São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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Com Sarney blindado, PMDB e oposição se atacam no Senado

Bate-boca de mais de três horas teve ápice com troca de ofensas entre Tasso e Renan

PMDB cumpre ameaça e faz representação contra líder tucano no Conselho de Ética, que deve engavetar outras 7 acusações contra Sarney


Fotos Alan Marques/Folha Imagem
Renan Calheiros (de costas) bate boca com
Tasso Jereissati


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com José Sarney (PMDB-AP) blindado no Conselho de Ética, a tropa de choque do PMDB partiu ontem para cima da oposição em plenário, o que resultou no dia mais tenso da crise política até agora.
Por mais de três horas, um bate-boca envolvendo senadores de vários partidos incluiu acusações irônicas, ofensas, xingamento e a promessa de mais um processo por quebra de decoro parlamentar.
Hoje, o grupo pró-Sarney dará novo passo para salvar o presidente do Senado, arquivando mais sete processos contra ele no Conselho de Ética. Os pareceres para isso estão prontos. Anteontem, o conselho engavetou quatro denúncias. Ao mesmo tempo, para tentar acuar a oposição, a tropa do peemedebista encomendou parecer favorável à abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).
A justificativa será que as denúncias contra Sarney são baseadas em reportagens de jornal, enquanto Virgílio é "réu confesso". O tucano admitiu em plenário que manteve por mais de um ano funcionário fantasma no seu gabinete.
O ápice da tensão ontem foi um bate-boca entre o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), ambos muito nervosos. No momento, Sarney presidia a sessão.
"Senador Renan, não aponte esse dedo sujo para cima de mim. Estou cansado das suas ameaças", disse Tasso, após discurso do peemedebista em que ele atacou Virgílio.
"O dedo sujo, infelizmente, é o de V. Exa. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou", respondeu Renan, referindo-se ao fretamento de jatos pelo tucano, utilizando sua cota de passagens aéreas, conforme revelou a Folha em abril.
"Pelo menos era com o meu dinheiro. O jato é meu. Não é o que o sr. anda, o dos seus empreiteiros", retrucou o tucano.
Fora do microfone, Renan chamou Tasso de "seu coronel de merda, você é um merda". O PSDB requisitou a gravação e, com base nela, promete entrar com processo de quebra de decoro contra o líder do PMDB.
Pouco antes, Renan havia usado o microfone da tribuna por quase uma hora para ler a representação contra Virgílio.
"O senador Arthur Virgílio elevou às culminâncias do absurdo a prática do clientelismo, do patrimonialismo e do tráfico de influência, exacerbando o uso das prerrogativas parlamentares", afirmou Renan, dizendo-se "constrangido" e "cumprindo dever de ofício".
Também foi para cima de Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos articuladores da nota de ontem pedindo a saída de Sarney do cargo. "Ética, senador, não é retórica, é prática. Ninguém é dono da ética. Talvez tenha alguma coisa relacionada a isso quando V. Exa. saiu novamente candidato por Brasília e tenha [tido] apenas um reduzido percentual da sua votação anterior." A referência foi à pequena votação obtida por Cristovam quando candidato a presidente, em 2006.
Virgílio, após ouvir Renan calado, pediu a palavra para responder. Numa fala recheada de ironias, e observado a poucos metros pelo peemedebista, o líder tucano leu dezenas de reportagens da imprensa, desde 2007, com acusações contra Renan. "Estamos vendo que quem precisa de psiquiatria não sou eu", disse Virgílio.
Lembrou ainda que o líder peemedebista foi acusado, quando presidia o Senado, de ter contas pagas por um lobista. "V. Exa. não tem razão para ser mais rico do que eu. A não ser que tenha se desvirtuado do caminho que o vi traçar."
Na fase final da sessão, aliados de Renan classificaram os ataques dele ao tucano como erro de estratégia, o qual fez voltar o clima de guerra e subir o tom das críticas a Sarney.
Os líderes governistas haviam tentado demover Renan da decisão. Mas ele insistiu que era questão de reciprocidade, já que os tucanos haviam lido a representação contra Sarney.
A tensão chegou aos corredores da Casa. Um manifestante foi detido por chamar Sarney de "ladrão", mas depois foi liberado. (FÁBIO ZANINI, ANDREZA MATAIS, ADRIANO CEOLIN E VALDO CRUZ)

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