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ARTIGO
Cenário lindo é palco de espetáculo deprimente
DANUZA LEÃO
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O cenário é lindo, mas o espetáculo, deprimente. É duro ver parlamentares fazendo o
papel de investigadores, interrogando quem possível - e provavelmente - meteu a mão nos cofres públicos sem cerimônia. Alguns, como não têm essa vocação
nem foram eleitos para isso, perguntam mal, se repetem, e desse
jeito vai ser difícil chegar às chamadas provas, até porque nessa
matéria ninguém passa recibo.
Essa história de roubar o dinheiro público sempre foi meio
vaga; todo mundo sabe que é por
isso que não temos hospitais nem
creches nem escolas. Outro dia,
quando fui mandar uma correspondência para São Paulo por Sedex e paguei R$ 20 por uma folha
de papel, entendi tudo.
Os políticos são finíssimos: se
atacam furiosamente, mas sempre colocando antes um "Vossa
Excelência", ou "o ilustre deputado". Depois tomam cafezinho
juntos, como se nada fosse.
As assessoras do PT não usam
maquiagem nem salto alto nem
fazem escova; em compensação,
as do PSDB são impecáveis, parecem prontas para irem dali direto
para um casamento, sem escala.
O dia começou bem: como os
trabalhos da CPI estavam marcados para começar às 9h, cheguei
às 8h30 para pegar minha credencial no 21º andar do edifício do Senado; a funcionária chegou às
9h10, e, na descida, o elevador parou no meio dos andares.
Quando o senador Delcídio
Amaral entrou no recinto, fez o sinal da cruz e abriu os trabalhos
"com a benção de Deus", o que
talvez seja pouco.
Pílulas brasilienses
ACM babava com sua cria, o deputado ACM Neto, que masca
chicletes sem parar; onde será que
ele põe o chiclete quando fala? Debaixo do tampo da mesa, como os
colegiais? Outra que tem o mesmo hábito é Luciana Genro, que
não consegue esquentar a cadeira
nem por cinco minutos.
Heloisa Helena é conhecida por
falar muito, por isso sempre fica
no fim da fila; sabendo disso, a senadora chegou ontem ao Congresso às 6h30, para ser a primeira. Como o tempo é marcado, assim que acabou de fazer suas perguntas, se inscreveu de novo, para
poder falar mais uma vez, mesmo
de madrugada.
Marcos Valério chama os deputados e senadores de Vossa Excelência e depois diz "vou te passar
os documentos"; declarou possuir várias empresas que nunca
funcionaram, nunca tiveram conta em banco, e, conseqüentemente, ninguém entende porque foram abertas -mas ele sabe.
Quanto ao fato de parte de uma
dessas empresas estar em nome
de sua mulher, foi claro: "ela pensou que eu fosse me separar dela".
E acrescentou: "mas eu não queria". Foi quase um consultório
sentimental.
O deputado Heráclito Fortes
usava um terno que me fez pensar
num samba de Paulinho da Viola
que diz "Não posso definir aquele
azul, não era do céu nem era do
mar". Indefinível a cor do terno
do parlamentar.
Rola um estresse entre o senador Aloizio Mercadante e o presidente da CPI. Segundo Mercadante, há no PT quem ache que
Delcídio Amaral está tratando
Roberto Jefferson bem demais.
A razão de o mundo político,
governo e oposição, estar unido,
em defesa do presidente Lula: se
entrar o vice José de Alencar, ele
baixa a taxa de juros para zero e
explode a economia; e se quebrar
uma perna, entra Severino, e aí -
bem, passemos.
O novo ministro das Comunicações, Hélio Costa, chamava a
atenção: é o único ser que conserva a cabeleira dos anos 60, quando era sucesso no "Fantástico" e
as mulheres babavam por ele.
De repente, em plena CPI, entra
Severino; mas Severino de terno
preto e gravata borboleta? Com
uma bandeja na mão? Era um
garçom, mas tão igual, tão igual,
que parecia irmão gêmeo do presidente da Câmara.
Deixa-se Brasília com a triste
sensação de que nossa Câmara e
nosso Senado, com sua deslumbrante arquitetura, não merecem
passar pelo que estão passando;
por outro lado, não existe lugar
mais animado em todo o país.
E no restaurante, entre assessores, jornalistas, deputados e lobistas (de ambos os sexos), a paquera
rolou solta. Haja o que houver, é
só juntar homens e mulheres para
que paire uma tensão no ar; e enquanto for assim, pode-se dizer
que a pátria está salva. Ou quase.
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