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REGRA DO JOGO
No governo Lula, grupos concentram seus esforços no Executivo
Lobistas dizem que na gestão petista o Estado recuperou a influência perdida com as privatizações e a descentralização administrativa promovidas por FHC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Atraídos para o Congresso
Nacional por conta da CPI da
Petrobras, os grandes lobistas
reduziram o espaço do Legislativo em suas agendas desde a
chegada de Lula ao poder e passaram a focar cada vez mais seu
trabalho no Poder Executivo.
O motivo, na definição de um
lobista de grande empreiteira, é
que no estilo de governar petista o Executivo é o todo-poderoso e o Parlamento está no chão,
perdendo espaço também para
o Tribunal de Contas da União.
Profissionais do lobby em
Brasília relatam que, no governo Fernando Henrique Cardoso, o Congresso tinha mais poder, fruto de uma base aliada
mais unida e da opção tucana
por reduzir o tamanho e a influência do Estado. Na era
FHC, por exemplo, a privatização fez desaparecer a disputa
política pelas diretorias das 27
companhias telefônicas do Sistema Telebras. E a criação das
agências reguladoras retirou
poder dos ministérios.
A situação se inverte ao longo
do mandato do presidente Lula, que adota um estilo centralizador, controlador e planejador
dentro do governo. O PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) é citado como
exemplo desse modo de governar do período Lula.
Centralizado na Casa Civil da
ministra Dilma Rousseff, pré-candidata de Lula à sucessão, o
PAC garante mais rapidez na liberação dos pagamentos. Lobistas de empreiteiras e governadores gravitam em torno do
Planalto buscando a inclusão
desta ou daquela obra.
Além disso, os lobistas fazem
referências a grandes negócios
incentivados pelo governo dentro de uma filosofia de que o Estado deve interferir nos negócios privados visando o crescimento econômico.
Nessa lista estão a fusão da
Telemar com a Brasil Telecom,
a compra da Varig pela Gol e a
escolha do padrão digital japonês na televisão brasileira, que
contou com lobby aberto das
empresas brasileiras por esse
sistema. Em todos os casos os
negócios foram discutidos dentro do Planalto, alguns com
mudanças de regras federais
para serem concluídos e interferências nas agências reguladoras dos setores.
Essa é, na visão de lobistas,
uma tendência que deve se espalhar pelo mundo desenvolvido pós-crise global. Perderam
espaço os neoliberais dos EUA,
que defendem o Estado mínimo, e ganharam força os defensores da intervenção estatal.
Algo inimaginável no passado
recente ocorreu: a estatização
da montadora General Motors.
Esse movimento animou o
setor de lobby dos Estados Unidos. Afetados pela crise, lobistas norte-americanos enxergam nesse momento mais intervencionista a oportunidade
de mais negócios em Washington. Foi essa a percepção colhida por Eduardo Ricardo, dono
da empresa de lobby Patri, em
reuniões recentes na capital
americana.
TCU
O Legislativo não perdeu espaço apenas para o Executivo.
A atuação mais rigorosa do Tribunal de Contas da União também contribuiu para o esvaziamento do Congresso. O poder
do TCU de sustar obras federais obrigou os lobistas das empreiteiras a concentrar parte de
seu tempo nos contatos com
ministros do tribunal.
O Congresso acusou o golpe,
tanto que vem discutindo reservadamente uma forma de
retirar parte desse poder do tribunal e devolvê-lo às comissões
da casa. Com isso, voltaria a aumentar sua força nas negociações com as empreiteiras, tradicionais financiadores de
campanha eleitoral.
Financiamento privado de
políticos que, na avaliação do
próprio governo, induz a um
acesso desigual de empresas a
tomadores de decisão.
Já os gabinetes do Congresso, segundo eles, também perderam espaço em suas agendas
por conta da indústria das medidas provisórias. O processo
legislativo passou a ser definido
no Executivo. Como reação, deputados passaram a usar a
apresentação de emendas às
MPs para agradar e atender demandas de seus financiadores.
Viraram norma no Congresso os contrabandos nas medidas provisórias. Nem sempre
esse lobby é eficiente, já que a
emenda pode acabar vetada no
Planalto. Foi isso o que aconteceu com a que mudava o fator
de correção de dívidas refinanciadas com a Receita para a
TJLP (Taxa de Juros de Longo
Prazo), bem mais baixa do que
as demais. Incluída a pedido
dos empresários numa MP
aprovada no Congresso, o presidente Lula vetou a ideia.
(VALDO CRUZ e ANDRÉA MICHAEL)
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