São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO /ARQUIVO VIVO

Ex-dirigente diz ao jornal "O Globo" que esquema pretendia arrecadar R$ 1 bilhão

Silvio Pereira fala e complica governo na teia do mensalão

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase um ano depois de desvendado o esquema do mensalão, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira traz novamente a crise do governo Lula para o centro das atenções. Ao conceder entrevista ao jornal "O Globo", publicada na edição de hoje, Silvio dá mais detalhes sobre as ligações do PT com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para arrecadar recursos à legenda.
Segundo o ex-secretário, dirigentes do PT e Marcos Valério traçaram um plano ousado: arrecadar R$ 1 bilhão. Inicialmente, diz Silvio Pereira, consideravam que os recursos poderiam ser obtidos a partir de negociatas que envolveriam bancos em processo de liqüidação no Banco Central (Econômico, Mercantil de Pernambuco e Opportunity).
Na segunda-feira, a CPI dos Bingos vai expedir ofício convocando Silvio Pereira a prestar depoimento no Senado. Ele poderá ser ouvido na quarta-feira.
Apesar de afirmar que quem mandava no PT e intermediava o contato com empresários em busca de arrecadação era um grupo seleto -o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o senador Aloizio Mercadante-, Silvio Pereira não responsabiliza nenhum deles por corrupção nem os liga ao esquema de Valério.
Ao contrário, menciona até que Dirceu não recebia o empresário. No PT, Silvio Pereira era ligado ao ex-ministro. Quando se imaginava que o rombo do PT era de R$ 55 milhões (dinheiro que o partido teria obtido via Marcos Valério), Silvio surpreende ao revelar que, no fim de 2003, a dívida da legenda era de R$ 120 milhões.
Uma das novidades reveladas por Silvio é que o esquema envolveria uma espécie de consórcios de empresas, ligadas a Valério, que agiam em conluio para fraudar licitações no governo.
A CPI dos Correios constatou ilegalidades em licitações na ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), mas não investigou licitações de outras estatais. Os lucros das operações, segundo insinua o ex-secretário, eram distribuídos para partidos, como o PT, o PTB e outros da base aliada.
O ex-petista afirma na entrevista a "O Globo" que procurou a atual direção do PT para fornecer tais informações. Procurado pela Folha, o presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, desqualificou Silvio Pereira: "Não levo muito a sério esse cidadão. Ele não merece o meu respeito. Quem fez o que ele fez mostra que não tem caráter. Perder o sábado por causa disso é bobagem".
Depois de ler a entrevista, Berzoini disse que Silvio nunca o procurou para falar sobre o mensalão e que o ex-secretário-geral está "desequilibrado". Considerou a entrevista "de baixa relevância".
Para Berzoini, Silvio denota "mágoa" por sua situação partidária. "A entrevista é confusa, desequilibrada, mostra uma pessoa magoada, que se sente prejudicada por sua situação no partido. Parece que falou sem medir."
Berzoini disse que o PT não tem por que se opor ao depoimento de Pereira à CPI dos Bingos.
Outra revelação de Silvio Pereira é que a direção do PT, no ano passado, procurou Valério para propor um acordo logo depois que o escândalo estourou. O empresário teria dito que ou contava tudo e derrubava a República, ou contava parcialmente, ou seria assassinado, como PC Farias (tesoureiro de Fernando Collor).
Silvinho, como é chamado pelos colegas petistas, deu claros sinais de que está psicologicamente abalado (leia texto ao lado). Há trechos contraditórios na entrevista, sobretudo quando fala da responsabilidade dos dirigentes do partido. Para a oposição, o ex-secretário liga Lula diretamente ao esquema e deixa claro que o presidente sabia de tudo.
Os petistas rejeitam essa tese e acham que fica claro na entrevista que o presidente não teve conhecimento das tramas da antiga direção partidária.
"Não vejo nenhuma novidade nessas declarações. A idéia de que poderia haver uma meta de arrecadação eu acho uma coisa completamente fantasiosa. Basta um mínimo de raciocínio elementar. É absolutamente inviável qualquer partido traçar uma perspectiva nessa direção [R$ 1 bilhão]", disse Mercadante.
A Folha apurou que, segundo avaliação da cúpula do PT, o ex-secretário mistura fatos verdadeiros com ficção, de forma desconexa e fragmentada. Ainda assim, os petistas temem a volta da crise e implicações na campanha de reeleição de Lula.


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