São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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JANIO DE FREITAS

Xeque-mate

O dever da PF é expor os motivos reais que levaram o irmão de Lula a se tornar objeto de ação policial

FALHAS muito mais graves do que o sensacionalismo comum às operações da Polícia Federal, e ao seu uso pela imprensa, comprometem esta Operação Xeque-Mate que toma o presidente da República e um irmão como os seus personagens centrais. O comprometimento decorrente das falhas, por sua vez, tem como personagem principal o ministro da Justiça, Tarso Genro.
A ocasião escolhida para a operação foi, tudo indica, de impropriedade rara no gênero. Até agora, nada sugere que a operação não pudesse ocorrer dias e mesmo semanas antes ou, melhor ainda, aguardar alguns dias. Desfechá-la com o presidente da República em visita oficial ao exterior atinge, muito mais do que a pessoa de Lula associada ao irmão, a respeitabilidade externa do Brasil e de suas instituições. O ministro não podia estar desatento a esse problema.
Essa impropriedade insanável agrava-se com a estranha omissão de explicações para o envolvimento de um irmão do presidente em viagem. A captação de um telefonema entre Genival Inácio da Silva e algum dos apontados de ilegalidades, para marcarem um encontro que não se soube se efetivado ou não, nem para quê, foi toda a pretensa justificativa policial para inclui-lo no escândalo. Da "busca e apreensão" feita em sua casa, tudo o que saiu foram três ou quatro folhas de papel com pedidos de emprego, um deles dirigido a um senador que disso nunca teve notícia.
Falar ao telefone com um amigo ou conhecido sem saber de seus envolvimentos irregulares pode acontecer a qualquer um, e não é, por si só, comprometedor em nenhum sentido. A inclusão pública de Genival Inácio da Silva no escândalo exigia algo além de um telefonema que, afinal de contas, ficou parecendo menos utilizado para ligar dois amigos do que, depois, para conectar o presidente da República a uma situação embaraçosa.
O desemprego já está tão integrado ao espírito brasileiro que pedidos de emprego comprometem o destinatário com a polícia? Por mim, sei que Paulo Maluf tem ministro no governo, Fernando Collor idem, outros ainda mais, e no entanto não sei que o tal Genival Inácio da Silva tenha empregado sequer uma faxineira. Mas, se empregou, é quase certo que tenha feito muito bem. Melhor do que o irmão presidente, comparados os poderes e promessas de um e de outro.
Se o irmão de Lula deu motivos reais para se tornar objeto de ação policial, o dever da PF, acompanhado pelo ministro da Justiça, era expô-los com tanta presteza quanto a da ação policial. Na ocasião apropriada, sem provocar, no exterior, efeitos desgastantes e, aqui, a balbúrdia do noticiário. Mas o que a Operação Xeque-Mate já exibiu é o oposto dos tais "princípios republicanos" tão invocados a pretexto do indiciamento de um irmão do presidente.
Não bastasse o problema da ocasião, Tarso Genro faltou, ainda, com a pronta informação pública sobre todos os aspectos da relação entre o presidente e o envolvimento do irmão. Tal falta resultou, entre outros males, em desonestidades jornalísticas, dos que circundam Lula prontos a beneficiá-lo à custa do leitor/ espectador, e em especulações jornalísticas e políticas, sobre o momento e até sobre a legalidade da comunicação a Lula quanto ao envolvimento do irmão. A este respeito, aliás, para um presidente não pode haver segredo algum no âmbito de suas responsabilidades institucionais.
Não há segredos, mas há ardis, deliberados uns, outros talvez não.


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