São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

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CRISE NA BASE

Posição tenta mudar voto de senadores dissidentes com mesmo discurso usado para assegurar vitória na Câmara

De olho no mínimo, governo cobra lealdade no Senado

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo inicia nesta semana operação para tentar contornar a dissidência em sua base de apoio no Senado, que ameaça se aliar à oposição e derrubar a medida provisória que estabeleceu o salário mínimo em R$ 260. Espera-se para amanhã a ida do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para conversar com as bancadas governistas na Casa.
O discurso oficial do Palácio do Planalto, que será ressoado no Congresso por Palocci e por Aldo Rebelo (Coordenação Política), será o mesmo da Câmara: o de que ninguém mais do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria um aumento maior, mas que, para não comprometer investimentos sociais e em infra-estrutura, R$ 260 são o limite hoje.
Reservadamente, os argumentos vão ser mais duros: em primeiro lugar, será lembrado que essa é a hora da demonstração de fidelidade e que é inadmissível governistas se aliarem ao que o Palácio do Planalto classifica como circo montado pela oposição -a tentativa de aumentar o mínimo de R$ 260 para R$ 275.
Embora nenhum líder governista admita publicamente, a pressão passará também pelas futuras liberações de verbas para as emendas parlamentares e as indicações para cargos federais.
"Vamos argumentar que é fundamental a aprovação do salário mínimo até para consolidar a recuperação econômica do país", afirmou o presidente do PT, José Genoino, que participará do corpo-a-corpo ao lado dos ministros. Cinco dos 13 senadores petistas afirmaram votar contra os R$ 260, que representa um aumento real (descontada a inflação) de 1,2%.
"Vamos cobrar a lealdade nos momentos difíceis. Essa é hora de saber quem é governo. Ser governo acarreta ônus e bônus, ter só bônus não dá", disse o senador Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo no Congresso.

Fogo amigo
A preocupação se deve ao fato de que, apesar de os partidos governistas somarem 46 dos 81 senadores da Casa, número suficiente para aprovar os R$ 260 -a MP é aprovada pela maioria dos presentes, respeitado o quórum mínimo de 41 senadores-, vários parlamentares da base de governo se declaram contra o valor.
Os governistas trabalham hoje com o seguinte cenário: cerca de 30 senadores seriam contra, 30, a favor e 20, indecisos. A ofensiva será feita para conseguir assegurar mais dez votos favoráveis, o que daria uma margem de segurança para o texto ir à voto.
A MP foi aprovada na última quarta-feira na Câmara por 266 votos a 167, com 6 abstenções. "Antes da votação, 21 petistas ameaçavam votar contra o governo. No final das contas, deu no que deu", afirmou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), lembrando que só cinco deputados petistas apoiaram os R$ 275 propostos pela oposição. Segundo ele, grande parte da mudança se deveu à reunião de Palocci com a bancada um dia antes da votação.
O líder da maior bancada oposicionista no Senado, José Agripino (PFL-RN), diz ter certeza de que a estratégia governista não surtirá efeito no Senado. "As pessoas no Senado têm um nível de consciência claro sobre essa matéria e, se recuarem, serão objeto de desmoralização nacional."
A votação não tem data definida, mas não deve ocorrer nesta semana. Se o governo for derrotado, resta ainda ao presidente Lula a opção de vetar o texto aprovado no Congresso.


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