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Lula evitará discutir com papa propostas feitas pelo Vaticano
Santa Sé quer ensino religioso obrigatório na rede pública e garantias que dificultem eventual legalização do aborto
Presidente é orientado pelo Itamaraty a prolongar as negociações sobre eventual tratado; encontro com Bento 16 acontece na quinta
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LEANDRO BEGUOCI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva priorizará temas sociais na visita que Bento 16 fará
ao Brasil entre os dias 9 e 13
deste mês. Lula pretende evitar
temas polêmicos, como a eventual legalização do aborto.
Segundo a Folha apurou, um
tratado (o termo técnico é Concordata) proposto pelo Vaticano ao Brasil sofre fortes restrições do Itamaraty. Atualmente, não há esse tipo de tratado
entre Brasil e Vaticano.
Na proposta do Vaticano, o
Brasil deveria tornar obrigatório o ensino religioso nas escolas públicas e instituir garantias legais e constitucionais que
dificultassem eventual legalização do aborto fora dos casos
permitidos (estupro e risco à
vida da gestante). O papa é contra inclusive nessas hipóteses.
O Itamaraty aconselhou o
presidente a evitar a assinatura
de eventual novo tratado e a
prolongar as negociações, de
modo que nada seja oficializado agora (e talvez nem no futuro). É o que Lula pretende dizer
ao papa, polidamente, no encontro marcado para a próxima quinta-feira, em São Paulo.
Para o Ministério das Relações Exteriores, os termos propostos pelo Vaticano contrariam o princípio de separação
entre Estado e igreja. E provavelmente desagradaria a outras
igrejas, que poderiam tentar
influenciar a pauta do governo
caso fossem feitas concessões.
Por isso, o presidente pretende falar de suas iniciativas
de combate à pobreza, como o
Bolsa Família. Essa agenda
agrada aos setores progressistas da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
que são identificados com o PT.
A Igreja Católica, contudo,
não dá sinais de que pretende
desistir do acordo. À Folha, o
cardeal Tarcisio Bertone, número dois da hierarquia da
Santa Sé, disse que o Vaticano
elabora um acordo global e que
espera que esse tratado possa
ser ultimado ainda neste ano,
"para poder orientar Igreja e
Estado, Igreja e comunidade
política para o bem das pessoas
e para a resolução de problemas que possam subsistir".
O acordo interessa também a
uma boa parte dos bispos do
Brasil. Quando d. Claudio
Hummes foi nomeado "ministro" do papa no Vaticano, reservadamente bispos disseram
que o acordo poderia sair mais
rápido, diante da sua amizade
com Lula. O tema, contudo, é
mantido em mistério. A declaração de Bertone é a única frase
pública sobre o assunto.
A agenda do Vaticano ainda
inclui oposição aos métodos
contraceptivos, à eutanásia, à
união civil entre pessoas do
mesmo sexo e à pesquisa com
embriões humanos.
Lula já se manifestou contra
o aborto, mas é dúbio a respeito
da eventual ampliação de possibilidade de interrupção da
gravidez, além das hipóteses
atuais. Pesquisa Datafolha de
abril mostrou que 65% dos entrevistados avaliam que a atual
legislação não deve mudar.
Pesquisas com embriões inviáveis para gravidez são defendidas pelo governo, e Lula
se disse favorável à união civil
entre pessoas do mesmo sexo,
mas quer evitar esses temas no
encontro da próxima quinta.
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