro, Steinbruch
mencionou o suposto pedido de
propina. O tucano teria então encerrado a conversa. "Nunca mais
nos falamos depois disso. Nem
por telefone."
Conforme a revista "Veja" noticiou no último final de semana, o
suposto pedido de comissão feito
por Ricardo Sérgio, que foi arrecadador de fundos para campanhas de José Serra e de FHC na década de 90, foi relatado por Steinbruch para Mendonça e o ministro da Educação, Paulo Renato
Souza.
Interesses privados
A Folha procurou durante todo
o dia de ontem Ricardo Sérgio e
Steinbruch para ouvi-los a respeito do caso. Não obteve retorno.
Na entrevista ao seu site, Mendonça de Barros diz que "interesses privados contrariados tentaram criar uma sombra de suspeição sobre as privatizações".
Segundo o ministro, tentou-se
criar uma cortina de fumaça sobre o processo de privatização da
Vale, assim como teria acontecido
com a Telebrás. "Uma nova sombra ameaça pairar sobre uma dessas batalhas tão arduamente vencidas, a venda da Vale do Rio Doce", afirmou o ex-ministro.
Na entrevista, Mendonça descarta participação de Serra no caso. "Reafirmo a convicção de que
o candidato José Serra, a quem
conheço há 40 anos, não se prestaria a esse tipo de ação. Não faz
parte da sua trajetória, da sua história", diz o ex-ministro. "Não seria agora, quando ele procura galgar o degrau mais importante de
sua carreira, que se prestaria a esse tipo de coisa."
Outro conflito
De acordo com o ex-ministro,
houve outro foco de conflito entre
Steinbruch e o governo. "Há outra história, anterior a essa e que
diz respeito à venda do controle
acionário da Acesita, que, por sua
vez, tinha uma participação relevante na CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão)."
Segundo Mendonça de Barros,
"a CSN procurou o BNDES solicitando um empréstimo para realizar essa compra. O empréstimo
foi negado em função do elevado
endividamento da CSN, mas,
principalmente, pelo risco de
concentração de parcela importante do mercado siderúrgico numa única empresa. Isso certamente não seria bom para o país".
"Não tenho dúvida de que essa
decisão criou o primeiro foco de
atrito entre o empresário e o governo", afirmou.
Mendonça de Barros nega ter silenciado sobre o caso. "Em primeiro lugar, não era de minha
responsabilidade funcional tomar
qualquer providência. Estranhei
que tal acusação fosse feita dois
anos depois do início da formação do consórcio, sob a responsabilidade do Banco do Brasil, e em
um momento em que o empresário encontrava-se em dificuldades
com seus sócios."
Texto Anterior: Britto oficializa sua candidatura no RS Próximo Texto: Economista diz que vai "proteger" FHC e Serra Índice
|