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REGRA DO JOGO
Crise pôs foco no Executivo, diz empresário
Eduardo Carlos Ricardo, da empresa Patri, afirma que a palavra da moda é um "Estado mais planejador, mais centralizador'
Empresário diz que lobby não é tráfico de influência e que, de 10 matérias falando de lobby, 7 ou 8 são sobre tráfico, não sobre lobby
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A centralização do lobby no
Executivo é uma tendência
mundial pós-crise e já vinha
ocorrendo no Brasil com o estilo "centralizador e planejador"
de Lula. Essa é a avaliação de
Eduardo Carlos Ricardo, dono
da empresa de lobby Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas. Defensor da regulamentação da atividade, ele
diz que é preciso criar uma responsabilidade jurídica solidária de quem faz lobby.
FOLHA - Sob Lula, o lobby é mais
eficaz no governo ou no Congresso?
EDUARDO CARLOS RICARDO - Um
dos efeitos da crise econômica
é de cessar ou postergar qualquer tentativa de neoliberalismo, de desregulamentação. A
palavra da moda, nos EUA e na
Europa, é um Estado mais planejador, mais centralizador,
mais controlador, mais fiscalizador. A partir do momento
que há um Estado mais forte
nas atividades e nas relações
econômicas, isso fortalecerá
uma atividade de lobby, de maneira correta e institucional,
mais atuante no Executivo.
FOLHA - O sr. tem um escritório em
Washington. Tem tido conversas sobre isso com lobistas americanos?
RICARDO - Semanas atrás, participando de uma reunião com
empresas do setor em Washington, percebi isso. Eu avaliava que, diante da crise, eles
estavam perdendo faturamento e dispensando gente. Só que
um governo democrata, um Estado com maior interferência
na economia, abriu uma nova
agenda, que reforça a necessidade de entidades, empresas e
sindicatos terem uma presença
mais forte em Washington e
passarem a fazer lobby lá.
FOLHA - Essa tendência do lobby
centrar suas ações no Executivo já
acontecia no Brasil antes da crise?
RICARDO - O que aconteceu de
2003 para cá é que no próprio
ideário desse governo temos
um governo mais planejador,
mais centralizador, mais controlador e mais fiscalizador,
que fortalece as posições do
Executivo em relação aos demais poderes. E um crescimento da atuação do Judiciário e do
Ministério Público, em detrimento do Congresso.
FOLHA - Há uma real disposição de
todo o setor de se regulamentar?
RICARDO - Eu prefiro dizer que
as empresas que atingiram um
grau de governança, normalmente as de capital aberto e
que operam no mercado internacional, procuram uma forma
juridicamente muito mais correta e segura de trabalhar. As
que não têm um sistema de governança usam práticas locais
que são, via de regra, erradas.
FOLHA - O sr. avalia que, na regulamentação do lobby, deveriam constar detalhes como taxa de sucesso?
RICARDO - A taxa de sucesso,
depois de anos de problemas, é
algo em extinção na Europa.
Nos EUA ela existe, mas também está em extinção. Se você
colocar taxa de êxito no nosso
trabalho, começa a colocar
combustível para que algo caminhe na direção errada. Taxa
de êxito é um início de processo
de corrupção.
FOLHA - O sr. tem receio de ser chamado de lobista?
RICARDO - Não. No caso da minha empresa, não representamos nossos clientes. Exigimos
a presença de todos os clientes
diante da sociedade civil e dos
poderes públicos para fazerem
sua representação.
FOLHA - Incomoda a associação de
lobby com tráfico de influência?
RICARDO - Deve ser esclarecido
o que é lobby e o que é tráfico de
influência. Isso a mídia tem de
fazer. De cada 10 matérias sobre lobby, em 7 ou 8 você está
falando de tráfico, não de lobby.
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