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CRISE NA BASE
Posição tenta mudar voto de senadores dissidentes com mesmo discurso usado para assegurar vitória na Câmara
De olho no mínimo, governo cobra lealdade no Senado
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo inicia nesta semana
operação para tentar contornar a
dissidência em sua base de apoio
no Senado, que ameaça se aliar à
oposição e derrubar a medida
provisória que estabeleceu o salário mínimo em R$ 260. Espera-se
para amanhã a ida do ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
para conversar com as bancadas
governistas na Casa.
O discurso oficial do Palácio do
Planalto, que será ressoado no
Congresso por Palocci e por Aldo
Rebelo (Coordenação Política),
será o mesmo da Câmara: o de
que ninguém mais do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
queria um aumento maior, mas
que, para não comprometer investimentos sociais e em infra-estrutura, R$ 260 são o limite hoje.
Reservadamente, os argumentos vão ser mais duros: em primeiro lugar, será lembrado que
essa é a hora da demonstração de
fidelidade e que é inadmissível governistas se aliarem ao que o Palácio do Planalto classifica como
circo montado pela oposição -a
tentativa de aumentar o mínimo
de R$ 260 para R$ 275.
Embora nenhum líder governista admita publicamente, a
pressão passará também pelas futuras liberações de verbas para as
emendas parlamentares e as indicações para cargos federais.
"Vamos argumentar que é fundamental a aprovação do salário
mínimo até para consolidar a recuperação econômica do país",
afirmou o presidente do PT, José
Genoino, que participará do corpo-a-corpo ao lado dos ministros.
Cinco dos 13 senadores petistas
afirmaram votar contra os R$ 260,
que representa um aumento real
(descontada a inflação) de 1,2%.
"Vamos cobrar a lealdade nos
momentos difíceis. Essa é hora de
saber quem é governo. Ser governo acarreta ônus e bônus, ter só
bônus não dá", disse o senador
Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo no Congresso.
Fogo amigo
A preocupação se deve ao fato
de que, apesar de os partidos governistas somarem 46 dos 81 senadores da Casa, número suficiente para aprovar os R$ 260 -a
MP é aprovada pela maioria dos
presentes, respeitado o quórum
mínimo de 41 senadores-, vários
parlamentares da base de governo se declaram contra o valor.
Os governistas trabalham hoje
com o seguinte cenário: cerca de
30 senadores seriam contra, 30, a
favor e 20, indecisos. A ofensiva
será feita para conseguir assegurar mais dez votos favoráveis, o
que daria uma margem de segurança para o texto ir à voto.
A MP foi aprovada na última
quarta-feira na Câmara por 266
votos a 167, com 6 abstenções.
"Antes da votação, 21 petistas
ameaçavam votar contra o governo. No final das contas, deu no
que deu", afirmou o deputado
Paulo Bernardo (PT-PR), lembrando que só cinco deputados
petistas apoiaram os R$ 275 propostos pela oposição. Segundo
ele, grande parte da mudança se
deveu à reunião de Palocci com a
bancada um dia antes da votação.
O líder da maior bancada oposicionista no Senado, José Agripino
(PFL-RN), diz ter certeza de que a
estratégia governista não surtirá
efeito no Senado. "As pessoas no
Senado têm um nível de consciência claro sobre essa matéria e, se
recuarem, serão objeto de desmoralização nacional."
A votação não tem data definida, mas não deve ocorrer nesta semana. Se o governo for derrotado,
resta ainda ao presidente Lula a
opção de vetar o texto aprovado
no Congresso.
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