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Esquerda afirma que governo FHC teme democracia
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O apelo do governo federal para
que a oposição se comprometa
com a governabilidade esconde o
medo da democracia e de uma
derrota nas urnas em 2002. Essa
foi a síntese de um encontro realizado ontem no Rio entre intelectuais de esquerda e líderes da oposição, como o presidente interino
do PT, deputado federal José Genoino (SP), e o presidente do PPS,
senador Roberto Freire (PE).
"Governabilidade, para mim, é
substituto do tema medo da democracia, medo do povo. Se há
um governo que não tem governabilidade, é este, que não faz outra coisa que não seja reclamar do
povo e das instituições", afirmou
o cientista político Wanderley
Guilherme dos Santos, da Universidade Candido Mendes.
Para o historiador Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, o tema da
governabilidade "parece mais
manipulação": "Só um governo
isolado como esse pode se preocupar com a governabilidade".
Genoino disse que o governo
FHC construiu as principais causas da ingovernabilidade, como o
acordo com o FMI e a exclusão
social. Agora, diz ele, o governo
quer fazer "um engessamento" de
grandes questões nacionais -como a proposta de independência
do Banco Central- para tolher a
capacidade de ação de um eventual sucessor oposicionista.
"Eles levaram o país a um impasse, a uma camisa-de-força. Estão construindo um engessamento, e nós queremos desengessar
para construir um outro governo,
democrático e popular. O Brasil
está engessado", afirmou Genoino, dizendo que o "desengessamento" inclui uma nova negociação da dívida e da taxa de juros.
Para o deputado, é impossível
um acordo, como tem proposto o
ministro Pedro Malan (Fazenda),
para que os próximos governos se
comprometam a manter políticas
e projetos do governo atual.
"Ele [Malan" faz num dia terrorismo, no outro dia propõe consenso. Não temos consenso com o
governo FHC. Queremos mudar e
vamos fazer essas mudanças com
o apoio da sociedade, sem medo."
Genoino criticou o último acordo com o FMI, mas disse que um
governo de esquerda não romperá com os investidores internacionais. Recusou-se a dizer qual será
a posição do PT, caso o partido
chegue à Presidência. "Não temos
de definir isso agora, mas a relação com o FMI tem de ser rediscutida. Não aceitamos os parâmetros desse acordo, mas isso não
significa que vamos romper com
a comunidade internacional."
Genoino e Freire não acreditam
em uma candidatura única de esquerda no primeiro turno da eleição, mas acenaram com uma coalizão no segundo. Mesmo assim,
trocaram alfinetadas durante o
debate. Genoino chegou a propor
um "acordo de procedimentos",
evitando acusações e defendendo
plataformas comuns. Freire disse
achar difícil um acordo.
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