São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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ANÁLISE

Para não errar, todos evitam confronto

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quando chegou a hora das considerações finais no encontro de ontem entre candidatos a presidente, Marina Silva (PV) teve o maior poder de síntese.
"Acho que foi um bom ensaio", disse ela, citando nominalmente os seus dois adversários ali presentes, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Por imposição de Serra e Dilma, não há debates nesses encontros. Os dois só aceitam comparecer na condição de não terem de se submeter a indagações diretas, um do outro. Ontem, cada um dos três respondeu a quatro perguntas iguais.
Dizer que responderam às perguntas é uma generosidade.
Quando tiveram de falar sobre royalties do petróleo, cada um disse o que bem entendeu. Ninguém podia interpelá-los.
Esse engessamento livrou os candidatos da pressão natural de um debate real, com réplicas e tréplicas, quando os políticos correm mais riscos de errar. Todos jogaram na retranca. Proliferaram elogios mútuos.
"Eu concordo com o Serra no que diz respeito aos royalties da mineração", disse Dilma. Já Serra afirmou ser necessário um "reconhecimento" a Dilma, que como ministra "não fez nenhum tipo de discriminação" quando ele esteve na prefeitura ou no governo de São Paulo.
Marina, neutra e sentada entre Serra e Dilma, serviu de escada. Nas transições entre um pensamento e outro, para dar ênfase, tanto o tucano como a petista apelavam para interjeições do tipo "viu, Marina?".
O nível de beligerância no encontro só apareceu na plateia, em algumas vaias contidas contra Dilma e Serra.
Nada impedia um candidato de alfinetar o outro ao dar uma resposta, mas todos evitaram esse caminho.
Ocorreu exatamente o oposto. O tucano elevou ao paroxismo sua fase light ao dizer que convidará o PT e o PV para seu governo caso seja eleito.
O baixo grau de fricção é deliberado. Serra e Dilma lideram a corrida presidencial. Agora, fogem dos erros. Querem chegar sem avarias na largada para valer, em agosto, no início da propaganda em rádio e TV.
Foi um encontro do qual os três saíram incólumes. "Um bom ensaio", ponderou Marina Silva. Mas muito mais morno do que será a campanha quando houver debates reais.


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