São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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REGRA DO JOGO

Escritórios dividem espaço com "milagreiros" terceirizados

Incomodados com associação à corrupção, lobistas profissionais renegam trabalho da segunda categoria, que cobra taxa de sucesso sobre valor de negócios

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Personagens dos bastidores e dos grandes e pequenos negócios de Brasília, os lobistas integram uma comunidade formada por escritórios profissionais, diretores de grandes empresas, dirigentes de entidades e os chamados "milagreiros".
Essa última categoria é aquela dos que prometem resolver qualquer negócio, trabalham como terceirizados e geralmente cobram taxa de sucesso, uma porcentagem sobre o valor obtido na transação.
Incomodados com a associação do termo lobby ao tráfico de influência e à corrupção, os lobistas profissionais não gostam de serem confundidos com os "milagreiros". Estes são mais visados pela Polícia Federal e costumam assumir responsabilidades quando flagrados, isentando seus clientes.
As estruturas classificadas de profissionais e que admitem abertamente fazer lobby são os escritórios de assessoria e consultoria. Os mais conhecidos são a Patri e a Umbelino Lôbo. Os dois contam com equipes de consultores que circulam pelo Executivo, Congresso e Judiciário monitorando os trabalhos dos três Poderes.
A Patri tem cerca de 55 funcionários e a Umbelino Lôbo, 24. Trabalham para empresas e entidades por meio de contratos de prestação de serviços, fornecendo banco de dados e definindo estratégias de ação para atingir os objetivos desejados, o que inclui agendamento de reuniões com autoridades.
Enquanto a Patri e a Umbelino Lôbo admitem que fazem lobby, com a ressalva de que não trabalham com taxa de sucesso nem negociam diretamente em nome de seus clientes, a maior parte dos lobistas evita a classificação por considerá-la pejorativa.
As grandes empresas, por sinal, usam duas designações para identificar seus profissionais responsáveis pelos contatos e negociações com o poder público: os diretores de relações governamentais ou de relações institucionais.
Funcionários de tradicionais doadores de campanha, os lobistas ou diretores de relações governamentais de bancos e empreiteiras, por exemplo, reconhecem que têm mais facilidade no acesso a gabinetes do Executivo e são muito demandados por parlamentares. Afinal, muitos têm o poder de influenciar na lista de doação de suas empresas.
Recentemente, esses diretores, que não gostam de aparecer, foram expostos publicamente por causa da Operação Castelo de Areia, da PF, em que funcionários da Camargo Corrêa foram gravados falando de doações para políticos.
O assédio às empreiteiras é um assunto sensível. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio (PTB), que trata o assunto lobby com tranquilidade e é a favor da regulamentação, explica o porquê: "No Orçamento, onde atuam principalmente as empreiteiras, briga-se por dinheiro, nas demais comissões, por projeto. Ninguém quer assumir isso".
Como trabalham numa profissão sem reconhecimento legal, os lobistas não têm direito a credenciamento como tal para circular pelo público de 5.500 visitantes das quartas-feiras no Congresso, dia reservado para as votações mais importantes.
No lobby das entidades de classe, o mais bem organizado é o da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que todo ano lança sua Agenda Legislativa. Na versão 2009, a publicação apresenta 13 projetos de interesse prioritário no Congresso. A CNI contratou o ex-deputado Gonzaga Mota para a interface com o Congresso e conta com a influência de seu presidente, deputado Armando Monteiro (PTB-PE), para os assuntos mais prioritários. (VC e AM)


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