São Paulo, quinta-feira, 07 de maio de 2009

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JANIO DE FREITAS

Uma erupção


Que reforma política poderia sair da bancada governista e do atual Congresso, vistas as razões da sua desmoralização?


A ÁREA POLÍTICA do governo, incluída a "base aliada", volta a falar em reforma política para já, com alterações já para as eleições do próximo ano, entre outras. Que reforma, porém, poderia sair das bancadas governistas e mesmo do atual Congresso como todo, vistas as razões da sua desmoralização? A coincidência entre a reconhecida necessidade e a oportunidade de reforma ainda durante o governo é, muito além de polêmica, preocupante e até ameaçadora.
Não há motivo nem meios para supor-se que uma reforma conduzida pela maioria governista -não por ser governista, mas por ser tal qual é- escaparia de servir aos interesses das cúpulas partidárias da "base aliada" e ao fisiologismo sem limites que caracteriza sua associação com Lula. Crer na força da opinião pública, para balizar a reforma, revela otimismo admirável, no entanto desautorizado por antecipação.
De tudo o que se viu na Câmara nos últimos anos e do que extravasou do Senado nas últimas semanas, a opinião pública não recebeu, como satisfação, mais do que manobras que nada mudam no essencial.
Apenas alteram, ou alterariam se efetivadas, algumas formas e denominações, nesse ou naquele cargo da burocracia interna e em uma ou outra devolução. E transferência dessa técnica, dos questionamentos atuais para a reforma, por certo não se passaria sem a solidariedade, no mínimo ela, de quem seria o principal orientador do reformismo azeitado. Não foi ele que agora mesmo, em prenúncio esclarecedor, definiu como hipocrisia as revelações e críticas ao vale-tudo financeiro da vida no Congresso?
É natural a defesa de Lula em favor de passagens livres, ganhos extras, falta de comprovantes e outros privilégios tomados pelos congressistas. Ele, afinal de contas, deu nada menos do que uma telefônica. Entende-se, pois, que dele não possa partir a compreensão de que a moradia, em Brasília, de deputados e senadores é paga com dinheiro público para que lá morem. E não para que passem apenas as noites de terça e quarta, quando passam, e com isso façam com parentes e amigos um turismo aéreo às custas do imposto alheio.
O argumento mais ouvido em favor do repentino reformismo é conveniência de renovação dos quadros parlamentares. Mas renovação, por si só, nada significaria. O Senado, produtor das manchetes mais gritantes na temporada corrente, renovou-se com a entrada de muitos suplentes. Só piorou. Não representam o eleitorado, é verdade, porque nenhum é portador de um voto sequer. Apesar disso, não há dúvida de que todos, ou quase, se tiveram como chegar à suplência, chegarão às listas partidárias na quais se votaria, em vez de fazê-lo nos candidatos -segundo a ideia mais geral da reforma.
A segunda possibilidade de segunda reeleição e mesmo a mais difícil extensão do mandato vigente por mais um ano não deixariam de ser mencionados, é claro, como propósito de reforma nascido logo em seguida às indagações sobre Dilma Rousseff. Menos ou mais verazes que os outros, nem por isso alterariam a preocupação e mesmo a ameaça implícita na erupção de reformismo governista.


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