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Comentário
Anglo-saxões aceitam mais o direito ao lobby
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O lobby é uma coisa estranha. Em termos teóricos, pode ser descrito tanto como
um desvio patológico pelo
qual interesses privados predam a sociedade valendo-se
do sistema representativo,
quanto como a materialização de dois dos mais basilares princípios democráticos,
a liberdade de exprimir-se e
o direito de petição.
Há um pouco de ideologia
em cada uma dessas interpretações. A menos favorável ao lobby inspira-se numa
leitura algo mecânica de
Rousseau, segundo a qual haveria um antagonismo inconciliável entre os interesses particulares representados pelo lobby e a vontade
geral, que deve ser o fim último das ações do Estado.
É a visão predominante
em países como a França e o
Brasil, que não têm peças legislativas a regulamentar a
atuação de grupos de interesse, e a própria palavra
"lobby" muitas vezes assume
conotações pejorativas.
A interpretação menos antipática ao lobby encontra
raízes em países de tradição
anglo-saxônica. Não se pode
afirmar que seja uma visão
ingênua. Os perigos da ação
dos lobbies não passaram
despercebidos a Alexander
Hamilton, um dos "founding
fathers" (pais fundadores)
dos EUA, que, no papel federalista nº 22, já alertava para
o potencial corruptor de grupos que conseguem acesso
especial a legisladores.
Triunfou nos EUA, entretanto, a ideia de que o lobby
não é muito mais do que uma
extensão do direito que cidadãos e comunidades têm de
levar um pleito qualquer ao
"seu" congressista.
Mais do que isso, haveria
muitas situações em que é
bom para a sociedade que
grupos diretamente afetados
por uma proposta legislativa
opinem e participem do processo a fim de aprimorá-lo.
Alexis de Tocqueville viu
nessa espontaneidade de relacionamentos a real força da
democracia americana.
Seja como for, os EUA -e
também o Reino Unido- optaram por regulamentar o
lobby, exigindo que representantes de grupos de pressão se registrem e prestem
contas de suas atividades.
Tentativas de restringir
mais fortemente a ação de lobistas foram barradas pela
Suprema Corte, sob o argumento de que infringiriam o
direito de petição estabelecido na 1ª Emenda.
No Brasil, vem-se articulando um lobby em favor da
regulamentação do lobby. O
raciocínio é o de que traria
mais transparência ao relacionamento entre empresas
e políticos. É possível. Nenhum país inventou uma
fórmula mágica para acabar
com a corrupção.
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