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Relator diz que ainda não sabe se
comissão vai denunciar políticos
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O relator da CPI da Pirataria,
deputado federal Josias Quintal
(PMDB-RJ), diz que há uma "negligência e uma incompetência
das instituições policiais e fiscalizadoras" para inibir o contrabando e a pirataria. Quintal pretende
apresentar seu relatório aos demais membros da CPI na terça.
A Folha apurou que há uma discussão entre os membros se o relatório deve ou não apontar o deputado Pedro Corrêa, presidente
nacional do PP, como um dos envolvidos no esquema de pirataria.
Quintal não adiantou se do documento constará alguma denúncia
contra políticos. "O que tiver,
vai." Depois disse: "Isso aí eles [os
deputados] vão decidir depois."
Folha - O que traz o relatório final
da CPI da Pirataria, que deve ser lido na terça-feira na Câmara?
Josias Quintal - O relatório aborda diversas questões relacionadas
à sonegação, pirataria e falsificação. Faz um diagnóstico dessa situação no Brasil e procura mostrar a raiz do problema, aponta alguns nomes e algumas situações e
deixa para o governo e a sociedade um referencial, uma crítica a
todas essas questões, de modo
que o Brasil, através das autoridades e da sociedade, defina que
modelo de país a gente quer. Não
se pode deixar que o Brasil vá se
desregulamentando a cada dia,
porque isso contraria qualquer
princípio de organização do Estado. O papel da CPI é fazer um
diagnóstico, apresentar propostas
e fazer as críticas àqueles organismos que falham no processo de
fiscalização e controle, como Receita, Estado, municípios e governo. No caso de Brasília, isso é emblemático. A capital do país tem
uma feira de importados onde se
vende livremente produtos contrabandeados e pirateados.
Folha - O sr. diria que isso está
disseminado em todo o país? Faz
parte da cultura do brasileiro adquirir esse tipo de produto?
Quintal - Sim, eu diria que, erroneamente, está fazendo parte da
cultura e tem de ser revertido. É
um processo que cresce e vai ficando incontrolável. Daqui a
pouco, de onde tirar tributos para
garantir serviços essenciais?
Folha - Como vê o fato de Law Kin
Chong nunca ter sido preso antes?
Quintal - Isso revela uma negligência e uma incompetência das
instituições policiais e fiscalizadoras. Revela também uma omissão
da própria Prefeitura de São Paulo. Além disso, há o governo federal, que tem uma política de tributos que estimula todo o tipo de sonegação. As instituições também
não fiscalizam -as receitas federal e estaduais, além das polícias
federal e de outros Estados. O Law
montou um império nas barbas
das instituições. Quantas vezes a
galeria Pajé e a 25 de Março foram
palco de ações policiais, com flagrantes, e continuam operando?
A prefeitura não pode conceder
alvará para ambientes onde se
praticam ações ilícitas. Ninguém
vai ficar imune a uma crítica.
Folha - Há políticos envolvidos? O
sr. cita isso no relatório?
Quintal - Não, eu não vou adiantar, mas tem muita coisa. O relatório tem de ser aprovado pelos
deputados. O que tiver, vai.
Folha - Quanto o Estado deixa de
arrecadar com a pirataria?
Quintal - Só no cigarro, estimativas antigas dão conta de uma
fraude que ultrapassa R$ 1,8 bilhão. Na área de combustível, estima-se duas vezes esse valor. Calçados, brinquedos, CDs, livros...
Em qualquer faculdade há copiadoras de livros. Isso é uma fraude.
Folha - O que o sr. sugere para eliminar essas ações ilícitas?
Quintal - Precisa ter um órgão
central que faça o acompanhamento disso e promova uma ligação entre as instituições que são
responsáveis pelo combate às
fraudes. O comitê interministerial
que existe não disse ao que veio.
Um exemplo que demonstra a
omissão ou comprometimento
das autoridades: no Paraguai, eles
fazem comboios de 200 ônibus
para intimidar a polícia, que não
consegue fiscalizar. Por outro lado, o órgão que faz o controle das
estradas não tem uma norma que
casse a licença desses ônibus.
Folha - A CPI identificou os principais focos de contrabando?
Quintal - O Paraguai é o grande
celeiro do contrabando de cigarros e CDs. O Paraguai consome 4
milhões de CDs, fabrica 3 milhões
e importa 100 milhões. O Porto de
Paranaguá (PR) é uma incógnita.
É um porto livre que atende o Paraguai e não é fiscalizado.
Folha - A China figura como?
Quintal - A China é uma questão
delicada, mas vai ter de ser tratada
também. O Brasil está infestado
de produtos chineses. Qual a fonte disso: contrabando. O nosso
governo é falho. As barreiras não
existem, a fiscalização inexiste.
Folha - O sr. diz que a prefeitura
paulistana também é responsável
pela existência de atividades ilegais. Em outras capitais não há focos tão grandes como em S. Paulo?
Quintal - Há também. Em Brasília, Rio, Nordeste. Não há cidade
no Brasil que não tenha liberdade
de venda de produtos pirateados.
Folha - Para ficar claro: no relatório que o sr. vai apresentar, tem nome de político envolvido?
Quintal - Não sei. Isso aí eles [os
deputados da CPI] vão decidir depois, você vai conhecer depois.
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