São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Fui massacrado pela imprensa"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se "massacrado e julgado" pela mídia, o publicitário Marcos Valério de Souza fez ironias e ataques à imprensa e aos meios de comunicação, em uma tentativa de desmistificar a imagem construída em torno dele de peça-chave do suposto esquema de corrupção no governo.
Valério criticou várias vezes a divulgação de relatório do Coaf que mostra saques, em espécie, de R$ 20,9 milhões feitos das contas das empresas as quais é sócio, entre julho de 2003 e maio de 2005. Como o documento é sigiloso, ele disse que foi "ilícita" a publicação.
Logo na abertura de seu depoimento, Valério tentou desconstruir sua imagem de suposto operador do "mensalão". "Fui massacrado e julgado pela mídia, que tem todo o direito, dentro da liberdade democrática do país", disse ele, classificando-se como "um brasileiro normal".
O publicitário negou que tenha sido beneficiado em licitações nos Correios e disse não ser possível superfaturar contratos, devido à fiscalização existente.
Marcos Valério afirmou ter faturado R$ 28 milhões na empresa desde 2004. "Com esses R$ 28 milhões paguei a Rede Globo, a "Veja", a "IstoÉ" e gráficas. Se houvesse superfaturamento, esses veículos teriam que estar mancomunados comigo, porque teriam que ter me dado notas", disse ele.
Ao tentar desqualificar as acusações de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, que afirma ter visto malas de dinheiro saindo de suas empresas, Valério mirou na imprensa mais uma vez.
O empresário sugeriu que ela teria recebido dinheiro de um repórter da revista "IstoÉ Dinheiro" para conceder uma entrevista revelando fatos contra ele.
Valério disse que, após demitir Fernanda Karina, vinha sendo ameaçado por ela. "A declaração dela à minha secretária Adriana [Fantine] é de que estava recebendo dinheiro do repórter Leonardo Attuch [da "IstoÉ Dinheiro']."
A Editora Três, que publica "IstoÉ Dinheiro" negou ter oferecido dinheiro à ex-secretária.
O publicitário relatou ainda um encontro com Domingo Alzugaray, diretor-presidente da Editora Três, no qual teria sido informado da não publicação da entrevista com a ex-secretária -essa entrevista foi publicada após as denúncias de Roberto Jefferson sobre o suposto "mensalão".
O publicitário responsabilizou a revista "Veja" por conta da primeira justificativa que teria sido apresentada por ele para os altos saques em dinheiro. À revista, Marcos Valério havia dito que as retiradas em espécie eram para a compra de gado. Depois, para pagamento de fornecedores.
Segundo Valério, a pessoa que o entrevistou pela revista se identificou como Edward e era de uma cidade chamada Brasília de Minas. "Na conversa, disse: "Eu sou de Belo Horizonte e vou lá na sua cidade comprar gado de alguém que nunca me viu. Você vai aceitar um cheque meu?'". E teria dito: "Não. Vai pagar em dinheiro".
Valério disse que parte dos saques em dinheiro foram feitos para pagar cachês de artistas no exterior e deu a entender que havia comparado a situação com a compra de gado.
O redator-chefe da "Veja" Mario Sabino afirmou ontem que Valério "recebeu para uma entrevista os repórteres José Edward e Marcelo Carneiro" e que "todas as respostas publicadas reproduzem fielmente o que ele disse".
O diretor-presidente da Editora Três, Domingo Alzugaray, informou ontem por meio de nota não ter existido nenhuma oferta de dinheiro por parte do jornalista Leonardo Attuch à secretária Fernanda Karina. "Foi ela quem procurou a revista espontaneamente para dar seu depoimento."
Alzugaray ressaltou que Marcos Valério, durante o depoimento, não relacionou Attuch à oferta de dinheiro. "Ele disse apenas que ouviu dizer, de uma de suas secretárias, que Karina teria dito que um jornalista, sem precisar o nome nem o veículo para o qual trabalha, a teria feito uma oferta."
Segundo Alzugaray, Marcos Valério esteve na Editora Três em setembro de 2004, acompanhado do assessor Gilberto Mansur. À época, o publicitário mineiro era acusado por Fernanda Karina e, por isso, soube do teor da primeira entrevista que ela havia concedido à "IstoÉ" para que pudesse se defender.
A entrevista, no entanto, não foi publicada por uma decisão editorial, disse Alzugaray, já que a ex-secretária não tinha provas.
Attuch negou ter proposto dinheiro à ex-secretária. "No meu caso, é evidente que não houve nenhum tipo de pagamento."


Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/O publicitário: Petistas tentam ligar publicitário a FHC
Próximo Texto: Valério diz que pagou a jornalista por assessoria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.