São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Ex-ministro diz ao site Primeira Leitura que levou o caso a FHC e que o tucano é seu candidato

Mendonça livra Serra e acusa Steinbruch

DA REDAÇÃO

Em entrevista ao site Primeira Leitura, de sua propriedade, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros confirma que ouviu do empresário Benjamin Steinbruch, no segundo semestre de 1998, que ele estaria sendo pressionado a pagar uma propina no valor de R$ 15 milhões à Previ, que, assim como o empresário, era parte integrante do consórcio vencedor do leilão da Companhia Vale do Rio Doce, realizado em maio de 1997.
Mendonça de Barros diz que levou o assunto uma semana depois ao conhecimento do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Durante um despacho com o presidente, na semana seguinte ao encontro com Steinbruch, relatei sua visita e o teor da conversa. Como é de meu feitio, ao levar essa informação ao presidente, disse-lhe o que pensava do acontecido. Realcei o inusitado da acusação, principalmente porque já havia se passado mais de dois anos do suposto acontecimento", afirmou o ex-ministro.
Ao ser questionado sobre o fato de FHC afirmar que não se lembra de ter falado com ele sobre o assunto, Mendonça responde: "Não o censuro. É até possível que não lembre. Mas o fato é que eu falei. Certamente, porque todos sabíamos que o processo tinha se desenvolvido com lisura, nenhum de nós deu maior importância ao episódio".
Na entrevista, Mendonça de Barros insinua que Benjamin Steinbruch mencionou o pedido de propina que teria sido feito pelo ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira como uma forma de chantagear o governo.
Segundo ele, Steinbruch esteve em seu apartamento em São Paulo, no segundo semestre de 1998. Nesse dia, afirmou o ex-ministro, ele pediu ajuda ao governo para "restabelecer a harmonia do grupo de controle da empresa".
Mendonça de Barros afirmou que era um "assunto privado, que não cabia ao governo interferir na sua dinâmica". Em seguida, segundo o ex-ministro, Steinbruch mencionou o suposto pedido de propina. O tucano teria então encerrado a conversa. "Nunca mais nos falamos depois disso. Nem por telefone."
Conforme a revista "Veja" noticiou no último final de semana, o suposto pedido de comissão feito por Ricardo Sérgio, que foi arrecadador de fundos para campanhas de José Serra e de FHC na década de 90, foi relatado por Steinbruch para Mendonça e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza.

Interesses privados
A Folha procurou durante todo o dia de ontem Ricardo Sérgio e Steinbruch para ouvi-los a respeito do caso. Não obteve retorno.
Na entrevista ao seu site, Mendonça de Barros diz que "interesses privados contrariados tentaram criar uma sombra de suspeição sobre as privatizações".
Segundo o ministro, tentou-se criar uma cortina de fumaça sobre o processo de privatização da Vale, assim como teria acontecido com a Telebrás. "Uma nova sombra ameaça pairar sobre uma dessas batalhas tão arduamente vencidas, a venda da Vale do Rio Doce", afirmou o ex-ministro.
Na entrevista, Mendonça descarta participação de Serra no caso. "Reafirmo a convicção de que o candidato José Serra, a quem conheço há 40 anos, não se prestaria a esse tipo de ação. Não faz parte da sua trajetória, da sua história", diz o ex-ministro. "Não seria agora, quando ele procura galgar o degrau mais importante de sua carreira, que se prestaria a esse tipo de coisa."

Outro conflito
De acordo com o ex-ministro, houve outro foco de conflito entre Steinbruch e o governo. "Há outra história, anterior a essa e que diz respeito à venda do controle acionário da Acesita, que, por sua vez, tinha uma participação relevante na CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão)."
Segundo Mendonça de Barros, "a CSN procurou o BNDES solicitando um empréstimo para realizar essa compra. O empréstimo foi negado em função do elevado endividamento da CSN, mas, principalmente, pelo risco de concentração de parcela importante do mercado siderúrgico numa única empresa. Isso certamente não seria bom para o país". "Não tenho dúvida de que essa decisão criou o primeiro foco de atrito entre o empresário e o governo", afirmou.
Mendonça de Barros nega ter silenciado sobre o caso. "Em primeiro lugar, não era de minha responsabilidade funcional tomar qualquer providência. Estranhei que tal acusação fosse feita dois anos depois do início da formação do consórcio, sob a responsabilidade do Banco do Brasil, e em um momento em que o empresário encontrava-se em dificuldades com seus sócios."


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