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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Os 8 deputados que se abstiveram podem ser só suspensos; Genoino diz que "abstenção é um não envergonhado"

PT deve expulsar apenas os três rebeldes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A cúpula do PT acena com uma punição mais leve que a expulsão aos oito deputados da esquerda petista que se abstiveram da votação que aprovou a reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara, ontem.
A alegação é que os oito têm história no PT e não se opõem sistematicamente ao governo Lula, como os três radicais que votaram contra -Luciana Genro (RS), Babá (PA) e João Fontes (SE)- e que serão expulsos da sigla na próxima reunião do diretório nacional, em setembro.
Mas há consenso de que os que se abstiveram devem ao menos ser suspensos por um ano das atividades do partido. São eles: Orlando Fantazzini (SP), Ivan Valente (SP), Maninha (DF), João Alfredo (CE), Chico Alencar (RJ), Paulo Rubem (PE), Mauro Passos (SC) e Walter Pinheiro (BA), que foi líder da bancada em 2001.
Na última reunião do diretório nacional, o PT fechou questão a favor da previdenciária. Com isso, quem votasse contra, se abstivesse ou faltasse estaria sujeito à expulsão. Só um deputado faltou à votação, César Medeiros (MG), que alegou problemas de saúde.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), fez um pedido ao presidente do PT, José Genoino (SP): encaminhar os processos em São Paulo para não contaminar o ânimo da bancada nas votações nem atrapalhar a governabilidade de Lula.
O núcleo de comando do PT na Câmara defendia, logo após a votação, a expulsão como punição. "Cumpra-se o estatuto. A abstenção equivale a ficar com um pé em cada canoa. Isso não é admissível", afirmava um dos vice-líderes do governo, Paulo Bernardo (PR).
Genoino, após a votação, dizia que as abstenções e os votos contrários significavam uma "ruptura unilateral dos deputados com o partido". Chegou a comparar a situação à expulsão de três dos oito deputados do PT, em 1985, que concordaram em votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Ontem de manhã, Genoino amenizou o tom: "Abstenção é um não envergonhado. A diferença é que os oito têm história no PT, ao contrário dos três que votaram contra e estão fora do partido". Entre a hora da votação e a noite de ontem, Genoino consultou vários petistas sobre o assunto. A maioria condenava as abstenções, mas destacava a conduta dos deputados na história do partido como um atenuante.

Protesto
O projeto de reforma da Previdência do governo Luiz Inácio Lula da Silva foi contestado por 38,7% (36 deputados) da bancada do PT na Câmara. Na votação, 24 votaram com o governo, mas fizeram a leitura de um protesto contra a emenda em plenário.
Dos 93 deputados petistas, 56 (60,2%) votaram com o governo sem ressalvas, percentual menor do que tem no PT o chamado campo majoritário, tendências de centro e direita que controlam cerca de 70% da máquina partidária. O presidente da Câmara é dispensado de votar.
Sobre os que se abstiveram, em rigor, contrariaram a deliberação aprovada pelo Diretório Nacional, que estabelecia "a obrigatoriedade do voto dos parlamentares nos termos definidos pelo governo". Os 24 parlamentares que votaram com o governo, mesmo sob protesto, não têm possibilidade de punição, pois seguiram estratégia já utilizada em votações.
Na declaração lida em plenário pela deputada Iriny Lopes (SC), os petistas afirmam: "Lamentamos o confronto que esta reforma da Previdência provocou com a CUT, servidores públicos e amplos setores da sociedade".
Os petistas dizem que a ação produziu "mudanças importantes" na proposta original, mas que ainda é "insuficiente". "Nós votamos no projeto, mas continuaremos nossa luta para que o governo mude a agenda e inicie uma nova fase que busque o crescimento econômico, a geração de empregos e a inclusão social."
(OTÁVIO CABRAL, RAYMUNDO COSTA e PLÍNIO FRAGA)


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