São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

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Esquerda afirma que governo FHC teme democracia

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O apelo do governo federal para que a oposição se comprometa com a governabilidade esconde o medo da democracia e de uma derrota nas urnas em 2002. Essa foi a síntese de um encontro realizado ontem no Rio entre intelectuais de esquerda e líderes da oposição, como o presidente interino do PT, deputado federal José Genoino (SP), e o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE).
"Governabilidade, para mim, é substituto do tema medo da democracia, medo do povo. Se há um governo que não tem governabilidade, é este, que não faz outra coisa que não seja reclamar do povo e das instituições", afirmou o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, da Universidade Candido Mendes.
Para o historiador Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, o tema da governabilidade "parece mais manipulação": "Só um governo isolado como esse pode se preocupar com a governabilidade".
Genoino disse que o governo FHC construiu as principais causas da ingovernabilidade, como o acordo com o FMI e a exclusão social. Agora, diz ele, o governo quer fazer "um engessamento" de grandes questões nacionais -como a proposta de independência do Banco Central- para tolher a capacidade de ação de um eventual sucessor oposicionista.
"Eles levaram o país a um impasse, a uma camisa-de-força. Estão construindo um engessamento, e nós queremos desengessar para construir um outro governo, democrático e popular. O Brasil está engessado", afirmou Genoino, dizendo que o "desengessamento" inclui uma nova negociação da dívida e da taxa de juros.
Para o deputado, é impossível um acordo, como tem proposto o ministro Pedro Malan (Fazenda), para que os próximos governos se comprometam a manter políticas e projetos do governo atual.
"Ele [Malan" faz num dia terrorismo, no outro dia propõe consenso. Não temos consenso com o governo FHC. Queremos mudar e vamos fazer essas mudanças com o apoio da sociedade, sem medo."
Genoino criticou o último acordo com o FMI, mas disse que um governo de esquerda não romperá com os investidores internacionais. Recusou-se a dizer qual será a posição do PT, caso o partido chegue à Presidência. "Não temos de definir isso agora, mas a relação com o FMI tem de ser rediscutida. Não aceitamos os parâmetros desse acordo, mas isso não significa que vamos romper com a comunidade internacional."
Genoino e Freire não acreditam em uma candidatura única de esquerda no primeiro turno da eleição, mas acenaram com uma coalizão no segundo. Mesmo assim, trocaram alfinetadas durante o debate. Genoino chegou a propor um "acordo de procedimentos", evitando acusações e defendendo plataformas comuns. Freire disse achar difícil um acordo.



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