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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A LISTA DE VALÉRIO
Cruzamento aponta que maiores retiradas das contas do publicitário em 2003 ocorreram em época de aprovação de reformas
Votações coincidem com dias de saques
MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO
O cruzamento entre os maiores
saques das contas do publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza divulgados até agora e as
principais vitórias do governo
Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso revela uma coincidência
que pode indicar a existência do
"mensalão", o pagamento de mesada a parlamentares em troca de
apoio em votações na Câmara.
A aprovação das reformas tributária e da Previdência, que interessavam diretamente ao governo, ocorreram nos meses com o
maior volume de saques das contas das empresas das quais Marcos Valério é sócio em 2003.
O levantamento foi feito pela
Folha com base na lista de retiradas identificadas até agora pela
CPI dos Correios e na conexão
partidária dos sacadores. Os dados foram cruzados com os principais fatos políticos que aconteceram no governo Lula de 14 de
janeiro de 2003, dia da primeira
retirada, até a data da última, em
1º de outubro de 2004.
A reforma tributária foi aprovada em dois turnos na Câmara, em
17 e 24 de setembro, por 346 a 92,
38 votos a mais do que o necessário. Nesse mês, o volume dos saques foi o maior do ano: R$ 3,8
milhões. No dia da primeira votação, João Cláudio Genu, assessor
do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), começou uma série de
saques que totalizaram R$ 1 milhão em 28 dias. De 49 pepistas, só
três votaram contra a reforma.
Outros saques chamam a atenção. O deputado José Borba
(PMDB-PR), então vice-líder do
partido na Câmara, sacou R$ 500
mil em duas parcelas: um dia antes da votação no primeiro turno
e um dia depois da aprovação em
segundo turno, no dia 25.
Dos 77 peemedebistas, apenas
três não apoiaram o governo.
Pelo PTB, houve saques um dia
depois da votação de cada turno.
Jairo dos Santos, ligado ao então
presidente do PTB, José Carlos
Martinez, morto em outubro de
2003, sacou R$ 200 mil no dia 18,
R$ 100 mil no dia 25 e R$ 300 mil
no dia 29: total de R$ 600 mil.
No partido, 46 deputados de 50
presentes apoiaram a reforma.
No PL, nenhum dos deputados
votou contra: os saques atribuídos a membros da legenda foram
de R$ 750 mil naquele mês.
As medidas aprovadas na reforma tributária mantiveram os
"pontos-chave" para o governo,
que conseguiu prorrogar até 2007
a cobrança da CPMF, que rende
cerca de R$ 24 bilhões por ano, e a
DRU (Desvinculação das Receitas
da União), mecanismo que permite ao governo aplicar com mais
liberdade 20% das receitas dos
principais tributos. Ambas eram
tidas como impopulares, mas importantes para o ajuste fiscal.
Previdência
A votação e aprovação da reforma da Previdência, em 17 e 27 de
agosto daquele ano, coincide com
saques de R$ 2,58 milhões das
contas de Marcos Valério.
Desse valor, R$ 2,53 milhões foram retirados pelo ex-tesoureiro
do PL Jacinto Lamas. Todos os
deputados do partido, que é aliado de primeira hora do governo,
votaram a favor da reforma. O governo venceu por 357 votos a 123,
49 a mais do que o necessário.
A reforma previdenciária estabeleceu a contribuição de servidores inativos e pensionistas (aumento de arrecadação estimado
em R$ 1 bilhão por ano) e tornou
mais duras as regras para a aposentadoria do funcionalismo.
Em 2004, os maiores saques
mensais foram em agosto (R$
5.532.600) e julho (R$ 5.056.940).
O período coincide com o início
da campanha eleitoral e com a
justificativa mais ouvida pelos beneficiados dos saques -de que o
dinheiro foi usado para saldar dívidas ou gastos de campanha.
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