São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Depoimento de secretário não está em inquérito

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal em São Paulo não incluiu no inquérito sobre um suposto integrante da máfia chinesa o depoimento de Romeu Tuma Jr., secretário nacional de Justiça do ministério homônimo. A ausência dessa peça pode, em tese, significar supressão de prova.
Na investigação, a PF diz ter encontrado indícios de que Tuma Jr. dava proteção a um aparente membro desse grupo, o chinês naturalizado brasileiro Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li. No depoimento, Tuma Jr, confirma que é amigo de Li, mas afirma desconhecer os negócios dele.
O chinês está preso desde setembro do ano passado sob acusação de importar ilegalmente telefones celulares para o Brasil. Em outro inquérito, é acusado de cobrar para regularizar a situação de chineses ilegais no país. Para a PF, Li contaria com o apoio de Tuma Jr. para obter a regularização.
O procurador da República que atua no caso das importações irregulares, Marcos José Gomes Corrêa, diz que não denunciou Tuma Jr. nesse inquérito por considerar que não havia provas contra ele.
"Fiquei abismado. Não sei o que fizeram com o depoimento", disse Tuma Jr. ao ser informado pela Folha de que o depoimento não fazia parte do inquérito. Ele afirmou acreditar que essa ausência pode significar supressão de provas.
Tuma Jr. prestou o depoimento em setembro do ano passado, num sábado, dias depois da prisão de Li, um instrutor de kung fu que é ligado à família Tuma desde os anos 90. Foi à Superintendência da PF em São Paulo sem advogado.
Confirmou que Li foi seu assessor parlamentar quando era deputado estadual pelo PMDB, entre 2003 e 2006. Negou que ele tenha sido seu assessor no Ministério da Justiça, como está estampado num cartão de visitas apreendido pela PF na academia de kung fu de Li, na Liberdade, em São Paulo.
O secretário nacional de Justiça diz ter ido espontaneamente à PF porque temia a exploração política da prisão do amigo.

Outro lado
A assessoria de comunicação da PF em São Paulo diz que a decisão de não juntar o depoimento ao inquérito foi técnica, sem intenções de proteger ou prejudicar Tuma Jr.
De acordo com a assessoria, o delegado Rodrigo Campos Costa julgou que o depoimento de Tuma Jr. não tinha relação com a investigação sobre a importação de celulares.
Em relatório de setembro do ano passado, o policial sugeriu que fosse aberto um inquérito específico para tratar da relação de Tuma Jr. com Li. Sete meses depois dessa sugestão, não foi aberto esse inquérito.
A PF diz que não fez um interrogatório com Tuma Jr., só tomou um depoimento espontâneo, peça em que o suspeito pode dizer o que lhe convier.


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