|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Xeque-mate
O dever da PF é expor os motivos reais que levaram o irmão de Lula a se tornar objeto de ação policial
FALHAS muito mais graves do
que o sensacionalismo comum às operações da Polícia
Federal, e ao seu uso pela imprensa,
comprometem esta Operação Xeque-Mate que toma o presidente da
República e um irmão como os seus
personagens centrais. O comprometimento decorrente das falhas,
por sua vez, tem como personagem
principal o ministro da Justiça, Tarso Genro.
A ocasião escolhida para a operação foi, tudo indica, de impropriedade rara no gênero. Até agora, nada
sugere que a operação não pudesse
ocorrer dias e mesmo semanas antes ou, melhor ainda, aguardar alguns dias. Desfechá-la com o presidente da República em visita oficial
ao exterior atinge, muito mais do
que a pessoa de Lula associada ao irmão, a respeitabilidade externa do
Brasil e de suas instituições. O ministro não podia estar desatento a
esse problema.
Essa impropriedade insanável
agrava-se com a estranha omissão
de explicações para o envolvimento
de um irmão do presidente em viagem. A captação de um telefonema
entre Genival Inácio da Silva e algum dos apontados de ilegalidades,
para marcarem um encontro que
não se soube se efetivado ou não,
nem para quê, foi toda a pretensa
justificativa policial para inclui-lo
no escândalo. Da "busca e apreensão" feita em sua casa, tudo o que
saiu foram três ou quatro folhas de
papel com pedidos de emprego, um
deles dirigido a um senador que disso nunca teve notícia.
Falar ao telefone com um amigo
ou conhecido sem saber de seus envolvimentos irregulares pode acontecer a qualquer um, e não é, por si
só, comprometedor em nenhum
sentido. A inclusão pública de Genival Inácio da Silva no escândalo exigia algo além de um telefonema que,
afinal de contas, ficou parecendo
menos utilizado para ligar dois amigos do que, depois, para conectar o
presidente da República a uma situação embaraçosa.
O desemprego já está tão integrado ao espírito brasileiro que pedidos
de emprego comprometem o destinatário com a polícia? Por mim, sei
que Paulo Maluf tem ministro no
governo, Fernando Collor idem, outros ainda mais, e no entanto não sei
que o tal Genival Inácio da Silva tenha empregado sequer uma faxineira. Mas, se empregou, é quase certo
que tenha feito muito bem. Melhor
do que o irmão presidente, comparados os poderes e promessas de um
e de outro.
Se o irmão de Lula deu motivos
reais para se tornar objeto de ação
policial, o dever da PF, acompanhado pelo ministro da Justiça, era expô-los com tanta presteza quanto a
da ação policial. Na ocasião apropriada, sem provocar, no exterior,
efeitos desgastantes e, aqui, a balbúrdia do noticiário. Mas o que a
Operação Xeque-Mate já exibiu é o
oposto dos tais "princípios republicanos" tão invocados a pretexto do
indiciamento de um irmão do presidente.
Não bastasse o problema da ocasião, Tarso Genro faltou, ainda, com
a pronta informação pública sobre
todos os aspectos da relação entre o
presidente e o envolvimento do irmão. Tal falta resultou, entre outros
males, em desonestidades jornalísticas, dos que circundam Lula prontos a beneficiá-lo à custa do leitor/
espectador, e em especulações jornalísticas e políticas, sobre o momento e até sobre a legalidade da comunicação a Lula quanto ao envolvimento do irmão. A este respeito,
aliás, para um presidente não pode
haver segredo algum no âmbito de
suas responsabilidades institucionais.
Não há segredos, mas há ardis, deliberados uns, outros talvez não.
Texto Anterior: Morelli visitou o presidente em São Bernardo Próximo Texto: Acusado nega ter discutido propina com irmão de Lula Índice
|