São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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DATAFOLHA

63% dos que acreditam em corrupção acham que dinheiro foi usado para fins pessoais e para financiar campanhas do PT

49% acreditam em propina em Sto. André

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Praticamente metade dos entrevistados da pesquisa Datafolha (49%) acredita que houve cobrança de propina na Prefeitura de Santo André durante a gestão do prefeito assassinado Celso Daniel (PT). Dentre os que acham que houve corrupção, 63% acreditam que o dinheiro da propina seria usado para fins pessoais e para financiar campanhas de candidatos do Partido dos Trabalhadores.
A percepção de que houve corrupção numa administração petista por enquanto não trouxe abalos à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A intenção de voto em Lula registra ligeira oscilação (de 40% para 38%) em relação à pesquisa Datafolha de um mês atrás.
Quando o suposto esquema de propina foi revelado, o PT divulgou nota advertindo a população de que "outras tentativas de difamar e caluniar o partido e seus dirigentes virão neste momento eleitoral". A pesquisa revela, contudo, que muitos seguidores do partido acreditam que houve corrupção na Prefeitura de Santo André. E demonstram forte desconfiança sobre o uso do dinheiro que teria sido arrecadado.
Entre os petistas e admiradores do partido que acham que o secretário de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira Souza e empresários pediam propina a donos de empresas de ônibus, é expressiva a parcela (62%) que admite que o dinheiro pode ter sido usado, ao mesmo tempo, para enriquecimento ilícito e para financiar campanhas do PT.
Do total de entrevistados que acham que houve pedido de propina, 17% acham que o resultado do achaque seria utilizado pelos acusados apenas para fins pessoais. Igualmente, 17% entendem que o dinheiro seria dirigido para financiar candidatos petistas.
A pesquisa foi realizada 15 dias depois da revelação de que Klinger, Sérgio Gomes da Silva, Ronan Maria Pinto, Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Marin Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Júnior foram acusados pelo Ministério Público da prática dos crimes de formação de quadrilha e concussão, suspeitos de extorquir dinheiro de empresários para financiar campanhas eleitorais do PT.
Metade dos entrevistados (51%) tomou conhecimento do suposto esquema de propina revelado ao Ministério Público pelo médico João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, sequestrado e assassinado em janeiro último. Desse universo, 86% têm curso superior e 79%, renda familiar de mais de dez salários mínimos.
João Francisco disse que fez as denúncias para mostrar "que o PT é igual aos outros partidos e age igual nas eleições, com caixa dois no esquema de arrecadação".
Segundo o depoimento do médico a quatro procuradores, os recursos acumulados teriam sido encaminhados a Gilberto Carvalho, então secretário de Governo e Comunicação de Santo André, que levaria o dinheiro para o presidente do PT, deputado José Dirceu, coordenador da campanha presidencial de Lula.
"Quero que isso sirva para o povo escolher melhor seu candidato", disse, na ocasião. Embora um dos objetivos alegados por João Francisco tenha sido mostrar que o PT "não difere em nada dos outros partidos", a pesquisa revela uma percepção de que há menos corrupção no PT do que em outros partidos.

Partidos e corrupção
As respostas estimuladas, diante da pergunta sobre envolvimento de políticos de alguns partidos em casos de corrupção, colocam o PT numa posição mais favorável: 56% entendem que muitos dos políticos do PFL estão envolvidos com corrupção (a maioria deles, segundo 27% dos consultados).
Em relação aos políticos do PMDB, esse percentual é de 55% (e de 52% para o PSDB). No caso do PT, o percentual é de 43%. O PT registra o maior percentual (32%) entre os que consideram ser "raro" o envolvimento de seus quadros em casos de corrupção.
Considerando os partidos de preferência dos entrevistados, os petistas acreditam que há mais corrupção entre os tucanos do que o contrário: 63% dos entrevistados que preferem o PT responderam que a maioria (ou muitos) dos políticos do PSDB estão envolvidos em corrupção.
Esse percentual é de apenas 50% quando feitas as mesmas perguntas a tucanos sobre a corrupção entre políticos petistas.
A mesma situação é percebida a partir da distribuição dos entrevistados pela intenção de voto para presidente da República: é maior o percentual de petistas (56%) que identificam políticos do PSDB em casos de corrupção do que o contrário: 50% dos eleitores de Serra acreditam que a maioria (ou muitos) dos políticos petistas são corruptos.
As opiniões são divididas em relação à pergunta se Lula tomou ou não conhecimento do suposto pedido de propina em Santo André.
Dos entrevistados, 34% afirmam que "não sabem". 36% acreditam que Lula teve conhecimento, enquanto 30% entendem que Lula desconhecia o esquema de corrupção.
Por enquanto, a pesquisa confirma a avaliação do presidente do PT, José Dirceu, no dia seguinte à denúncia sobre as contribuições ilegais das empresas de ônibus, ao afirmar que "Lula não tem nada a ver com isso". Dirceu previu, na ocasião, que as afirmações do irmão de Celso Daniel não prejudicariam a candidatura de Lula.



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