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ANÁLISE
Para não errar, todos evitam confronto
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quando chegou a hora das
considerações finais no encontro de ontem entre candidatos
a presidente, Marina Silva (PV)
teve o maior poder de síntese.
"Acho que foi um bom ensaio",
disse ela, citando nominalmente os seus dois adversários ali
presentes, José Serra (PSDB) e
Dilma Rousseff (PT).
Por imposição de Serra e Dilma, não há debates nesses encontros. Os dois só aceitam
comparecer na condição de não
terem de se submeter a indagações diretas, um do outro. Ontem, cada um dos três respondeu a quatro perguntas iguais.
Dizer que responderam às
perguntas é uma generosidade.
Quando tiveram de falar sobre
royalties do petróleo, cada um
disse o que bem entendeu. Ninguém podia interpelá-los.
Esse engessamento livrou os
candidatos da pressão natural
de um debate real, com réplicas
e tréplicas, quando os políticos
correm mais riscos de errar.
Todos jogaram na retranca.
Proliferaram elogios mútuos.
"Eu concordo com o Serra no
que diz respeito aos royalties da
mineração", disse Dilma. Já
Serra afirmou ser necessário
um "reconhecimento" a Dilma,
que como ministra "não fez nenhum tipo de discriminação"
quando ele esteve na prefeitura
ou no governo de São Paulo.
Marina, neutra e sentada entre Serra e Dilma, serviu de escada. Nas transições entre um
pensamento e outro, para dar
ênfase, tanto o tucano como a
petista apelavam para interjeições do tipo "viu, Marina?".
O nível de beligerância no encontro só apareceu na plateia,
em algumas vaias contidas contra Dilma e Serra.
Nada impedia um candidato
de alfinetar o outro ao dar uma
resposta, mas todos evitaram
esse caminho.
Ocorreu exatamente o oposto. O tucano elevou ao paroxismo sua fase light ao dizer que
convidará o PT e o PV para seu
governo caso seja eleito.
O baixo grau de fricção é deliberado. Serra e Dilma lideram a
corrida presidencial. Agora, fogem dos erros. Querem chegar
sem avarias na largada para valer, em agosto, no início da propaganda em rádio e TV.
Foi um encontro do qual os
três saíram incólumes. "Um
bom ensaio", ponderou Marina
Silva. Mas muito mais morno
do que será a campanha quando houver debates reais.
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