São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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LICITAÇÕES SUSPEITAS

Empresas envolvidas no esquema das ambulâncias foram citadas em irregularidades com veículos escolares

Fraudes podem ter atingido Educação em MT

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Empresas que aparecem no suposto esquema da compra de ambulâncias superfaturadas -com dinheiro da Saúde desde 2001- podem ter desviado recursos também do Ministério da Educação, em Mato Grosso.
Na investigação sobre a compra superfaturada de ambulâncias, a Polícia Federal divulgou ontem em Cuiabá uma perícia sobre 162 processos de licitação feitos em 36 prefeituras. O objetivo dessas licitações era a compra de vans usadas como ambulâncias, de ônibus para atendimento médico, além da aquisição de equipamentos médicos e odontológicos.
A perícia constatou superfaturamento de até 259,08% e apontou que três empresas (Santa Maria, Comercial Rodrigues e Klass) ganharam 158 das 162 licitações.
Essas empresas fariam parte do esquema de desvio de cerca de R$ 110 milhões, desde 2001, de recursos do Ministério da Saúde.
O esquema envolveria parlamentares do Congresso que apresentavam emendas para a compra de ambulâncias, funcionários do ministério que liberava a verbas, prefeituras e empresários.
Foram presos dois ex-deputados federais, Ronivon Santiago (PP-AC) e Carlos Rodrigues (PL-RJ) e pelo menos dez assessores e ex-assessores de congressistas.
Em 2004, a CGU (Controladoria Geral da União), em fiscalização nas prefeituras municipais de Cláudia e Salto do Céu -em Mato Grosso- apontou "indícios de irregularidades em licitação para aquisição de veículo escolar".
A suposta fraude envolveu também as empresas Santa Maria, Comercial Rodrigues e Torino Comercial de Veículos, que aparecem no escândalo das ambulâncias, mas negam envolvimento.
Em Cláudia (MT), o Ministério da Educação repassou à prefeitura R$ 75,5 mil para compra de um microônibus de 24 lugares, destinado ao transporte escolar. A CGU apontou que Enir Rodrigues de Jesus, proprietária da empresa Comercial Rodrigues concorrente na licitação, é mãe das sócias da Santa Maria, a vencedora.
"O endereço da empresa Santa Maria não foi localizado. Outro fato grave constatado foi que, apesar de a Santa Maria ter vencido o certame, o veículo foi adquirido da empresa Torino Comercial", diz a CGU. Enir Rodrigues, mãe da sócias da Santa Maria, está entre os que tiveram prisão decretada no caso das ambulâncias, disse o delegado Tardelli Boaventura.
O delegado disse que a investigação sobre a Saúde ainda não abrange as supostas fraudes da Educação.
No caso de Salto do Céu, o Ministério da Educação liberou R$ 68 mil para a compra de ônibus escolar. As mesmas empresas participaram da licitação e saiu vencedora a Santa Maria.
A CGU apontou direcionamento da licitação e disse a "empresa Santa Maria sagrou-se vencedora de todas as licitações de que participou em outros municípios".

Outro lado
O Ministério da Educação informou que o repasse para compra de ônibus escolares era feito pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
A assessoria do FNDE informou que, quando há irregularidade na aplicação de verbas, a CGU envia o processo ao Tribunal de Contas da União, que então aciona as prefeituras. "O FNDE não cometeu irregularidades. Se é que houve irregularidades, foram das prefeituras", informou a assessoria.
A reportagem tentou falar com as prefeituras envolvidas, mas não conseguiu contato.


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