São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

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PIRATARIA/OUTRO LADO

Aline Corrêa Andrade afirma que nem foi procurada pela comissão nem tem nenhum processo

Filha de deputado diz que CPI é injusta

DO ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Procurado pela Folha desde o último dia 28, o deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) se recusou a receber a reportagem para falar a respeito do relatório da CPI da Pirataria entregue ao Congresso com denúncias de suposto envolvimento do parlamentar com uma organização criminosa.
A filha de Corrêa, Aline Lemos Corrêa de Oliveira Andrade, e o advogado de José Antonio Neuwald e de Aline, Fernando Jacob Filho, negaram todas as acusações. "Eu acho injustas essas acusações demais. Se eu sou filha de político e meu marido é empresário, não posso ser mentora de uma organização criminal", disse.
Jacob disse que sua cliente foi "vítima de um estelionato" após ter entrado numa sociedade empresarial com o filho do empresário Ari Natalino, Herick da Silva.
"Usaram uma assinatura falsa dela para levar um contrato que ela havia feito e estava aguardando a autorização [de uma concessionária de veículos] para levar a registro na Junta Comercial."
"Ela teve muito prejuízo porque protestaram títulos dela, há reclamações trabalhistas contra ela. Então ela entrou com uma ação para declarar rescindido o negócio", disse o advogado.
Segundo Aline, ela conheceu Herick "em reuniões" e ele aparentava ser um empresário bem-sucedido, por possuir "350 postos de gasolina, dois aviões, helicóptero", contra o qual, entre 1999 e 2000, não existiriam suspeitas.
Nem o advogado nem Aline acusaram Herick de ser o autor da suposta irregularidade. "A polícia é que vai apurar."
"Eu não tenho nada [contra mim], nenhum processo. As coisas que eu tenho, procuro resolver da melhor forma", afirmou Aline. Ela ironizou a acusação de que é "mentora" do grupo. "Olhe pra mim e veja se eu tenho condição."
"Eu não conheço esse relatório, não fui chamada [a dar explicações], não fui citada. Não posso nem lhe dizer sobre CPI da Pirataria", disse a empresária. Ela contou ter sido contatada, junto com Neuwald, por outra CPI, a do Roubo de Cargas, para dar explicações sobre seus negócios com o empresário Ari Natalino.
O advogado disse que Neuwald já esclareceu à polícia seus relacionamentos comerciais com Natalino e negou qualquer irregularidade. "Isso [o resultado da CPI do Roubo de Cargas] veio para a polícia. Quando o José Antonio foi lá, esclareceu os fatos, mostrando documentos, atas de reuniões de empresas das quais ele teria saído antes de acontecerem fatos mencionados lá e sobre os quais fizeram certas confusões, isso esclareceu. Eles não foram chamados para nada, acabou", disse Jacob.
O advogado informou que uma apreensão de cigarros da empresa Cibrasa foi "bem posterior ao dia em que ele deixou a presidência" da empresa. "Na época dele não houve nenhuma irregularidade."
"A primeira vez que fui com José Antonio [dar explicações] foi na Polícia Federal, em agosto do ano passado. Nunca mais foi chamado", disse. Neuwald, segundo Jacob, gostaria de dar falar sobre o assunto, mas viajava a trabalho.
Aline disse que muitas vezes entrou em sociedades de empresas com Neuwald, mas era ele sempre o responsável pela administração.
"Ela é sócia, mas não tem ingerência nem administração, ele [Neuwald] é que faz tudo", resumiu o advogado Fernando Jacob.

Deputado e ANP
A Folha tentou o primeiro contato com o deputado Pedro Corrêa em 28 de maio, às 10h30. A chamada foi atendida pela mulher do deputado, Maria Adélia. Ela informou à reportagem que o marido dera "uma saída". A reportagem deixou um recado.
A resposta ao recado foi dada pela assessora de imprensa do deputado, Lúcia Moreira, às 11h. Informada sobre o teor da reportagem, ela disse que tentaria localizá-lo. Às 12h, a assessora ligou para a Folha e disse que Corrêa se encontrava em viagem ao interior de Pernambuco, o que tornava impossível encontrá-lo.
Na última quarta-feira, a Folha tentou novamente falar com o deputado. A primeira chamada foi atendida por uma assessora, que informou ser impossível falar com Corrêa, pois estaria em uma reunião. Nova tentativa: ele também não poderia falar porque estaria em um almoço. A Folha acionou, então, a assessora de imprensa. Lúcia Moreira informou que Corrêa não concederia entrevista. A reportagem pediu que a negativa fosse formalizada por fax, o que não aconteceu até o fechamento desta edição.
A empresa Power Química não conseguiu da ANP autorização para atuar na comercialização de solventes. O pedido de registro foi encaminhado à ANP em maio de 2002 e indeferido em fevereiro de 2003. Havia irregularidades na documentação -entre outras, a empresa forneceu à agência um outro CNPJ (cadastro de pessoa jurídica) que não o seu.
O embaixador Sebastião do Rego Barros não concedeu entrevista à Folha, quando a assessoria de imprensa foi acionada pela reportagem, no dia 27 de maio. O assessor de imprensa Luiz Fernando Manso disse que "o embaixador nunca recebeu nenhum pedido do deputado Pedro Corrêa para interceder a favor da empresa Power Química". Ressalvou, no entanto, não ter condições de afirmar se Rego Barros foi procurado pelo deputado para tratar de outros assuntos. (RV e AM)



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