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ELIO GASPARI
A Petrobras brinca de rainha Victoria
A idéia segundo a qual os bolivianos são bugres incapazes de entender a política de investimentos dos petroçábios, bem
como a crença segundo a qual o
compañero Evo Morales pode fazer o que quiser em nome dos direitos do povos indígenas espoliados pelo colonialismo, são o melhor caminho para não se chegar
a lugar algum.
A Petrobras pagará mais caro
pelo gás boliviano e quem acredita no contrário corre o risco de fazer papel de bobo. Nos últimos
dois anos, o barril de petróleo foi
de US$ 40 para US$ 70 e esse choque forçou a renegociação de 99
em cada cem contratos de fornecimento de gás pelo mundo afora.
Os petrodiplomatas desdenharam os pleitos dos bolivianos, as
ponderações do Itamaraty e as
preocupações do Planalto. Depois
de meio século de trabalho para
se conseguir a auto-suficiência de
petróleo, criaram a auto-dependência do gás -75% do gás usado em São Paulo vem da Bolívia.
Por mais que se veja Evo Morales como um governante pitoresco
ou que se atribuam superpoderes
ao Brasil, vale lembrar uma crise
ocorrida na segunda metade do
século 19, na qual fica difícil saber
qual governante fez papel mais
ridículo.
Entre 1864 e 1871, a Bolívia foi
governada pelo general Mariano
Melgarejo, uma espécie de sósia
de Evo Morales, de cabeça para
baixo. O general era careca e tinha uma vasta barba. O embaixador inglês em La Paz desgostou
o presidente. Pode ter sido porque
se recusou a beijar o traseiro da
amante do general ou porque não
quis apresentar credenciais a
uma mula. Melgarejo mandou
que tirassem a roupa do inglês e o
colocassem na sela de um burrico,
para divertimento dos bolivianos.
Esse é o lado latino-americano
da história. Agora, o europeu:
Quando a humilhação imposta
ao diplomata chegou ao conhecimento da rainha Victoria, ela determinou ao primeiro-ministro
Palmerston que bombardeasse La
Paz. Veio a informação de que,
encarapitada na cordilheira, a
Bolívia estava fora do alcance das
canhoneiras inglesas. Victoria pediu que trouxessem um mapa.
Quando mostraram-lhe onde ficava o país, ela riscou o mapa
com um golpe de pena e anunciou: "A Bolívia não existe mais".
Toda bravata boliviana ecoa o
general Melgarejo, mas as respostas arrogantes da Petrobras
ecoam a pretensão da rainha Victoria.
Dona Rebecca do gasoduto cria gado
Recordar é viver. A percepção
do tamanho do mico do gasoduto
boliviano (US$ 8 bilhões de dólares, contratados durante o tucanato) trouxe de volta às lembranças dos negociadores brasileiros a
esplêndida figura de Rebecca
Mark, principal executiva da
Enron International. Ela mal
completara 40 anos quando entrou no circuito da privataria brasileira com um diploma de Harvard, saltos agulha e saias curtas.
Viajava no Citation da empresa,
encantava burocratas e era acompanhada pela lenda segundo a
qual sua bagagem incluía malas
de dólares. Telefonava de manhã
e chegava para jantar à noite. Foi
considerada uma das mulheres
mais competentes e poderosas do
mundo de negócios americano.
A Enron comprou reservas de
gás na Bolívia e articulou-se para
empurrar o gasoduto nas costas
do Brasil. Uma das bases de persuasão funcionava em Londres.
Dona Rebecca sumiu do mapa
em 2000, um ano antes da explosão da Enron. Fechou sua conta
com os acionistas fraudados pela
empresa ao preço de um cheque
pessoal de US$ 5,2 milhões. Hoje
vive com o marido e os filhos num
rancho no Novo México, onde
cria gado de raça.
Bunker do Adolfo
O comando da campanha do
PSDB à Presidência de República merece o apelido de
"bunker do Adolfo". Em abril
de 1945, brigava-se mais pelo
poder na casamata de Hitler,
debaixo da Chancelaria do
Reich, do que no Kremlin ou
no QG dos Aliados, em
Reims. Todos sabiam que os
russos estavam a 20 km de
distância, mas isso parecia
não ter importância. Cearenses brigam com paulistas, papeleiros com desenvolvimentistas e pesquisistas com marqueteiros. Todos fazem isso
acreditando que os eleitores
tem a obrigação de votar no
doutor Geraldo Alckmin,
porque reeleger Lula é coisa
de pobre.
UniLula
Alguém deveria pedir ao
"nosso guia" que se abstenha
de comparar o processo de
criação do Mercado Comum
Europeu com o Mercosul. Na
Europa, gastaram-se 50 anos
colocando tijolos na construção da casa. Só depois disso
fez-se a cúpula. Nas palavras
do historiador inglês Tony
Judt, "a Comunidade Européia baseou-se na fraqueza,
não na força". No Mercosul
ocorreu o contrário. Deu no
que deu.
Geisel avisava
De 1957, quando foi nomeado
representante do Exército no
Conselho Nacional do Petróleo, a 1979, quando deixou a
Presidência da República, o
general Ernesto Geisel batalhou contra a construção do
gasoduto boliviano. Às vezes
foi abertamente contra a
idéia. Em alguns casos, cozinhou os grupos de interesse.
Seu argumento era o seguinte:
"E quando aqueles bolivianos
fecharem a válvula, o que é
que eu faço? Mando o Exército lá abrir?"
O petroduto Chávez
O presidente venezuelano
Hugo Chávez tem distribuído mimos entre os brasileiros que defendem sua política. Até aí, nada demais, se os
presentinhos forem declarados ao fisco. Do contrário, o
coronel Chávez corre um
risco: Lula pode ser informado das ramificações de
petroduto pelo governo
americano, interessadíssimo em envenenar as relações dos compañeros.
Tribuna suíça
O Banco Credit Suisse convida alguns de seus clientes
para uma "Conversa com
José Dirceu" na terça-feira.
Depois da conversa será servido um coquetel.
Bolsa-Povo
Lula acha que a elite são os
outros e diz que o Brasil é
um país de todos. Em 1980,
"nosso guia" ficou preso 31
dias e perdeu a presidência
do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Por
conta disso recebe uma Bolsa-Ditadura de R$ 4.294
mensais. (Provavelmente
será aumentado a partir deste mês.) Isso acontece no andar de cima. No de baixo, o mecânico pernambucano
Marcos Mariano da Silva
passou 19 dos seus 57 anos
na cadeia por um homicídio
que não cometeu. Uma
bomba da PM cegou-o durante um motim. Abandonado pela família, não teve
visitas. Na semana passada,
o governador José Mendonça Filho concedeu-lhe uma
pensão de R$ 1.200. Se a
pensão do brasileiro Mariano tivesse seguido os cálculos do Bolsa-Ditadura de
"nosso guia" (R$ 138 por dia
de cana), sua pensão seria de
R$ 960 mil mensais.
Bolsa-Férias
Nos próximos quatro domingos, o signatário receberá sua remuneração sem o
desconforto de ter de trabalhar.
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