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Com Sarney blindado, PMDB e oposição se atacam no Senado
Bate-boca de mais de três horas teve ápice com troca de ofensas entre Tasso e Renan
PMDB cumpre ameaça e faz representação contra líder tucano no Conselho de Ética, que deve engavetar outras
7 acusações contra Sarney
Fotos Alan Marques/Folha Imagem
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Renan Calheiros (de costas) bate boca com
Tasso Jereissati
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com José Sarney (PMDB-AP) blindado no Conselho de
Ética, a tropa de choque do
PMDB partiu ontem para cima
da oposição em plenário, o que
resultou no dia mais tenso da
crise política até agora.
Por mais de três horas, um
bate-boca envolvendo senadores de vários partidos incluiu
acusações irônicas, ofensas,
xingamento e a promessa de
mais um processo por quebra
de decoro parlamentar.
Hoje, o grupo pró-Sarney dará novo passo para salvar o presidente do Senado, arquivando
mais sete processos contra ele
no Conselho de Ética. Os pareceres para isso estão prontos.
Anteontem, o conselho engavetou quatro denúncias. Ao mesmo tempo, para tentar acuar a
oposição, a tropa do peemedebista encomendou parecer favorável à abertura de processo
por quebra de decoro parlamentar contra o líder do PSDB,
senador Arthur Virgílio (AM).
A justificativa será que as denúncias contra Sarney são baseadas em reportagens de jornal, enquanto Virgílio é "réu
confesso". O tucano admitiu
em plenário que manteve por
mais de um ano funcionário
fantasma no seu gabinete.
O ápice da tensão ontem foi
um bate-boca entre o líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL),
e o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE), ambos muito nervosos. No momento, Sarney
presidia a sessão.
"Senador Renan, não aponte
esse dedo sujo para cima de
mim. Estou cansado das suas
ameaças", disse Tasso, após
discurso do peemedebista em
que ele atacou Virgílio.
"O dedo sujo, infelizmente, é
o de V. Exa. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou",
respondeu Renan, referindo-se
ao fretamento de jatos pelo tucano, utilizando sua cota de
passagens aéreas, conforme revelou a Folha em abril.
"Pelo menos era com o meu
dinheiro. O jato é meu. Não é o
que o sr. anda, o dos seus empreiteiros", retrucou o tucano.
Fora do microfone, Renan
chamou Tasso de "seu coronel
de merda, você é um merda". O
PSDB requisitou a gravação e,
com base nela, promete entrar
com processo de quebra de decoro contra o líder do PMDB.
Pouco antes, Renan havia
usado o microfone da tribuna
por quase uma hora para ler a
representação contra Virgílio.
"O senador Arthur Virgílio
elevou às culminâncias do absurdo a prática do clientelismo,
do patrimonialismo e do tráfico de influência, exacerbando o
uso das prerrogativas parlamentares", afirmou Renan, dizendo-se "constrangido" e
"cumprindo dever de ofício".
Também foi para cima de
Cristovam Buarque (PDT-DF),
um dos articuladores da nota
de ontem pedindo a saída de
Sarney do cargo. "Ética, senador, não é retórica, é prática.
Ninguém é dono da ética. Talvez tenha alguma coisa relacionada a isso quando V. Exa. saiu
novamente candidato por Brasília e tenha [tido] apenas um
reduzido percentual da sua votação anterior." A referência foi
à pequena votação obtida por
Cristovam quando candidato a
presidente, em 2006.
Virgílio, após ouvir Renan
calado, pediu a palavra para
responder. Numa fala recheada
de ironias, e observado a poucos metros pelo peemedebista,
o líder tucano leu dezenas de
reportagens da imprensa, desde 2007, com acusações contra
Renan. "Estamos vendo que
quem precisa de psiquiatria
não sou eu", disse Virgílio.
Lembrou ainda que o líder
peemedebista foi acusado,
quando presidia o Senado, de
ter contas pagas por um lobista. "V. Exa. não tem razão para
ser mais rico do que eu. A não
ser que tenha se desvirtuado do
caminho que o vi traçar."
Na fase final da sessão, aliados de Renan classificaram os
ataques dele ao tucano como
erro de estratégia, o qual fez
voltar o clima de guerra e subir
o tom das críticas a Sarney.
Os líderes governistas haviam tentado demover Renan
da decisão. Mas ele insistiu que
era questão de reciprocidade,
já que os tucanos haviam lido a
representação contra Sarney.
A tensão chegou aos corredores da Casa. Um manifestante foi detido por chamar Sarney
de "ladrão", mas depois foi liberado.
(FÁBIO ZANINI, ANDREZA MATAIS, ADRIANO CEOLIN E VALDO CRUZ)
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