São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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Presidente do PL diz que PT o botou na "maior fria"

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MOGI DAS CRUZES

Em seu primeiro pronunciamento público após renunciar ao mandato de deputado federal, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou ontem que entrou "na maior fria" de sua vida ao aceitar dinheiro de caixa dois do PT para custear a campanha do partido em 2002.
A declaração foi feita por Costa Neto a um grupo de 355 correligionários e apoiadores durante um almoço realizado ontem em uma churrascaria de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), principal reduto eleitoral do ex-deputado. Entre os presentes, estiveram os deputados federais Edmar Moreira (PL-MG), Milton Monte, Amauri Gasques, Edinho Montemor (PL-SP) e Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
"Tive que renunciar porque cometi um erro. Entrei na maior fria da minha vida. Nunca pensei que o PT pudesse fazer isso", disse o ex-deputado, se referindo ao acordo feito com os petistas para as eleições de 2002, que segundo ele, previu repasse de recursos para custeio da campanha de candidatos do PL, principal partido aliado do PT e do governo federal.
Costa Neto renunciou ao mandato, o quarto de sua carreira política, na última segunda, depois de admitir que recebeu dinheiro de uma das contas do publicitário Marcos Valério.
Aos correligionários, o presidente do PL voltou a negar a existência do pagamento de mesada a deputados da base aliada, esquema denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
"Ele (Jefferson) inventou essa história de mensalão, que não existe", afirmou Costa Neto. "Por que você vai dar mesada para um partido que tem o Ministério dos Transportes, que tem o vice-presidente?", disse ele, que chamou Jefferson de "chantagista" e "delinqüente."
Costa Neto disse que decidiu renunciar porque quer se defender das acusações sem contar com a imunidade parlamentar.
"Eu poderia deixar para renunciar daqui a três ou quatro meses, como orientou o meu advogado, para eu fazer os depoimentos com imunidade, como está fazendo o Roberto Jefferson", disse. "Mas eu preferi assumir o meu erro e daí me defender, provar que não cometi nenhum crime, mas um erro, e que não tinha verba pública no meio."
Em rápida conversa com a imprensa, Costa Neto negou que estivesse decepcionado com o PT ou com o presidente Lula. Mas afirmou que foram os petistas os responsáveis pela sua renúncia.
"Eles me puseram nessa fria. Eles fizeram tudo errado. Eu fiz aliança com eles e só poderia ter dado nisso."
O ex-deputado disse também que vai apresentar uma prestação de contas da verba de caixa dois em seu depoimento à CPI e à PF. Ele afirmou que o valor repassado pelo PT é inferior ao divulgado pela imprensa. De acordo com documentos em posse da CPI dos Correios, Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, teria sacado das contas de Marcos Valério pelo menos R$ 1,65 milhões. Já uma lista apresentada por Marcos Valério ao procurador geral da República, aponta Costa Neto como beneficiário de R$ 10,8 milhões.


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