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Para OAB, invasão é "vandalismo de Estado anárquico"
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Manifestantes do MLST sobem em estátua depois de invadirem e depredarem o Congresso |
CNBB classifica protesto de "atentado contra a convivência democrática"; MST silencia sobre o confronto na Câmara
Para Nabhan Garcia, da UDR, o "afrontamento" ao poder público se deve à "certeza de impunidade': "Ninguém fica preso"
DA REDAÇÃO
A invasão da Câmara dos Deputados pelo MLST (Movimento de Libertação dos Sem
Terra) foi um ato de "vandalismo típico de um Estado anárquico", disse ontem o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato.
"O Estado democrático de
Direito é de ordem e não de baderna. Não podemos admitir
que um símbolo da República,
que é o Congresso Nacional, a
casa das leis, seja invadido dessa forma e seja ofendida a cidadania brasileira com um ato
dessa natureza", afirmou, em
texto divulgado ontem pela assessoria de imprensa da OAB.
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Scherer, considerou os fatos "profundamente lamentáveis" e
"atentados contra a convivência democrática". "As instituições precisam ser respeitadas.
Não podemos agredir dessa
forma instituições que representam a democracia."
"Se existem pendências em
relação à reforma agrária, não é
dessa forma que elas devem ser
solucionadas", afirmou.
Para Busato, além da aparente falta de confiança da população em mudanças sociais, a crise ética, "que envolve o governo
e o próprio Poder Legislativo" e
que tem feito o país "sangrar"
há mais de um ano, foi um dos
motivos que contribuíram para
a manifestação de violência.
A crise que atinge o governo
federal, disse, acaba propiciando, "a cada dia, uma nova receita indigesta". "É necessário que
todos tenham uma postura de
responsabilidade, uma postura
de ordem e cumprimento à lei.
Não é com anarquia que vamos
conseguir modificar esse estado de coisas", afirmou.
"Deslegitimação"
Leôncio Martins Rodrigues,
cientista político e professor
aposentado da Unicamp, atribuiu à "deslegitimação" da Casa o confronto de ontem.
"Acho que é um sinal da deslegitimação de uma instituição,
a Câmara dos Deputados, que
depois de tantas pizzas, depois
de tantos escândalos, perdeu o
direito de pedir respeito. Nesse
passo, chegaremos à invasão do
Supremo Tribunal Federal e do
próprio Palácio do Planalto."
O presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), Luiz
Antônio Nabhan Garcia, também relacionou o ato à "desmoralização" do Congresso.
"Sinceramente, qual a diferença entre invadir uma propriedade produtiva e o Congresso?", questionou. "Qualquer invasão é crime, mas o
Congresso está desmoralizado
perante a opinião pública." Segundo ele, a Casa transmite a
sensação de que, diferentemente da propriedade produtiva, "o que gera é mensalão".
Para Nabhan, o "afrontamento" do MLST ao poder público se deve também à "certeza de impunidade". "Ninguém
fica mais de uma semana preso.
Inúmeros prédios públicos já
foram invadidos."
Ontem, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), mandou a polícia prender
todos os manifestantes.
O silêncio do MST
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
preferiu silenciar ontem sobre
o confronto na Câmara. A assessoria do movimento se recusou a fazer comentários, alegando que o MLST tem autonomia. Ainda segundo a assessoria, nenhuma entidade ligada à
Via Campesina -organização
internacional da qual faz parte
o MST- se pronunciaria sobre
a invasão.
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