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REFORMA SOB PRESSÃO
Os 8 deputados que se abstiveram podem ser só suspensos; Genoino diz que "abstenção é um não envergonhado"
PT deve expulsar apenas os três rebeldes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A cúpula do PT acena com uma
punição mais leve que a expulsão
aos oito deputados da esquerda
petista que se abstiveram da votação que aprovou a reforma da
Previdência em primeiro turno
na Câmara, ontem.
A alegação é que os oito têm história no PT e não se opõem sistematicamente ao governo Lula, como os três radicais que votaram
contra -Luciana Genro (RS), Babá (PA) e João Fontes (SE)- e
que serão expulsos da sigla na
próxima reunião do diretório nacional, em setembro.
Mas há consenso de que os que
se abstiveram devem ao menos
ser suspensos por um ano das atividades do partido. São eles: Orlando Fantazzini (SP), Ivan Valente (SP), Maninha (DF), João
Alfredo (CE), Chico Alencar (RJ),
Paulo Rubem (PE), Mauro Passos
(SC) e Walter Pinheiro (BA), que
foi líder da bancada em 2001.
Na última reunião do diretório
nacional, o PT fechou questão a
favor da previdenciária. Com isso,
quem votasse contra, se abstivesse ou faltasse estaria sujeito à expulsão. Só um deputado faltou à
votação, César Medeiros (MG),
que alegou problemas de saúde.
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), fez um pedido ao presidente do PT, José
Genoino (SP): encaminhar os
processos em São Paulo para não
contaminar o ânimo da bancada
nas votações nem atrapalhar a governabilidade de Lula.
O núcleo de comando do PT na
Câmara defendia, logo após a votação, a expulsão como punição.
"Cumpra-se o estatuto. A abstenção equivale a ficar com um pé em
cada canoa. Isso não é admissível", afirmava um dos vice-líderes
do governo, Paulo Bernardo (PR).
Genoino, após a votação, dizia
que as abstenções e os votos contrários significavam uma "ruptura unilateral dos deputados com o
partido". Chegou a comparar a situação à expulsão de três dos oito
deputados do PT, em 1985, que
concordaram em votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Ontem de manhã, Genoino
amenizou o tom: "Abstenção é
um não envergonhado. A diferença é que os oito têm história no
PT, ao contrário dos três que votaram contra e estão fora do partido". Entre a hora da votação e a
noite de ontem, Genoino consultou vários petistas sobre o assunto. A maioria condenava as abstenções, mas destacava a conduta
dos deputados na história do partido como um atenuante.
Protesto
O projeto de reforma da Previdência do governo Luiz Inácio
Lula da Silva foi contestado por
38,7% (36 deputados) da bancada
do PT na Câmara. Na votação, 24
votaram com o governo, mas fizeram a leitura de um protesto contra a emenda em plenário.
Dos 93 deputados petistas, 56
(60,2%) votaram com o governo
sem ressalvas, percentual menor
do que tem no PT o chamado
campo majoritário, tendências de
centro e direita que controlam
cerca de 70% da máquina partidária. O presidente da Câmara é dispensado de votar.
Sobre os que se abstiveram, em
rigor, contrariaram a deliberação
aprovada pelo Diretório Nacional, que estabelecia "a obrigatoriedade do voto dos parlamentares nos termos definidos pelo governo". Os 24 parlamentares que
votaram com o governo, mesmo
sob protesto, não têm possibilidade de punição, pois seguiram estratégia já utilizada em votações.
Na declaração lida em plenário
pela deputada Iriny Lopes (SC),
os petistas afirmam: "Lamentamos o confronto que esta reforma
da Previdência provocou com a
CUT, servidores públicos e amplos setores da sociedade".
Os petistas dizem que a ação
produziu "mudanças importantes" na proposta original, mas que
ainda é "insuficiente". "Nós votamos no projeto, mas continuaremos nossa luta para que o governo mude a agenda e inicie uma
nova fase que busque o crescimento econômico, a geração de
empregos e a inclusão social."
(OTÁVIO CABRAL, RAYMUNDO COSTA e PLÍNIO FRAGA)
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