São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2008 / JUSTIÇA ELEITORAL

ENTREVISTA

ODED GRAJEW


Eleitor deve decidir inelegibilidade de candidato no voto

Empresário defende que ação na Justiça contra político tenha ampla divulgação

Liderado por ex-assessor de Lula, movimento Nossa São Paulo consegue aprovar lei que obriga futuro prefeito a detalhar prazos e propostas

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

À frente do movimento Nossa São Paulo, sustentado por mais de 500 organizações civis, o empresário Oded Grajew, 63, ex-assessor e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende cautela na decisão sobre a inelegibilidade de candidatos que respondem a processo na Justiça, mas quer a ampla divulgação da lista de casos em que eles são réus para deixar a decisão a cargo do eleitor.
Idealizador do Fórum Social Mundial, Grajew está à frente de uma nova cruzada. O movimento acaba de conseguir a aprovação na Câmara Municipal de São Paulo de uma lei que obriga o futuro prefeito a detalhar com índices e prazos o quanto pretende melhorar em cada setor. O plano, que já está sendo copiado em outras cidades do país, dará à sociedade instrumentos para avaliar o desempenho do prefeito.
Leis como esta, garante Grajew, irão fazer com que os executores pensem em nomear assessores movidos mais por profissionalismo do que por interesses políticos. "Quero obrigar as pessoas a pensarem em medidas mais radicais", afirma ele.

 

FOLHA - Como surgiu o movimento Nossa São Paulo?
ODED GRAJEW
- A idéia surgiu com a frustração após as eleições de 2006. A maioria dos novos eleitos tinha programas sem metas, um discurso vazio. Vivemos num país com carga tributária de Primeiro Mundo e, em contrapartida, serviços de quinto mundo. Então nasceu a idéia de criar um movimento em São Paulo, a maior cidade do país, onde tudo o que acontece tem repercussão.

FOLHA - Quais os objetivos?
GRAJEW
- Ele busca comprometer tanto a sociedade quanto sucessivos governos com uma cidade sustentável e justa, produzindo um processo exemplar para que isso aconteça. O movimento quer introduzir grandes mudanças no processo político. Você pergunta qual é o programa do Lula, ou do Alckmin, ou do [governador José] Serra... O problema não é localizado em um partido. É uma falha do processo político.

FOLHA - Recentemente vocês conseguiram aprovar uma lei que obriga o futuro prefeito de São Paulo a apresentar um programa de metas com indicadores. O que isso representa para a cidade?
GRAJEW
- Essa lei mostra a força da sociedade. O próximo prefeito terá que apresentar em 90 dias um plano de metas e objetivos com indicadores numéricos compatível com seu programa eleitoral. Depois terá que publicar o plano por distrito da cidade, porque cada distrito é uma cidade média brasileira. É uma revolução porque dá informação à população.

FOLHA - O sr. é a favor de divulgar a "ficha suja" dos candidatos? Eles deveriam ser impedidos de concorrer?
GRAJEW
- A iniciativa de tentar moralizar a política é muito boa. Dar informação dos candidatos aos eleitores é importante. Mas há que se tomar alguns cuidados. Uma condenação em primeira instância é muito discutível [para tornar o candidato inelegível]. Há gente sendo processada por causas justas e acaba com uma condenação inicial por questões locais. Defendo que se informe, junto com o currículo dos candidatos, os processos a que eles respondem. Ao lado da urna, no local de votação. É preciso deixar o eleitor decidir, com toda a informação disponível.

FOLHA - Em que ponto eles deveriam ser impedidos de concorrer?
GRAJEW
- Para a inelegibilidade do candidato é necessária uma condenação final. É o que diz a lei. Sem dúvida, precisamos fazer com que o sistema jurídico seja mais rápido.

FOLHA - Qual o conselho para quem está cansado da política?
GRAJEW
- Essas pessoas estão delegando para outros mandarem na vida delas. Se você não decidir, alguém vai decidir por você. E as decisões irão influenciar a sua vida.

FOLHA - Votar faz diferença?
GRAJEW
- Faz. Mas o que faz diferença é a democracia participativa, onde votar é parte. Mas significa você participar no bairro, controlar o poder público, propor, cobrar. Os países que mais deram certo no mundo são os que aprofundaram a democracia participativa.

FOLHA - Primeiro o Fórum Social Mundial, agora o movimento Nossa São Paulo. O sr. é um utopista?
GRAJEW
- Eu traço um cenário para obrigar as pessoas a pensarem em medidas mais radicais. Quando falo em quadro político, é para tirar a ilusão das pessoas de que vamos eleger esse [candidato] que vai salvar a gente. Ou de que agora, com esse candidato, tudo vai mudar. A solução tem que ser mais profunda. É difícil viver no Brasil e não ficar descontente. Precisamos mudar o sistema. Não é utópico, basta olhar o que aconteceu no Brasil: Diretas Já, impeachment do [ex-presidente Fernando] Collor. Por quê? Porque a sociedade se juntou.

FOLHA - O sr. critica o atual processo de financiamento de campanha.
GRAJEW
- No atual processo político brasileiro, é ilusão achar que a maioria dos candidatos trabalha para a população. Sua principal preocupação é dar retorno aos financiadores. O cara assume com o sistema que tem hoje e muda os cargos de confiança. Muda por critérios políticos. Não [escolhe] o [ministro] Edison Lobão porque ele é um "expert" em Minas e Energia. É um uso partidário. Agora imagine uma empresa privada funcionando nesse sistema. Em um ano vai à falência.

FOLHA - O sr. acredita na aprovação da reforma política?
GRAJEW
- Não se pode esperar que os políticos mudem o sistema. Não vão dar um tiro no pé e mudar o sistema pelo qual são beneficiados. Financiamento público de campanha não querem. É a pressão da sociedade que irá mudar. Olhe os casos de corrupção que estouram. Crise no Rio Grande do Sul ou o mensalão. Todos têm origem no financiamento de campanhas.


Texto Anterior: Eleições 2008 / Rio de Janeiro: Como Lula, Crivella faz carta anti-rejeição
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.