São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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REGRA DO JOGO

Crise pôs foco no Executivo, diz empresário

Eduardo Carlos Ricardo, da empresa Patri, afirma que a palavra da moda é um "Estado mais planejador, mais centralizador'

Empresário diz que lobby não é tráfico de influência e que, de 10 matérias falando de lobby, 7 ou 8 são sobre tráfico, não sobre lobby

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A centralização do lobby no Executivo é uma tendência mundial pós-crise e já vinha ocorrendo no Brasil com o estilo "centralizador e planejador" de Lula. Essa é a avaliação de Eduardo Carlos Ricardo, dono da empresa de lobby Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas. Defensor da regulamentação da atividade, ele diz que é preciso criar uma responsabilidade jurídica solidária de quem faz lobby.

 

FOLHA - Sob Lula, o lobby é mais eficaz no governo ou no Congresso?
EDUARDO CARLOS RICARDO
- Um dos efeitos da crise econômica é de cessar ou postergar qualquer tentativa de neoliberalismo, de desregulamentação. A palavra da moda, nos EUA e na Europa, é um Estado mais planejador, mais centralizador, mais controlador, mais fiscalizador. A partir do momento que há um Estado mais forte nas atividades e nas relações econômicas, isso fortalecerá uma atividade de lobby, de maneira correta e institucional, mais atuante no Executivo.

FOLHA - O sr. tem um escritório em Washington. Tem tido conversas sobre isso com lobistas americanos?
RICARDO
- Semanas atrás, participando de uma reunião com empresas do setor em Washington, percebi isso. Eu avaliava que, diante da crise, eles estavam perdendo faturamento e dispensando gente. Só que um governo democrata, um Estado com maior interferência na economia, abriu uma nova agenda, que reforça a necessidade de entidades, empresas e sindicatos terem uma presença mais forte em Washington e passarem a fazer lobby lá.

FOLHA - Essa tendência do lobby centrar suas ações no Executivo já acontecia no Brasil antes da crise?
RICARDO
- O que aconteceu de 2003 para cá é que no próprio ideário desse governo temos um governo mais planejador, mais centralizador, mais controlador e mais fiscalizador, que fortalece as posições do Executivo em relação aos demais poderes. E um crescimento da atuação do Judiciário e do Ministério Público, em detrimento do Congresso.

FOLHA - Há uma real disposição de todo o setor de se regulamentar?
RICARDO
- Eu prefiro dizer que as empresas que atingiram um grau de governança, normalmente as de capital aberto e que operam no mercado internacional, procuram uma forma juridicamente muito mais correta e segura de trabalhar. As que não têm um sistema de governança usam práticas locais que são, via de regra, erradas.

FOLHA - O sr. avalia que, na regulamentação do lobby, deveriam constar detalhes como taxa de sucesso?
RICARDO
- A taxa de sucesso, depois de anos de problemas, é algo em extinção na Europa. Nos EUA ela existe, mas também está em extinção. Se você colocar taxa de êxito no nosso trabalho, começa a colocar combustível para que algo caminhe na direção errada. Taxa de êxito é um início de processo de corrupção.

FOLHA - O sr. tem receio de ser chamado de lobista?
RICARDO
- Não. No caso da minha empresa, não representamos nossos clientes. Exigimos a presença de todos os clientes diante da sociedade civil e dos poderes públicos para fazerem sua representação.

FOLHA - Incomoda a associação de lobby com tráfico de influência?
RICARDO
- Deve ser esclarecido o que é lobby e o que é tráfico de influência. Isso a mídia tem de fazer. De cada 10 matérias sobre lobby, em 7 ou 8 você está falando de tráfico, não de lobby.


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